quinta-feira 05 2014

Uma lei com a idade mental do “Xou da Xuxa” e a idade moral do stalinismo ou do fascismo

Um lixo autoritário, apelidado de “Lei da Palmada”, foi aprovado nesta quarta no Senado, em votação simbólica, e seguirá agora para a sanção certa da presidente Dilma Rousseff. A madrinha do texto, que estava lá deitando seu proselitismo inteligente, é a apresentadora Xuxa. A gente sabe que ela ama as criancinhas. Bem, não sou político, né? Não dependo de voto nem preciso ficar bem com celebridades. Só tenho o compromisso de escrever aqui o que eu penso.
O Estatuto da Criança e do Adolescente já diz no nome as categorias que protege. Também há o Código Penal, que pode dar conta da conduta indevida dos pais ou dos responsáveis pela criança. Esse texto (íntegra aqui) só recebeu o apelido de “Lei da Palmada” porque, com efeito, um pai pode, sim, ser punido por dar um tapa do traseiro de seu filho. Trata-se de um notável mimo do autoritarismo, abraçado com entusiasmada ignorância por amplos setores da imprensa. Vamos ver o que a nova lei acrescenta ao Estatuto da Criança e do Adolescente:
Lei da Palmada
Como se nota, não se define aí o que é “castigo físico” ou “tratamento cruel ou degradante”, certo? Então é preciso cuidar disso. E a Lei então especifica:
Lei da Palmada 2
Ora, leitor amigo: um tapa na bunda “humilha” ou “ridiculariza” a criança? Quem vai definir isso? O que significa exatamente “humilhar”? Ou o que quer dizer, com precisão, “ridicularizar”? Ninguém sabe. Qualquer mãe, qualquer pai, qualquer pessoa encarregada da educação de uma criança estarão à mercê do juízo subjetivo do Conselho Tutelar ou de quem fizer a denúncia.
E se a denúncia for considerada procedente? Bem, aí entra o “estado soviético” para reeducar o cidadão. Vejam o que pode acontecer (sem prejuízo, claro!, de outras punições):
Lei da Palmada 3
A coisa para por aí? Não! A nova lei institui um verdadeiro regime persecutório. Vejam o Artigo 245. Se uma pessoa que exerce função pública deixar de comunicar às autoridades casos de que tenha conhecimento, poderá ser punida com multa de até 20 salários mínimos — ou o dobro se for considerado reincidente.
Lei da Palmada 4
Há algum funcionário público morando no seu prédio, leitor amigo? Se o seu moleque lhe der um chute na canela ou jogar pela janela o gatinho de estimação da irmã mais nova, não ouse dar um tapa da bunda dele. Limite-se a dizer: “O papai te ama. E a Xuxa também”.
Só para registro: nunca encostei um dedo nas minhas filhas. Oponho-me a qualquer forma de castigo físico, embora tenha levado, sim, alguns safanões da minha mãe — alguns deles, vejo hoje, até que merecidos. Não me fizeram mal nenhum. Não sou fumante, por exemplo, por falta de algumas chineladas no traseiro quando ela descobria os cigarros escondidos. Queriam o quê? Que ela me viesse com um tratado contra o câncer? As leis que temos são suficientes para punir pais violentos, sem que o estado se meta dessa forma estúpida nas famílias. A questão é de educação, ora bolas! Até porque cabe uma pergunta óbvia: se a proposta é que os pais eduquem seus filhos, ao invés de puni-los, por que o pai-estado opta por punir os adultos, em vez de educá-los? O estado recorre, assim, à palmada para punir a palmada???
Essa lei tem a idade mental do “Xou da Xuxa” e a idade moral do stalinismo e do fascismo.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/uma-lei-com-a-idade-mental-do-xou-da-xuxa-e-a-idade-moral-do-stalinismo-ou-do-fascismo/

Estilo de vida pode afetar a memória, mesmo entre jovens

Doenças neurodegenerativas

Em estudo, fatores associados à demência, como sedentarismo e hipertensão, prejudicaram a memória em todas as idades a partir dos 18 anos

Como melhorar sua memória
Segundo autor da pesquisa, queixas precoces de falta de memória indicam perdas mais significativas no futuro(iStockphoto)
Uma pesquisa feita pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos Estados Unidos, revelou que alguns fatores relacionados ao estilo de vida e à saúde afetam a memória, mesmo entre jovens adultos. A descoberta, publicada nesta quarta-feira no periódico Plos One, pode ajudar cientistas a estudar como o estilo de vida impacta a memória na velhice.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Modifiable Risk Factors for Alzheimer Disease and Subjective Memory Impairment across Age Groups 

Onde foi divulgada: periódico Plos One

Quem fez: Stephen T. Chen, Prabha Siddarth, Linda M. Ercoli, David A. Merrill, Fernando Torres-Gil e Gary W. Small
Instituição: Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos Estados Unidos

Resultado: Depressão, baixa escolaridade, sedentarismo, hipertensão, obesidade e tabagismo, fatores associados ao Alzheimer e à demência, podem afetar a memória, mesmo entre jovens adultos
Pesquisadores fizeram a 18.552 pessoas, de 18 a 99 anos, perguntas sobre sua memória e aspectos previamente associados ao risco de Alzheimer e demência — depressão, baixa escolaridade, sedentarismo, hipertensão, obesidade e tabagismo. Eles detectaram que esses fatores aumentavam queixas sobre memória em todas as faixas etárias.

"Nós identificamos, pela primeira vez, que os fatores de risco podem ser indicativos de queixas precoces de memória, normalmente precursoras de perdas mais significativas no futuro", diz o líder do estudo, Gary Small, diretor do Centro de Longevidade da UCLA.
Na média, 20% dos entrevistados reportaram falhas na memória, incluindo 14% dos adultos de 18 a 39 anos, 22% daqueles com 40 a 59 anos e 26% dos idosos de 60 a 99 anos. A depressão foi o principal elemento relacionado às reclamações sobre memória, em todas as idades. Outros fatores, mesmo isolados, também elevaram as queixas. A memória piorava quanto mais fatores presentes.

Os pesquisadores observaram que, para os mais jovens, o stress e a tecnologia — normalmente associada à realização de múltiplas tarefas — podem atrapalhar a concentração e fazer com que seja mais difícil se lembrar das coisas.
"Esperamos que nossas descobertas aumentem a atenção de pesquisadores, promotores de saúde e do público em geral sobre a importância de reduzir os fatores de risco em qualquer idade, como identificar e tratar a depressão e a hipertensão, exercitar-se mais e investir em educação", afirma Stephen Chen, coautor do estudo e professor do Instituto Semel para Neurociência e Comportamento Humano da UCLA.

Cirurgia que pode recuperar movimentos em paraplégicos chega ao Brasil

Neurociência

O procedimento, realizado anteriormente apenas na Suíça, Áustria, Alemanha e França, foi aplicado com sucesso em quatro brasileiros

Juliana Santos
Francisco Moreira, de 25 anos, ganhou mobilidade em pernas, braços e pés
Francisco Moreira, de 25 anos, ganhou mobilidade em pernas, braços e pés (Reprodução)
Uma nova opção para tratamento de lesões medulares chega ao Brasil. Médicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Hospital São Paulo (HSP) divulgaram nesta quarta-feira uma técnica que combina conhecimentos da ginecologia e da neurologia para ajudar pacientes paraplégicos e tetraplégicos a recuperar movimentos e funções corporais, como o controle da bexiga. Chamado Implante Laparoscópico de Neuroestimulador (Lion, na sigla em inglês), o método havia sido realizado apenas em quatro países (Suíça, Áustria, Alemanha e França) e foi testado em quatro brasileiros.
A neuroestimulação é um método conhecido por ajudar pacientes a recuperar movimentos, por meio de eletrodos implantados em sua medula. Desta vez, os cientistas colocaram os eletrodos nos nervos femorais (que controlam o músculo da coxa), ciáticos (pés e quadril) e pudendo (responsável pelo controle da urina e das fezes). Para atingir esses nervos, localizados em uma região mais interna do abdômen, foi feita uma laparoscopia, cirurgia minimamente invasiva muito utilizada na ginecologia. Além dos eletrodos, um neuroestimulador foi implantado no paciente, por baixo na pele, na região próxima ao umbigo.
Depois da operação, um controle remoto é usado para manipular a emissão de estímulos elétricos, escolher quais nervos e em qual intensidade. Além disso, o tratamento envolve um processo intenso de reabilitação motora. De acordo com a fisioterapeuta Salete Conde, são necessárias dez horas semanais de exercícios para ganho de massa muscular e coordenação. "A fisioterapia é que ajudará o paciente a reaprender os movimentos perdidos com a lesão", explica.
Caso de sucesso — O estudante de medicina Francisco Moreira, de 25 anos, sofreu uma lesão na quinta vértebra (na região do pescoço) em 2009, praticando snowboard. A lesão foi considerada de grau B, quando o paciente tem alguma sensibilidade abaixo do nível da lesão, sem função muscular. Hoje, cinco meses após a cirurgia, Francisco consegue elevar os braços acima da cabeça, ficar de pé, deslocar o quadril para a lateral e mover os pés.
Nas sessões de fisioterapia, ele caminha dentro de uma piscina e, na semana passada, deu seu primeiro passo fora d’água. Além disso, a capacidade de sua bexiga dobrou, permitindo que ele possa ficar mais tempo sem uma sonda para coletar a urina – o que foi, segundo ele, um dos maiores ganhos em qualidade de vida gerados pelo tratamento. "Eu faria a cirurgia novamente mesmo se fosse só por isso", afirma. Francisco também passou a ter mais sensibilidade na sola do pé e nas pernas.
Custos — Nucelio Lemos, ginecologista que trouxe a técnica para o Brasil e realizou a cirurgia, estima que cerca de 100 pessoas no mundo foram submetidas a esse tratamento até hoje. O procedimento é caro: custa por volta de 300.000 reais, sendo metade consumida pelo aparelho implantado. Além disso, as sessões de fisioterapia consomem aproximadamente 5.000 reais por mês, e a cada dez anos são gastos mais 100.000 reais para trocar a bateria do aparelho. Desde janeiro deste ano, o método entrou para a lista de cobertura obrigatória da Agência Nacional de Saúde Suplementar, o que significa que os planos de saúde precisam cobrir as despesas.
A técnica pode ser aplicada em paraplégicos ou tetraplégicos, com a condição de que os nervos estimulados estejam intactos. Pessoas com lesão incompleta e mais baixas, salientam os médicos, são os maiores beneficiados. Os quatro pacientes que passaram pelo procedimento no Brasil recuperaram algumas funções e até movimentos, mesmo uma pessoa acidentada onze anos antes. "Quanto menos tempo se passa entre a lesão e o implante, maior o ganho do paciente", afirma Lemos. A razão disso é que, em casos mais recentes, o estímulo elétrico provoca neuroplasticidade, a capacidade do sistema nervoso de se reeducar para realizar as funções prejudicadas pela lesão. Lemos conta que, na Suíça, onde a técnica foi criada, um dos pacientes já consegue andar por 30 metros com o aparelho de estimulação desligado. "Com o dispositivo ligado, o paciente caminha 1,5 quilômetro."

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