Distrito Federal
Um deles confirma reunião e outro nega. Contraventor mandou intermediário convidar dupla para uma orgia em Goiânia. Ouça a gravação
Rodrigo Rangel e Gabriel Castro
Paulo Tadeu, deputado federal licenciado e titular da Secretaria de Governo, e Rafael Barbosa, velho amigo do governador e atual secretário de Saúde do Distrito Federal, jantaram em 7 de abril do ano passado com Cláudio Abreu, parceiro de primeira hora de Carlinhos Cachoeira que tinha como incumbência tocar os contratos da máfia com o poder público, especialmente nos setores de obras e limpeza urbana. O jantar foi num restaurante japonês de Brasília. Enquanto esperava os dois secretários, Cláudio Abreu telefona para Cachoeira e diz que a conversa serviria para “amarrar os bigodes”. “Estou aqui no restaurante esperando o Rafael e o Paulo Tadeu", diz. "Os dois vêm cá para amarrar os bigodes comigo. Vamos ver como é que vai ser”. Ele não entra em detalhes acerca do que se seria tratado.
Cachoeira demonstra estar informado sobre a reunião e sugere que Cláudio Abreu – que formalmente se apresentava como diretor da empreiteira Delta Construções, empresa que a investigação aponta como integrante do esquema – convide os dois secretários para uma orgia em Goiânia: “Marca uma p... com eles amanhã aqui em Goiânia. Aí eu chamo as meninas”. Cláudio Abreu, então, propõe que o encontro seja marcado para a semana seguinte: “Não, vamos fazer semana que vem”.
Cerca de duas horas depois, Cláudio Abreu interrompe o jantar para pedir um número de telefone a Cachoeira. O contraventor aproveita para saber com estava indo a conversa. Ouve como resposta a notícia de que Paulo Tadeu e Rafael Barbosa desejavam “se enturmar” com o próprio Carlinhos Cachoeira. Em relatório, a Polícia Federal descreve assim o diálogo: "Carlinhos pergunta se está boa a conversa com o amigo e Cláudio diz que tá bom para c... e querem (Paulo Tadeu e Rafael) se enturmar com Carlinhos".
Paulo Tadeu e Rafael Barbosa têm, por razões diferentes, posições de destaque na cadeia de comando do governo Agnelo. O primeiro é tido como principal representante do PT brasiliense na equipe do governador, recém-convertido ao partido. Por isso, é apontado como o secretário mais influente do governo, com poderes para decidir sobre cargos e contratos. Já Rafael Barbosa é homem da estrita confiança de Agnelo, de quem é amigo de longa data. Médico sanitarista, Barbosa acompanhou Agnelo em todos os últimos cargos públicos que o governador ocupou. Ele também foi um dos encarregados de arrecadar fundos para a campanha de Agnelo.
Resposta - Paulo Tadeu admite o encontro. Diz que a reunião tratou do contrato da coleta de lixo que a Delta mantém com o governo local. "A Delta entrou no sistema da coleta de lixo por fruto de uma liminar. Na época, havia uma boataria de que o governo poderia tirar a Delta para que outra empresa pudesse entrar no sistema de coleta de lixo. O que eu disse a ele é que o governo iria cumprir a decisão judicial, fosse ela qual fosse". O secretário afirma ainda que, em outras gravações reveladas pela imprensa, o grupo reclama dele, o que provaria que os interesses da máfia não foram atendidos.
O petista também garante que nunca esteve com Carlinhos Cachoeira e que não se lembra de ter recebido de Cláudio Abreu algum convite para conhecer o contraventor. Paulo Tadeu alega desconhecer a relação entre os empresários. "Eu não sou policial para ficar sabendo as relações que o dirigente da Delta tem".
O secretário diz que, durante a reunião, tratou apenas de assuntos republicanos. E não vê problema em fazer uma reunião do tipo fora do gabinete e depois do expediente: "Não vejo que há imoralidade, desde que não se misture o interesse público com o privado", justifica.
Já o secretário Rafael Barbosa alegou, via assessoria de imprensa, que nunca esteve com Cláudio Abreu nem com Carlinhos Cachoeira e atribuiu as informações a uma tentativa orquestrada de prejudicá-lo. As versões dois secretários de Agnelo se chocam. O próprio Paulo Tadeu, em entrevista a VEJA, desmentiu Rafael Barbosa e confirmou que o colega estava, sim, no jantar: "O Rafael é quem conhecia o Cláudio e disse que ele o procurou para que nós fizéssemos a reunião".
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/principais-secretarios-de-agnelo-se-reuniram-com-homem-forte-de-cachoeira
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