quarta-feira 02 2012

CPI recebe inquéritos sobre Cachoeira

Congresso

Embora já tenha sido divulgado na internet, material será mantido em sigilo pelo presidente da comissão. Plano de trabalho será apresentado nesta quarta; data para ouvir Cachoeira divide governo e oposição

Gabriel Castro
Vital do Rêgo, presidente da CPI: técnicos estudam mecanismos para evitar 'constrangimento' com possíveis vazamentos Vital do Rêgo: técnicos estudam mecanismos para evitar 'constrangimento' com possíveis vazamentos (Moreira Mariz/Agência Senado )
A CPI do Cachoeira recebeu nesta quarta-feira a cópia dos inquéritos do Supremo Tribunal Federal (STF) que investigam a atuação da quadrilha do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O material é resultado de duas operações da Polícia Federal: Vegas e Monte Carlo, que desmontaram a quadrilha de Cachoeira. Os documentos foram encaminhados apenas em mídia eletrônica, por opção do Congresso. O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB), e o relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), guardaram o material em uma sala-cofre logo após o recebimento. Ao todo, são nove volumes: um para cada inquérito e mais sete anexos.
O senador Vital do Rêgo disse que o material recebido será conferido com aquele que já vazou na internet. Segundo ele, mesmo aquilo que foi divulgado será mantido sob um rigoroso sigilo, com o apoio do setor de tecnologia do Senado. "O Prodasen [Secretaria Especial de Informática do Senado] e toda uma equipe de profissionais de tecnologia está estudando mecanismos para evitar que nós sejamos constrangidos com algum tipo de vazamento", afirmou o peemedebista.
Os documentos serão também compartilhados com o Conselho de Ética do Senado e a Comissão de Sindicância da Câmara, que analisam processos por quebra de decoro contra parlamentares ligados ao grupo de Cachoeira.
Nesta quarta-feira, o relator Odair Cunha deve apresentar à CPI seu plano de trabalho. A partir daí, a comissão deve iniciar efetivamente as investigações. Um dos principais pontos de discordância diz respeito à data em que os parlamentares irão ouvir o depoimento de Carlinhos Cachoeira. A oposição exige que o contraventor seja ouvido já no início dos trabalhos. Boa parte dos governistas alega que é preciso reunir primeiro outras informações sobre o esquema.


Reunião - Os trabalhos da comissão começam oficialmente nesta quarta. A primeira reunião de trabalho está marcada para ter início às 14 horas. Por trás da apuração dos tentáculos do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e de seu envolvimento com políticos proeminentes e agentes públicos está o embate entre governo e oposição – ambos com integrantes, de alguma maneira, sob suspeita de envolvimento com o bicheiro.
Enquanto o governo quer ouvir o senador goiano Demóstenes Torres (sem partido), a oposição espera convocar os governadores do Rio de Janeiro e Distrito Federal, Sérgio Cabral (PMDB) e Agnelo Queiroz (PT).
O PT articula para envolver o maior número de nomes oposicionistas possível. Para isso, defende a convocação do governador de Goiás, o tucano Marconi Perilo, sob o argumento de que as gravações feitas pela PF revelaram as ligações dele com Cachoeira.
Braço da máfia - A construtora Delta, empreiteira com maior número de obras no PAC, também estará no centro das investigações. Na semana passada, Fernando Cavendish se afastou do comando da empresa. O ex-diretor da Delta para o Centro-Oeste, Cláudio Abreu, foi preso em Goiânia na semana passada. Segundo a polícia, ele era incumbido de tocar o braço da máfia de Cachoeira que se especializara em fazer contratos com governo. Abreu aparece em diálogos-chave do caso. Consta de uma conversa sua com Cachoeira a referência a um depósito de 1 milhão de reais para Demóstenes Torres (ex-DEM-GO). Foi com base nesse grampo que a Procuradoria-Geral da República (PGR)  pediu a quebra do sigilo bancário do senador.
É também Cláudio Abreu quem telefona a Cachoeira para dizer que iria "amarrar os bigodes" com os dois mais poderosos secretários do governador petista Agnelo Queiroz, Paulo Tadeu e Rafael Barbosa, em encontro em Brasília. "Marca uma p... com eles amanhã aqui em Goiânia. Aí eu chamo as meninas", devolve Cachoeira. Em outra gravação, Abreu discute com o araponga Dadá o pagamento de propina em troca da nomeação de um aliado da quadrilha no governo do DF. "Vamos dar R$ 20 mil pra ele e R$ 5 mil por mês, pronto! Nós vamos dar R$ 20 mil pra ele agora e R$ 5 mil por mês, entendeu?", diz Abreu.
Cláudio Abreu foi afastado da Delta em março, logo após a polícia deflagrar a Operação Monte Carlo.

Conselho de Ética – Além da CPI, o Conselho de Ética do Senado investiga se houve quebra de decoro parlamentar por parte de Demóstenes Torres na relação com o contraventor. Já a Comissão de Sindicância da Câmara dos Deputados irá ouvir dois deputados, Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) e Sandes Júnior (PP-GO), para apurar possíveis irregularidades nas relações deles com Cachoeira.
A presidente Dilma Rousseff tem ressaltado que a CPI é um assunto do Legislativo. Dificilmente, no entanto, o tema ficará de fora da reunião do Conselho Político do governo, a segunda deste ano, que ocorre nesta quarta, no Palácio do Planalto.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/cpi-recebe-inqueritos-sobre-cachoeira 

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