domingo 06 2012

Só na amizade: favores e dinheiro alimentam relação entre Carlos Alberto Leréia e Carlinhos Cachoeira

Corrupção

Entenda como o deputado colaborava para o funcionamento do esquema do contraventor. Leréia corre o risco de perder a filiação partidária e o mandato

Carolina Freitas e Cida Alves
O contraventor Carlinhos Cachoeira e o deputado federal Carlos Alberto Leréia O contraventor Carlinhos Cachoeira e o deputado federal Carlos Alberto Leréia: muy amigos (Folhapress e AE)
O deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) admite sem qualquer pudor sua amizade com o contraventor Carlinhos Cachoeira, pivô do escândalo do momento em Brasília. Leréia fez questão de subir à tribuna da Câmara dos Deputados, na última quinta-feira, para parabenizar o bicheiro por seu aniversário de 49 anos. Cachoeira foi preso em fevereiro durante a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal (PF), que desmontou a rede de exploração de jogos ilegais comandada pelo contraventor. O envio de felicitações na fala de Leréia tem explicação: o deputado quer reforçar a tese de que ele e o bicheiro são nada mais do que bons “amigos pessoais”.
Para além do pleonasmo, o argumento não se sustenta. Será difícil Leréia manter esse discurso por muito tempo. Escutas da PF feitas com autorização judicial durante a Monte Carlo mostram que Leréia trabalhava norteado pelos interesses da quadrilha de Cachoeira e usava seu prestígio e seu cargo para prestar favores e serviços ao contraventor. A PF flagrou 72 contatos telefônicos entre Cachoeira e Leréia, muitos feitos por meio de radiocomunicadores habilitados nos Estados Unidos e distribuídos a pessoas da estrita confiança do bicheiro. O nome do deputado é citado em outras 26 ligações entre integrantes da quadrilha.
A conduta do deputado está sendo analisada pelo Conselho de Ética da Câmara e é alvo de um inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF). A filiação de Leréia no PSDB também está a perigo. Caciques tucanos pressionam para que ele se licencie do partido até o fim das investigações, mas o deputado resiste. A direção do partido deve bater o martelo na próxima terça-feira.
As atitudes de Leréia se enquadram nos crimes de tráfico de influência e exploração de prestígio, apontados pela Polícia Federal na conclusão do relatório. O comportamento contraria ainda dois requisitos do Código de Ética e Decoro da Câmara, o que pode implicar em perda de mandato. São eles: abusar das prerrogativas constitucionais asseguradas aos integrantes do Congresso – como fez quando usou sua influência para conseguir um visto de viagem para a sogra de Cachoeira – e receber vantagens indevidas em proveito próprio ou de outra pessoa.
As conversas interceptadas revelam que Cachoeira pagou pelo menos 65 000 reais a Leréia ao longo de seis meses no ano passado. Há menção ainda a um cheque de 206 000 reais e a um empréstimo de 400 000 reais para o deputado. Assim, a cifra repassada a Leréia pela quadrilha de Cachoeira ultrapassaria os 600 000 reais. Trata-se, sem dúvidas, de uma amizade valiosa.

Ação entre amigos

Entenda como o deputado Carlos Alberto Leréia colaborava para o funcionamento do esquema de Carlinhos Cachoeira. Leréia corre o risco de perder a filiação partidária e o mandato.
Dinheiro na mão: 600 000 reais para Leréia As conversas interceptadas revelam que Cachoeira pagou pelo menos 65 000 reais a Leréia ao longo de seis meses no ano passado. Uma quantia de 20 000 reais foi providenciada por Gleyb Ferreira da Cruz, encarregado da movimentação financeira do bicheiro, e entregue a Cachoeira na porta do restaurante Piquiras, em Goiânia, onde o deputado e o contraventor almoçavam em 1º de agosto de 2011. Além disso, a investigação menciona dois cheques da quadrilha endereçados ao deputado, um deles no valor de 206 000 reais, e um empréstimo de 400 000 reais concedido pelo bicheiro a Leréia.
Em um dos diálogos interceptados pela PF com autorização judicial, Geovani, tesoureiro de Cachoeira, diz que vai mandar os 20 000 de Leréia por Gleyb. Cachoeira diz que é para Gleyb colocar o dinheiro em um saco ou enrolado no jornal. Gleyb responde: está dentro de um envelope quadrado. O contraventor diz, então, que está bom e pede para ele entregar o pacote do lado de fora do Piquiras, onde está almoçando com Leréia.
Por quê? A Polícia Federal não identifica a título de que os valores foram repassados ao deputado. Como o foco da Operação Monte Carlo era investigar a rede de exploração de jogo ilegal pelo grupo de Cachoeira, a PF não aprofundou a investigação sobre outras irregularidades que vieram à tona nas escutas, como a atuação de Leréia, mas encaminhou os indícios ao STF.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/so-na-amizade-favores-e-dinheiro-alimentam-relacao-entre-lereia-e-cachoeira 

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