Contas públicas
Apenas no Ministério dos Transportes a queda chega a 51% na comparação com o mesmo período de 2011
Ana Clara Costa
A queda se deve, em grande parte, ao Ministério dos Transportes. Em 2011, a pasta desembolsou 2,9 bilhões de reais em investimentos no primeiro trimestre. Este ano, o valor recuou 50,8%, para 1,4 bilhão de reais. Não fosse isso, os números do trimestre teriam ao menos permanecido estáveis em relação ao ano anterior, em dados sazonalizados. "Trata-se de um problema de gestão e não de contenção do Tesouro. O Dnit está paralisado e está muito difícil destravá-lo", avalia o especialista em Contas Públicas Raul Velloso, fazendo referência ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Em 2011, o órgão foi alvo de "faxina" da presidente Dilma, depois que VEJA revelou a existência de um amplo esquema de corrupção na pasta, resultando em mais de 20 demissões e no afastamento do então ministro Alfredo Nascimento.
"Pequena redução" - Procurado pelo site de VEJA, o ministério afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o desempenho do primeiro trimestre de 2012 teve uma "pequena redução em função do período de chuva nas regiões Centro-Oeste e Norte, e também devido às obras da região Nordeste, que estão em fase de conclusão". O comunicado ainda informa que, no primeiro trimestre de 2011, os gastos com investimentos estavam mais altos do que o normal devido aos restos a pagar deixados pela gestão anterior, e que somavam 1,2 bilhão de reais.
A "pequena redução" à qual o ministério se refere é da ordem de 1,4 bilhão de reais - que é equivalente a todo o valor investido pelo Ministério da Educação no primeiro trimestre do ano passado e um pouco abaixo do que foi desembolsado até março deste ano pela mesma pasta. De janeiro a março de 2011, o Ministério dos Transportes foi responsável por 35,6% dos desembolsos da União com investimentos.
Efeito cascata - Ainda de acordo com os números do OGU, o total direcionado a investimentos no primeiro trimestre é o mais baixo dos últimos três anos para o período, em valores corrigidos pela inflação. Nos três primeiros meses de 2010 foram 9,4 bilhões de reais, que decresceram progressivamente nos dois anos seguintes - o que pode resultar em um efeito cascata de reduções nocivo para os aportes em infraestrutura que país necessita. "Se o governo diz que vai investir mais e não investe, o empresariado também mantém cautela em seus investimentos, o que prejudica ainda mais situação do país", afirma o diretor do Contas Abertas, Gil Castello Branco.
A única ponderação que tira uma parte do peso do fracasso do Estado é o fato de o montante verificado pelo Contas Abertas não considerar os investimentos das estatais, englobando apenas gastos diretos do governo, fundações, autarquias e órgãos autônomos. Ainda de acordo com a ONG, apenas no primeiro bimestre deste ano os investimentos das estatais avançaram 1,4 bilhão de reais em números sazonalizados. Em dois meses, as empresas executaram 12,4 bilhões de reais.
Porcentual desprezível - Grandes investidoras ou não, as estatais tampouco devem carregar nas costas o peso do que deve ser investido para melhorar a infraestrutura no país. Os 7,01 bilhões de reais desembolsados no trimestre representam apenas 1,2% dos 578,7 bilhões de reais gastos pela União no período. Trata-se do menor porcentual entre os seis grupos de despesa discriminados no OGU. Enquanto a rubrica Pessoal e Encargos Sociais representou 8,2% dos gastos, Juros e Encargos da Dívida contabilizaram 8,1%. Já o grupo Inversões Financeiras, que qualifica aplicações do governo em ativos como terras, imóveis e outros bens, representou 1,6% dos gastos.
Mas os grandes destinos da gastança continuam sendo os mesmos de sempre: a amortização e refinanciamento da dívida, e os gastos com a máquina pública (verificados na rubrica Outras Despesas Correntes). Ambos representam, respectivamente, 50,8% e 30,1% dos gastos do governo no trimestre. Ambos os tipos de gasto também foram os que mais cresceram na comparação anual: 49,7% e 15,4%, respectivamente. "Os investimentos são despesas quase desprezíveis na comparação com outros tipos de gasto. E continuam sendo desprezíveis em um período em que o governo enfatiza que está investindo", aponta Castello Branco.
http://veja.abril.com.br/noticia/economia/investimento-publico-cai-16-no-primeiro-trimestre
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