quinta-feira 20 2015

Janot dá de presente ao PT a denúncia contra Cunha no dia da marcha a favor do governo


Já faz algum tempo que todos temos a certeza de que Rodrigo Janot iria apresentar a denúncia contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. E também já faz tempo que o PT e as esquerdas marcaram para o dia 20 a marcha em defesa do governo e “contra o golpe”.
Pois bem: todos sabem que a denúncia contra o deputado estava, quando menos, pronta desde ontem. Tanto é que seu conteúdo vazou. Intuo, aliás, que Janot a tinha na cabeça há muito mais tempo.
Ninguém é ingênuo nessa história — e o procurador-geral é o menos ingênuo de todos. Retardasse em um dia a sua decisão, ou a antecipasse em um, já que estava tomada havia muito, e a denúncia contra o inimigo jurado do PT e de Dilma não viria à luz ao mesmo tempo em que os “companheiros” tomam as ruas com seu pequeno exército.
Ora vejam: é claro que, para Dilma, é, como posso escrever?, um prazer ver os vermelhos na rua em sua defesa, no mesmo dia em que se vende ao país a falsa verdade de que Cunha é a grande estrela do petrolão.
ATENÇÃO! ELE PODE SER CULPADO DE TUDO O QUE ESTÁ NA DENÚNCIA, E NÃO SERÁ, NEM ASSIM, A PERSONAGEM PRINCIPAL DO PETROLÃO.
Os burros e dos de má-fé, e essas coisas não se excluem, confundem ou tentam confundir essa observação com a defesa de Cunha? Eu? Não mesmo! Ele tem bons advogados para isso. Cumpro a minha obrigação ao apontar que Janot não procurou evitar a coincidência. Isso é fato. Na verdade, acho que ele a procurou — e isso é uma conjectura ancorada da lógica. Ou ele não lê o noticiário?
Há um óbvio roteiro político nessa sequência, que começou a ser escrito quando se decidiu transformar duas figuras do PMDB em peças-chaves do petrolão, como se fossem suas figuras de maior expressão: a outra é Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado. Mas esse ganhou uma folga, não é?, depois que se transformou num neoconvertido entusiasmado.
Cunha já seria tema dos protestos a favor do governo, ainda que não estivesse sendo investigado. Afinal, andou aplicando derrotas ao petismo — algumas delas de caráter verdadeiramente salvador, como a aprovação do que se chamou toscamente de PEC da Bengala (deixo para outro post).
Entregar uma pauta como a denúncia contra Cunha no dia da passeata do PT é daquelas decisões que poderiam ser consideradas quase obra de militância.
Ah, sim: se Cunha está sendo satanizado pelos petistas na rua, os valentes, no entanto, não dizem uma vírgula sobre Collor. Afinal de contas, este, sim, tem sido um fiel aliado do governo e óbvio adversário da Lava-Jato. E, por óbvio, o arremate do cálculo do procurador-geral, já disse aqui, está em associar, ainda que em casos, distintos, Cunha e o odiado Fernando Collor — este, também, um ferrenho crítico de Janot.
O procurador-geral, obviamente, soube jogar muito bem com o calendário.
“Ah, está dizendo que Cunha é inocente?” Só um quadrúpede leria isso aqui. Estou dizendo que houve uma gestão política da denúncia, mesmo que ela diga a mais pura verdade. O fato de uma denúncia, qualquer uma, só trazer fatos não exclui a manipulação.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/janot-da-de-presente-ao-pt-a-denuncia-contra-cunha-no-dia-da-marcha-a-favor-do-governo/

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