terça-feira 30 2013

Hitler a casa caiu !!


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Hitler e a PEC 37


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Clínica Atibaia - GloboNews



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Clínica Atibaia no Globo News

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Clínica Atibaia no Globo News - 09/01/2012


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Viver a dois, um exercício de paciência


Por Regina Racco, Tempo de Mulher
REGINA RACCO: "A única forma de conhecermos nossos desejos e os anseios de nossos parceiros passa pela real e honesta vontade de se observar e observar o outro".

Dica: conheça-se intimamente, explore-se, assim, sem pré-julgar / Thinkstock
Dica: conheça-se intimamente, explore-se, assim, sem pré-julgar / Thinkstock





















Por REGINA RACCO
A difícil arte de conviver nunca esteve tão em evidência. Livros de autoajuda, matérias, tudo é válido para tentar ajustar e deixar felizes seres tão diferentes, mas que o amor aproxima e une. Somos fantásticos e únicos. Por isso nenhuma técnica ou livro de autoajuda servirá como uma “receita de bolo”. Essa leitura, é claro, aguça nossa curiosidade e nos estimula, por isso se torna útil, mas cabe a cada um de nós descobrirmos em nosso íntimo o caminho próprio para o autoconhecimento e também conhecer melhor o nosso par.
A única forma de conhecermos nossos desejos e os anseios de nossos parceiros passa, como digo sempre, pela real e honesta vontade de se observar e observar o outro. Desenvolva a sua capacidade de se ouvir. Conheça-se intimamente, explore-se, assim, sem pré-julgar, sem achar que não vale a pena perder tempo, que se conhece o suficiente e se não está feliz o fato se deve única e exclusivamente à má vontade de seu (ou de sua) parceiro e que você, por sua parte, tudo faz pela felicidade dela ou dele e, por esse motivo, é a vítima na história. Acredite, essa não é a melhor forma de transformar nenhuma realidade que não nos é positiva.
Observe que não é fácil essa autoanálise: quantas vezes somos surpreendidos com alguma faceta absolutamente desconhecida de nosso comportamento, de nossa vontade? Se isso nos acontece, o que não se passa então na cabeça da outra pessoa?

Mas se nos reconhecermos como seres únicos e especiais e aceitarmos que convivemos com pessoas ímpares, longe de ser ruim, isso transforma nossa vida tornando-a rica e fértil. Se ficarmos atentos ao nosso redor certamente descobriremos tesouros inimagináveis, amealhados apenas pela soma de nossas experiências. Quantas flores raras desabrocham em nossas mãos e que antes sequer imaginaríamos ser possível! E para isso o que precisamos mesmo é de paciência, boa vontade e desejo de acertar, embora reconhecendo que o erro é bastante comum e acontece com todos aqueles que buscam. Mas errando acabamos por acertar no final.
O reconhecimento de nossa própria singularidade nos faz muito mais felizes porque assim somos capazes de compreender muito melhor o nosso semelhante. Buscar o prazer, o nosso e de nosso par, passar por cima de pequenos deslizes, ampliar até o infinito nossa capacidade de compreensão, isso sim é um programa maravilhoso de crescimento pessoal. E que transcende qualquer livro de autoajuda.
Um momento em que se torna evidente tudo o que disse aqui é quando iniciamos um novo relacionamento, como falei em outra matéria. Quer melhor oportunidade para percebermos essas diferenças? Observamos que nossos anseios e desejos se tornam mais intensos, queremos muito que tudo corra bem. Não temos a segurança do conhecido, portanto estamos atentos a tudo que cerca esse encontro. Bem no início, prestamos atenção ao outro de forma integral. Assim é fácil agirmos com a devida atenção, o que não acontece com o passar do tempo. Ficamos seguros e acabamos por esquecer que deveríamos manter o mesmo nível de atenção conosco e com nosso par.
É exatamente isso que proponho, que acordem para o fato de que para ser feliz e fazer feliz a quem amam deverão reassumir hoje a mesma atenção do início do relacionamento. Somente assim vocês poderão realmente viver integralmente todo o deleite maravilhoso do encontro de dois seres únicos, porém capazes de uma fusão amorosa completa, gerando prazer para ambos.

segunda-feira 29 2013

Casos inacabados


Algumas pessoas ocupam dentro de nós um espaço emocional inconfessável

IVAN MARTINSin
IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA (Foto: ÉPOCA)
Tem gente que vai ficando na nossa vida. A gente conhece, se envolve, termina, mas não coloca um ponto final. De alguma forma a coisa segue. Às vezes, na forma de um saudosismo cheio de desejo, uma intimidade que fica a milímetros de virar sexo. Em outras, como sexo mesmo, refeição completa que mata a fome mas não satisfaz, e ainda pode causar dor de barriga. Eu chamo isso de caso inacabado. 
Minha impressão é que todo mundo tem ou teve alguma coisa assim na vida. Talvez seja inevitável, uma vez que nem todas as relações terminam com o total esgotamento emocional. Na maior parte das vezes, temos dúvida, temos afeto, temos tesão, mas as coisas, ainda assim, acabam. Porque o outro não quer. Porque os santos não batem. Porque uma terceira pessoa aparece e tumultua tudo. Mas o encerramento do namoro (ou equivalente) não elimina os sentimentos. Eles continuam lá, e podem se tornar um caso inacabado. 
Isso às vezes acontece por fraqueza ou comodismo. Você sabe que não está mais apaixonado, mas a pessoa está lá, dando sopa, e você está carente... Fica fácil telefonar e fazer um reatamento provisório. Se os dois estiverem na mesma vibração – ou seja, desapaixonados – menos mal. Mas em geral não é isso. 
Quase sempre nesse tipo de arranjo tem alguém apaixonado (ou pelo menos, dedicado) e outro alguém que está menos aí. A relação fica desigual. De um lado, há uma pessoa cheia de esperança no presente. Do outro, alguém com o corpo aqui, mas a cabeça no futuro, esperando, espiando, a fim de algo melhor.  
Claro, não é preciso ser psicólogo para perceber que mesmo nesses arranjos desequilibrados a pessoa que não ama também está enredada. De alguma forma ela não consegue sair. Pode ser que apenas um dos dois faça gestos apaixonados e se mostre vulnerável, mas continua havendo dois na relação. Talvez a pessoa mais frágil seja, afinal, a mais forte nesse tipo de caso. Pelo menos ela sabe o que está fazendo ali. 

A minha observação sugere, porém, que boa parte dos casos inacabados não contém sexo. A pessoa sai da sua cama, sai até da sua vida, mas continua ocupando um espaço na sua cabeça. Você pode apenas sonhar com ela, pode falar por telefone uma vez por mês ou trocar emails todos os dias. De alguma forma, a história não acabou. A castidade existe, mas ela é apenas aparente. Na vida emocional, dentro de nós, a pessoa ainda ocupa um espaço erótico e afetivo inconfessável.  
Esse tipo de caso inacabado é horrível. Ele atrapalha a evolução da vida. Com uma pendência dessas, a gente não avança. Você encontra gente legal, mas não se vincula porque sua cabeça está presa lá atrás. Ou você se envolve, mas esconde do novo amor uma área secreta na qual só cabem você e o caso inacabado. A coisa vira uma traição subjetiva. Não tem sexo, não tem aperto de mãos no escuro, mas tem uma intimidade tão densa que exclui o outro – e emocionalmente pode ser mais séria que uma trepada. Ainda que seja mera fantasia.  
A rigor, a gente pode entrar numa dessas com gente que nunca namorou. Basta às vezes o convívio, uma transa, meia transa, e lá está você, fisgado por alguém com quem nunca dormiu – mas de quem, subjetivamente, não consegue se esquivar. Telefona, cerca, convida. Estabelece com a pessoa uma relação que gira em torno do desejo insatisfeito, do afeto não retribuído. Vira um caso inacabado que nunca teve início, mas que, nem por isso, chega ao fim. Um saco. 

Se tudo isso parece muito sério, relaxe. Há outro tipo de caso inacabado que não dói. São aquelas pessoas de quem você vai gostar a vida toda, cuja simples visão é capaz de causar felicidade. Elas existem. Você não vai largar a mulher que ama para correr atrás de uma figura dessas, mas, cada vez que ela aparecer, vai causar em você uma insurgência incontrolável de ternura, de saudades, de carinho. O desejo, que já foi imenso, envelheceu num barril de carvalho e virou outra coisa, meio budista. Você olha, você lembra, você poderia querer – mas já não quer. Você fica feliz por ela, e esse sentimento é uma delícia. 
Para encerrar, uma observação: o alcance e a duração dos casos inacabados dependem do momento da vida. Se você está solto por aí, vira presa fácil desse tipo de envolvimento. Acontece muito quando a gente é jovem, também se repete quando a gente é mais velho e está desvinculado. Mas um grande amor, em qualquer idade, tende a por as coisas no lugar. Uma relação intensa, duradoura, faz com que a gente coloque em perspectiva esses enroscos. Eles não são para a vida inteira, eles não determinam a nossa vida. Quem faz diferença é quem nos aceita e quem nós recebemos em nossa vida. O que faz diferença é o que fica. O resto passa, que nem um porre feliz ou uma ressaca dolorosa. 

Surra de cama

Quem diz que as mulheres gostam?
IVAN MARTINS
IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA (Foto: ÉPOCA)
Foi uma moça americana quem me disse, no meio de uma festa, que os homens brasileiros tinham mania de transar demorado. Em vez de fazer sexo de um jeito gostoso e rápido – que ela considerava ideal -, seu namorado brasileiro não parava enquanto ela não estivesse exausta e irritada. “Numa noite especial, de vez em quando, tudo bem”, ela me disse, cheia de impaciência. “Mas, a toda hora... Eu não sou maratonista.”  
Para que fique claro, ela não se queixava de longas e minuciosas preliminares. Reclamava do tempo excessivo de penetração, que ela considerava apenas uma exibição de vigor da parte dele. Ao final da festa, todo mundo bêbado, ela ainda voltou ao assunto e me perguntou se os brasileiros eram todos assim, exibicionistas. Constrangido e ofendido nos brios nacionais, eu respondi, encerrando a conversa, que não fazia a menor ideia.
Esse diálogo ocorreu faz tempo. Na hora, eu achei, com alguma razão, que era conversa de gringa, choque cultural e tal, mas o comentário ficou gravado. Desde então, toda vez que um amigo se gaba – como os homens fatalmente fazem – de ter dado “uma surra de cama” numa garota, dentro de mim uma voz sarcástica pergunta: “E ela, gostou?”  
Antes de prosseguir, uma informação em benefício das mulheres: os homens são terrivelmente solitários quando se trata de sexo. Embora gastem um tempo enorme falando do assunto, eles não trocam informações verdadeiras. Enquanto as mulheres conversam sobre as suas dificuldades, os homens relatam ao bando apenas os seus triunfos, reais ou imaginários. O resultado é que existem dois mundos opostos na cabeça masculina, quando se trata de sexo. Um é feito de performances medianas, vexames e glória eventual. É o mundo da experiência verdadeira, íntima. O outro mundo, repleto de conquistas épicas e ereções olímpicas, é o do relato mitológico dos outros. Qual é a realidade coletiva? Não faço ideia. Sei que na cama, como diria Fernando Pessoa, somos todos príncipes 
Quem salva os homens da completa desinformação em relação ao sexo são as mulheres. Elas nos relatam, em geral de forma indireta, o que acontece na intimidade delas e dos outros homens. Como não estão comprometidas em contar vantagem, nem preocupadas em destruir reputações, (exceto em uma ou outra ocasião...), vêm delas bons relatos. E opiniões menos apaixonadas. Por isso decidi, na semana passada, esclarecer diretamente com elas a história das transas demoradas: afinal, isso é bom para elas ou não é?
Minha pequena amostra, colhida entre mulheres de idades e situações conjugais distintas, sugere que o empenho dos homens em esticar aquele momento ao máximo pode ser inútil.
Várias mulheres dizem detestar sexo prolongado: “Enquanto o cara está lá, se achando o máximo, eu fico pensando, ‘meu deus, acaba logo com isso’”. Outras dizem gostar apenas de preliminares demoradas: “Elas são importantes e deliciosas”. Poucas afirmam gostar de “trepadas quilométricas”, com recordes de penetração. “No começo de um relacionamento ou empolgada com um flerte, é legal”, me disse uma. Mesmo quem gosta muito, faz ressalvas: “Tem de ter intensidade, sentimento. Não pode ser uma coisa mecânica”.
É quase unânime a opinião entre as mulheres que os homens estão se empenhando exageradamente por desinformação. “Acho que teve tanto marketing nas revistas femininas para combater a ejaculação precoce que a história virou para o outro lado”, me escreveu uma amiga. “Hoje, os caras vão para a cama como quem vai para um teste de resistência.” Ela me disse que a tendência é tão forte que as garotas começam a regular sexo por achar que o parceiro está esperando uma maratona – e elas não se sentem fisicamente preparadas. 
Outra coisa que fica nítida nessas conversas é o apego das mulheres por experiência emocionais durante o sexo, não somente físicas. Homens que não gozam privam a parceira de uma sensação importante de satisfação. Aqueles que gozam e depois se dedicam ao orgasmo dela ganham pontos na categoria da solidariedade erótica. Quem consegue gozar ao mesmo tempo em que elas, leva para casa um troféu de enorme valor por sintonia. Sentimentos, rapaz, sentimentos...
Claro, essas coisas variam de casal para casal. Quem gosta de um jeito com fulano pode gostar de outro com sicrano. É preciso explorar as possibilidades, no limite do temperamento de cada um. As regras são flexíveis, mas existe uma coisa chamada personalidade sexual. Alguns curtem sexo intensamente e são capazes de transar por horas. Outros gostam ainda mais, mas concentram seu prazer em espasmos curtos. Há os que se interessam menos pelo assunto.
Sexo, afinal, é diversidade, como tudo na vida. Muitos adoram correr, tantos detestam. Uns têm enorme capacidade de concentração, outros se distraem com facilidade. Há pessoas gulosas e aquelas naturalmente comedidas. Se as pessoas são diferentes em tudo, não é de esperar que se comportem da mesma forma na cama - a não ser que estejam tentando imitar um padrão, o que constitui enorme besteira. Um dos segredos públicos do sexo feliz é a necessidade de descobrir seu próprio jeito de ter prazer. Mas isso leva tempo e implica, necessariamente, em pôr de lado estereótipos e modelos.
Para os homens não é fácil. Desde que a gente é garoto, tem sempre um sabichão disposto a explicar do que as mulheres realmente gostam. Essas conversas prematuras e desinformadas, que envolvem quantidades imensuráveis de mentiras, tendem a encher nossa cabeça de lixo. Demora a livrar-se delas e descobrir, na prática do sexo, no afeto das relações, o que é bom e ruim, para nós e para elas. Na verdade, é um trabalho para a vida inteira.
Da minha parte, gosto de pensar em sexo como um trem em movimento. O orgasmo é uma estação onde todo mundo quer descer, de preferência juntos. Nem sempre dá. Em geral nós, homens, desembarcamos primeiro, e temos de esperar, cheios de dedos, pelo vagão da mulher, que vem lá atrás. Com a prática e as preliminares, a ordem se inverte: ela desce do trem primeiro, depois nos ajuda com a nossa bagagem. De um jeito ou de outro, o tempo da viagem é menos importante que chegar ao destino. Quando os dois estão os dois na plataforma, felizes, pode-se fazer qualquer outra coisa: passear, ler, dormir, comer. O trem do sexo, afinal, vai estar lá à nossa espera, toda vez que quisermos viajar. 

determinar a orientação sexual de uma pessoa será seu envolvimento sentimental



Em seu novo livro, que será lançado nesta segunda-feira (8), o psiquiatra propõe uma vida sexual sem cobranças e sem rótulos. Para ele, o importante é trazer o sexo para o domínio do amor, independentemente de qual gênero o parceiro seja

DANILO CASALETTI
Flávio Gikovate (Foto: Renato Stockler/Divulgação)
Você é heterossexual? Ou homossexual? Considera-se bissexual? A sexualidade humana norteia-se por esses e outros “rótulos”. Definições que, para o médico psiquiatra Flávio Gikovate, podem interferir na vida sexual das pessoas, além de reforçar preconceitos. Em seu novo livro, Sexualidade sem fronteiras (MG Editora, 136 páginas, R$37,60), Gikovate propõe o fim desses termos (hétero, homo ou bi). O ideal, segundo ele, é falar apenas em sexualidade.
“As pessoas que vivem verdadeiramente de acordo com a sexualidade não têm compromisso com seu passado sexual e podem se movimentar dentro do espectro das possibilidades da sexualidade de modo livre e isento”, diz o psiquiatra. O que significa que, para Gikovate, as pessoas podem, ao longo da vida, relacionar-se com pessoas do sexo aposto ou do mesmo sexo, de acordo com seus desejos. Em entrevista a ÉPOCA, Gikovate fala sobre a teoria que apresenta em seu livro e afirma que nela pode estar a chave para o fim do preconceito e para a experiência do encantamento do amor.
ÉPOCA – No livro, o senhor propõe o fim de uma orientação sexual definitiva, o que, a seu ver, tornaria mais fácil uma pessoa transitar entre seus desejos, sem ser rotulada. Seria uma nova revolução sexual? Ela já está em curso?
Flávio Gikovate -
 São os primeiros movimentos ainda, mas essa revolução está em curso. O caminho é longo. Falta a liberdade de exercer o ato sexual de forma lúdica e totalmente desprovida de preocupação com a performance e o desejo de impressionar o parceiro. Falta também entender que o sexo é muito mais rico e gratificante quando vivenciado no contexto de uma relação amorosa de boa qualidade, fundada em afinidades de caráter, gostos e interesses. Uma relação mais parecida com a amizade. Sei que isso ainda é um tanto difícil para a maioria, pois, quando existem essas afinidades, muitas vezes o sexo se mostra menos exuberante. Trazer o sexo para o domínio do amor, desfazendo a tradicional aliança com a agressividade, é um dos grandes desafios da atualidade, independentemente de qual gênero seja o parceiro.
ÉPOCA – Todo mundo pode se sentir atraído por uma pessoa do mesmo sexo ou desejar pessoas de ambos os sexos?
Gikovate -
 As pessoas que vivem verdadeiramente de acordo com a sexualidade não têm compromisso com seu passado sexual e podem se movimentar dentro do espectro das possibilidades da sexualidade de modo livre e isento de qualquer norma ou preconceito. Elas vão se fixar em um determinado território, tanto em função de suas convicções e deliberações racionais quanto em decorrência de outro impulso que, na prática, se sobrepõe ao erótico: o encantamento amoroso de ótima qualidade. 
ÉPOCA - Haverá sempre uma escolha principal?
Gikovate -
 O sexo é um fenômeno pessoal, auto-erótico. Em suas manifestações mais tradicionalmente masculinas está associado à agressividade (até por razões de procriação). Não são raros os casos em que a escolha do parceiro se dá pela via do desejo sexual e aqueles que assim procederem tenderão a escolher em função dessa associação (heterossexuais norteados pelo desejo têm mais raiva das mulheres – e são amigos dos homens – enquanto que a maioria dos homossexuais tem mais raiva dos homens e são amigos das mulheres). No futuro, o que irá determinar a orientação sexual de uma pessoa será seu envolvimento sentimental. Será homossexual ou heterossexual, conforme a rota do amor. E isso poderá mudar quando se alterar o parceiro sentimental.

ÉPOCA - Há quem opte por sublimar o desejo por pessoas do mesmo sexo. Acha essa prática aconselhável?
Gikovate 
- Qualquer tipo de repressão é sempre desinteressante. A pessoa pode muito bem sentir todo tipo de desejo ou vontade de natureza erótica e ter sua prática determinada por suas convicções. Um indivíduo pode sentir vontade de frequentar um travesti, por exemplo, se excitar com essa ideia, se masturbar por meio dessa fantasia, e jamais colocá-la em prática. Não vejo problema algum nisso, posto que o sexo, quando não acoplado ao amor, é fenômeno essencialmente pessoal e as condutas são decididas por cada um. 
ÉPOCA - Na sua proposta, como fica a questão do sentimento versus desejo? Qual a diferença entre gostar de uma pessoa do mesmo sexo e se relacionar sexualmente com uma pessoa do mesmo sexo?
Gikovate - Nesse processo de evolução, é fundamental separar amor de sexo, entender que o desejo (principalmente visual e masculino) é diferente de excitação (mais voltado para dentro, enquanto que o desejo é dirigido para fora: desejo de algo ou de alguém). As trocas de carícias que são próprias do clima lúdico e governadas pela excitação podem se dar independentemente do gênero do parceiro. Muitas pessoas têm práticas sexuais com parceiros de ambos os sexos - aliás, é curioso observar que a bissexualidade é um dos aspectos da sexualidade menos estudada - enquanto que o envolvimento sentimental acontece sempre com uma pessoa especial, independente do gênero.
ÉPOCA – No livro, o senhor diz que evoluímos rapidamente para um mundo com uma educação unissex. No entanto, continuamos a presenciar atos e manifestações preconceituosas ou homofóbicas. Como uma pessoa mais livre sexualmente deve lidar com isso?
Gikovate -
 É um comportamento próximo de como vivem as mulheres atualmente. Elas são mais livres para experimentar as trocas de carícias eróticas com outras mulheres sem que se sintam estigmatizadas, sem que coloquem em dúvida sua feminilidade. O meu livro é um discurso contra o preconceito em geral e, em particular, contra aqueles que dizem respeito à questão sexual. O mundo do futuro não deverá ser governado por eles. Heterossexuais poderão vir a ter parceiros sentimentais e sexuais do mesmo sexo e também homossexuais poderão vir a ter parceiros sentimentais e sexuais do sexo oposto.
ÉPOCA - Há religiões que prometem a “cura” para a homossexualidade. Existem, também, pais que buscam psicólogos ou psiquiatras em busca dessa “cura” para os filhos. O que o senhor pensa sobre isso?
Gikovate 
- Sou um médico com 46 anos de experiência clínica. Digo que, nesse assunto, como de resto em todos os outros temas da minha especialidade, o papel do terapeuta é o de ajudar aqueles que o procuram a realizar seus anseios e conseguir alcançar seus ideais. Assim, não se ajuda um indivíduo a realizar o sonho de seus pais. Só se trabalha com o tema da sexualidade quando é essa a vontade explícita e expressa do paciente. O ponto de vista da religião e das famílias não deve interferir nos atos médicos quando eles dizem respeito a pessoas que estão em pleno juízo. Assim, os projetos terapêuticos são construídos em comum acordo entre o médico e o paciente.
ÉPOCA - As religiões, de certa maneira, também influenciam na sexualidade das pessoas?
Gikovate -
 Não creio que interfiram mais do que o papel, bem conhecido, de exercerem uma postura repressora de toda prática sexual que não seja diretamente relacionada com o matrimônio e, em especial, a reprodução.

É urgente recuperar o sentido de urgência



Nós, que podemos ser acessados por celular ou internet 24 horas, sete dias por semana, estamos vivendo no tempo de quem?

ELIANE BRUM
Dias atrás, Gabriel Prehn Britto, do blog Gabriel quer viajar, tuitou a seguinte frase: “Precisamos redefinir, com urgência, o significado de URGENTE”. (Caixa alta, na internet, é grito.) “Parece que as pessoas perderam a noção do sentido da palavra”, comentou, quando perguntei por que tinha postado esse protesto/desabafo no Twitter. “Urgente não é mais urgente. Não tem mais significado nenhum.” Ele se referia tanto ao urgente usado para anunciar notícias nada urgentes nos sites e nas redes sociais, quanto ao urgente que invade nosso cotidiano, na forma de demanda tanto da vida pessoal quanto da profissional. Depois disso, Gabriel passou a postar uns “tuítes” provocativos, do tipo: “Urgente! Acordei” ou “Urgente: hoje é sexta-feira”.  
A provocação é muito precisa. Se há algo que se perdeu nessa época em que a tecnologia tornou possível a todos alcançarem todos, a qualquer tempo, é o conceito de urgência. Vivemos ao mesmo tempo o privilégio e a maldição de experimentarmos uma transformação radical e muito, muito rápida em nosso ser/estar no mundo, com grande impacto na nossa relação com todos os outros. Como tudo o que é novo, é previsível que nos atrapalhemos. E nos lambuzemos um pouco, ou até bastante. Nessa nova configuração, parece necessário resgatarmos alguns conceitos, para que o nosso tempo não seja devorado por banalidades como se fosse matéria ordinária. E talvez o mais urgente desses conceitos seja mesmo o da urgência. 
Estamos vivendo como se tudo fosse urgente. Urgente o suficiente para acessar alguém. E para exigir desse alguém uma resposta imediata. Como se o tempo do “outro” fosse, por direito, também o “meu” tempo. E até como se o corpo do outro fosse o meu corpo, já que posso invadi-lo, simbolicamente, a qualquer momento. Como se os limites entre os corpos tivessem ficado tão fluidos e indefinidos quanto a comunicação ampliada e potencializada pela tecnologia. Esse se apossar do tempo/corpo do outro pode ser compreendido como uma violência. Mas até certo ponto consensual, na medida em que este que é alcançado se abre/oferece para ser invadido. Torna-se, ao se colocar no modo “online”, um corpo/tempo à disposição. Mas exige o mesmo do outro – e retribui a possessão. Olho por olho, dente por dente. Tempo por tempo.  
Como muitos, tenho tentado descobrir qual é a minha medida e quais são os meus limites nessa nova configuração. E passo a contar aqui um pouco desse percurso no cotidiano, assim como do trilhado por outras pessoas, para que o questionamento fique mais claro. Descobri logo que, para mim, o celular é insuportável. Não é possível ser alcançada por qualquer um, a qualquer hora, em qualquer lugar. Estou lendo um livro e, de repente, o mundo me invade, em geral com irrelevâncias, quando não com telemarketing. Estou escrevendo e alguém liga para me perguntar algo que poderia ter descoberto sozinho no Google, mas achou mais fácil me ligar, já que bastava apertar uma tecla do próprio celular. Trabalhei como uma camela e, no meu momento de folga, alguém resolve me acessar para falar de trabalho, obedecendo às suas próprias necessidades, sem dar a mínima para as minhas. Não, mas não mesmo. Não há chance de eu estar acessível – e disponível – 24 horas por sete dias, semana após semana.
Me bani do mundo dos celulares, fechei essa janela no meu corpo. Mantenho meu aparelho, mas ele fica desligado, com uma gravação de “não uso celular, por favor, mande um e-mail”. Carrego-o comigo quando saio e quase sempre que viajo. Se precisar chamar um táxi em algum momento ou tiver uma urgência real, ligo o celular e faço uma chamada. Foi o jeito que encontrei de usar a tecnologia sem ser usada por ela. 
Minha decisão não foi bem recebida pelas pessoas do mundo do trabalho, em geral, nem mesmo pela maior parte dos amigos e da família. Descobri que, ao não me colocar 24 horas disponível, as pessoas se sentiam pessoalmente rejeitadas. Mas não apenas isso: elas sentiam-se lesadas no seu suposto direito a tomar o meu tempo na hora que bem entendessem, com ou sem necessidade, como se não devesse existir nenhum limite ao seu desejo. Algumas declararam-se ofendidas. Como assim eu não posso falar com você na hora que eu quiser? Como assim o seu tempo não é um pouco meu? E se eu precisar falar com você com urgência? Se for urgência real – e quase nunca é – há outras formas de me alcançar.  
Percebi também que, em geral, as pessoas sentem não só uma obrigação de estar disponíveis, mas também um gozo. Talvez mais gozo do que obrigação. É o que explica a cena corriqueira de ver as pessoas atendendo o celular nos lugares mais absurdos (inclusive no banheiro...). Nem vou falar de cinema, que aí deveria ser caso de polícia. Mas em aulas de todos os tipos, em restaurantes e bares, em encontros íntimos ou mesmo profissionais. É o gozo de se considerar imprescindível. Como se o mundo e todos os outros não conseguissem viver sem sua onipresença. Se não atenderem o celular, se não forem encontradas de imediato, se não derem uma resposta imediata, catástrofes poderão acontecer.  
O celular ligado funciona como uma autoafirmação de importância. Tipo: o mundo (a empresa/a família/ o namorado/ o filho/ a esposa/ a empregada/ o patrão/os funcionários etc) não sobrevive sem mim. A pessoa se estressa, reclama do assédio, mas não desliga o celular por nada. Desligar o celular e descobrir que o planeta continua girando pode ser um risco maior. Nesse sentido, e sem nenhuma ironia, é comovente.  
Por outro lado, é um tanto egoísta, já que a pessoa não se coloca por inteiro onde está, numa aula ou no trabalho ou mesmo em casa – nem se dedica por inteiro àquele com quem escolheu estar, num encontro íntimo ou profissional. Está lá – mas apenas parcialmente. Não há como não ter efeito sobre o momento – e sobre o resultado. A pessoa está parcialmente com alguém ou naquela atividade específica, mas também está parcialmente consigo mesma. Ao manter o celular ligado, você pertence ao mundo, a todo mundo e a qualquer um – mas talvez não a si mesmo.  
Me parece descortês alguém estar comigo num restaurante, por exemplo, e interromper a conversa e a comida para atender o celular. Assim como me parece abusivo ser obrigada a aturar os celulares das pessoas ao redor tocando em todas as modalidades e volumes, invadindo o espaço de todos os outros sem nenhuma consideração. Ou ainda estar em um lugar público e ter de ouvir a narração de uma vida privada, uma que não conheço nem quero conhecer. Será que isso é realmente necessário? Será que uma pessoa não pode se ausentar, ficar incomunicável, por algumas horas? Será que temos o direito de invadir o corpo/tempo dos outros direta ou indiretamente? Será que há tantas urgências assim? Como é que trabalhávamos e amávamos antes, então? 

Bem, eu não sou imprescindível a todo mundo e tenho certeza de que os dias nascem e morrem sem mim. As emergências reais são poucas, ainda bem, e para estas há forma de me encontrar. Logo, posso ficar sem celular. Mas tive de me esforçar para que as pessoas entendessem que não é uma rejeição ou uma modalidade de misantropia, apenas uma escolha. Para mim, é uma maneira de definir as fronteiras simbólicas do meu corpo, de territorializar o que sou eu e o que é o outro, e de estabelecer limites – o que me parece fundamental em qualquer vida. 
Tentei manter um telefone fixo, com o número restrito às pessoas fundamentais no campo dos afetos e também no profissional. Mas o telemarketing não permitiu. É impressionante como as empresas de todo o tipo – e agora até os candidatos numa eleição – acham que têm o direito de nos invadir a qualquer hora. Considero uma violência receber uma ligação ou gravação dessas dentro de casa, à minha revelia. E parece que sempre encontram um jeito de burlar nossas tentativas de barrar esse tipo de assédio. Assim, também botei uma gravação no telefone fixo – e ele virou um telefone só para recados, porque foi o único jeito que encontrei de impedir o abuso do mercado.  
Minha principal forma de comunicação é hoje o e-mail, porque sou eu que escolho a hora de acessá-lo. E, ao procurar alguém, seja por motivo profissional ou pessoal, tenho certeza de não estar invadindo seu cotidiano em hora imprópria. É assim que combino encontros e entrevistas ao vivo, que são os que eu prefiro. Ou marco horário para conversas por Skype com quem está em outra cidade ou país. E quando viajo ou preciso desaparecer do mundo, para ficar só comigo mesma, ou me dedicar a um outro por completo, ou à escrita de um livro, basta deixar uma mensagem automática. Tento me disciplinar para acessar o Twitter, que para mim é hoje uma ferramenta fundamental para 

dar, receber e principalmente compartilhar informações, em horários específicos. E desligo o computador antes de dormir, como gesto simbólico que diz: fechei a porta.  
Uma amiga foi assaltada por uma insônia persistente. Ao despertar, na madrugada, tinha a sensação de que o mundo se movia em ritmo veloz enquanto ela dormia. Parecia que estava perdendo algo importante, que ficaria para trás. E parecia até que estava morta para o mundo, “offline”. Às vezes não resistia e saía da cama para caminhar até o escritório, onde ficava o computador, e entrar no Facebook e no Twitter, dar uma circulada nos sites de notícias, manter-se desperta, presente e alinhada ao mundo que não parava, correndo atrás dele. Depois, passou a deixar o notebook ao lado da cama e já acessava a internet dali mesmo, apesar dos protestos do marido. 
Quando a insônia já estava comprometendo seriamente os seus dias, ela procurou um psiquiatra em busca de remédio. O médico perguntou bastante sobre seus hábitos, e ela descobriu que o pesadelo que a deixava insone era aquele computador ligado, com o mundo acontecendo dentro dele num ritmo que ela não podia acompanhar nem mesmo se mantendo acordada por 24 horas. Bastou desligar o computador a cada noite para que passasse a despertar menos vezes e menos sobressaltada nas madrugadas. Aos poucos, voltou a dormir bem. O mundo estava onde devia estar – e ela também, na cama. Estava offline, mas viva. 
Conheço pessoas que botam fita adesiva sobre a câmera do computador. Foi o meio encontrado para se protegerem da sensação de que estavam sendo espiadas/monitoradas 24 horas por dia por algum tipo de Big Brother – no sentido do 1984, do George Orwell (não no do reality show da TV Globo). A câmera tinha se tornado uma espécie de olho do mundo, que podia abrir as pálpebras mesmo à revelia, como nas histórias fantásticas e nos filmes de terror. 
Conto minhas (des)venturas, assim como as de outros, apenas porque acho que não somos os únicos a ter esse tipo de inquietação. É um momento histórico bem estratégico de redefinição de limites, de territórios e também de conceitos. Que tipo de efeito terá sobre as novas gerações a ideia de que não há limites para alcançar, ocupar e consumir o tempo/corpo dos pais e amigos e mesmo de desconhecidos? Assim como não há limites para ter o próprio tempo/corpo alcançado, ocupado e consumido? 

Ainda acho que o gozo de ser imprescindível a quase todos os outros – no sentido de não poder se ausentar ou se calar – e também de ser onipotente – no sentido de alcançar, a qualquer hora, o corpo de todos os outros – é maior do que o incômodo. Mas talvez só aparentemente, na medida em que é possível que não estejamos conseguindo avaliar o estrago que esses corpos/tempos violáveis e violados possam estar causando na nossa subjetividade – e mesmo na nossa capacidade criativa e criadora.  
A grande perda é que, ao se considerar tudo urgente, nada mais é urgente. Perde-se o sentido do que é prioritário em todas as dimensões do cotidiano. E viver é, de certo modo, um constante interrogar-se sobre o que é importante para cada um. Ou, dito de outro modo, uma constante interrogação sobre para quem e para o quê damos nosso tempo, já que tempo não é dinheiro, mas algo tremendamente mais valioso. Como disse o professor Antonio Candido, “tempo é o tecido das nossas vidas”.  

Essa oferta 24 X 7 do nosso corpo simbólico para todos os outros – e às vezes para qualquer um – pode ter um efeito bem devastador sobre a nossa existência. Um que sequer é escutado, dado o tanto de barulho que há. Falamos e ouvimos muito, mas de fato não sabemos se dizemos algo e se escutamos algo. Ou se é apenas ruído para preencher um vazio que não pode ser preenchido dessa maneira. 

Será que não é este o nosso mal-estar? 
Viver no tempo do outro – de todos e de qualquer um – é uma tragédia contemporânea.  

domingo 28 2013

A difícil conquista de Dorival Caymmi


Inveja, ciúmes, indiferença... Livro conta como foi a chegada do baiano ao Rio

Julio Maria - O Estado de S.Paulo
Dorival Caymmi deitava na rede com a cabeça quente. Ao contrário da ideia de que tudo lhe chegava pelas mãos do vento, de que sua vida foi uma eterna tarde à sombra de um coqueiro em Itapuã, Caymmi sofreu calado. Sua chegada ao estrelato na voz de Carmen Miranda cantando O Que É Que a Baiana Tem?, em 1938, lançada no filme Banana da Terra, o fez vítima duas vezes: Carmen - não havia como ser o contrário - ofuscou a relevância de Caymmi. Diante do carisma avassalador da ‘pequena notável’, pouca gente queria saber que cabeça estava por trás daquelas canções. E O Que É Que a Baiana Tem? foi só o começo. Menos de um ano depois, em 1939, Carmen embarcou para os Estados Unidos levando mais três composições na bagagem: A Preta do Acarajé, Roda Pião e O Dengo (lançado em 1941). Nos anos em que autor de música mal recebia direito autoral, Caymmi sentia o peso da indiferença ao seu nome no mundo novo que Carmen conquistava.
O cantor e compositor baiano Dorival Caymmi em 1997 - Tasso Marcelo/AE
Tasso Marcelo/AE
O cantor e compositor baiano Dorival Caymmi em 1997
A classe dos compositores do Rio de Janeiro também não recebeu o baiano com um festival de acarajés. Afinal, como é que um sujeito de fala mansa saía das terras lá de cima cheio de risinhos para ganhar Carmen logo na chegada? Notas em jornais o desqualificavam de tal forma que o periódico O Imparcial, da Bahia, assumiu sua defesa, questionando "de onde poderia sair tamanha resistência?". Caymmi incomodava o mundo sem mover um fio do seu bigode.
O Que É Que a Baiana Tem? pisou também no pé de Ary Barroso. A música para o filme Banana da Terra seria A Baixa do Sapateiro, de Ary, se ele não tivesse pedido um aumento em seu cachê por saber que os direitos da canção passariam a ser do produtor Wallace Downey assim que o filme fosse lançado no exterior. Ary saiu da jogada e Caymmi entrou. Ganhou a gravação de Carmen e a ira de Ary. O jornalista e compositor Antonio Maria quis saber de Ary o que ele achava do baiano. "Ele veio ruim da Bahia, só melhorou no meio do caminho...", disse. E o acusou ainda de ter praticado plágio. Jogou tão baixo que teve de reconhecer depois que foi longe demais. Já nos fins dos anos 90, quando a neta Stella Caymmi o entrevistou para lançar a biografia Dorival Caymmi, O Mar e o Tempo, o compositor disse que se ressentia sobretudo de episódios do início de carreira. "Ele sentia não ter tido sua importância reconhecida."
Stella volta agora às memórias do avô com O Que É Que a Baiana Tem - Dorival Caymmi na Era do Rádio, uma detalhada pesquisa que traça um momento histórico de vitórias e percalços de um dos maiores compositores brasileiros. Caymmi foi atormentado, sofreu pressões de diferentes grupos da sociedade dos anos 40 e 50 e foi atingido por ciúme, inveja e indiferença mesmo depois de cair nas graças de Carmen Miranda.
Seu primeiro contrato com uma gravadora veio logo depois do estouro da Baiana, uma experiência que o deixou traumatizado. A Odeon estipulava simplesmente seis sucessos obrigatórios por ano. Que Caymmi se virasse para fazer outras baianas virarem fenômeno de vendas. O compositor olhou aquilo desconfiado: "Isso não vai dar certo e você vai me mandar embora", disse aos diretores da companhia. A profecia se cumpriu em 1941. Uma história conta que a Odeon o demitiu por sua demora em criar novas músicas. O fato é que, no olho da rua, Dorival Caymmi voltou aos diretores da Odeon apenas para lembrar: "Eu disse que isso não iria dar certo".
Stella tem suas desconfianças sobre as razões que teriam motivado Villa-Lobos a desencorajar Caymmi dos estudos de música. O interessante do trabalho do baiano era seu primitivismo, defendia Villa. Logo, interferências a ele com conceitos acadêmicos poderiam colocar em risco sua autenticidade. Mais tarde, Caymmi contou à neta que seu sonho era estudar música. "E desde quando estudo atrapalha?", questiona Stella.
Em 2014 serão celebrados os 100 anos de nascimento de Dorival, morto em 2008. Dentre os lançamentos, um disco em família (gravado por Nana, mãe de Stella, Danilo e Dori), que também será lançado em DVD, trará uma canção inédita. Cantiga de Cego foi feita em parceria com o poeta Jorge Amado para ser trilha da adaptação teatral de seu livro Terras do Sem Fim. Mais do que suscitar revisionismos, 2014 pode ser a chance para se colocar o pingo certo no único i de Caymmi.

Tensão e sensibilidade


Mostra no Louvre retrata a Alemanha como um \"vizinho sinistro, sombrio e perigoso\" e azeda relações já delicadas

Sheila Leirner / Paris - Especial para O Estado de S. Paulo

Enquanto o jornal Le Monde divulga um texto "contra a Europa do rigor", que o Partido Socialista francês apresentará denunciando a "intransigência egoísta de Merkel", no campo da cultura, importantes jornais alemães como o Die Zeit denunciam a exposição Da Alemanha, de Friedrich a Beckmann, inaugurada no final de março no Museu do Louvre, como um "ultraje nacional". É guerra! Europa do sul contra Europa do norte, latinos contra germânicos. Decididamente, as coisas vão tão mal nas relações franco-alemãs neste momento que os dois países não podem mais se ver nem "pintados".
Obra de Caspar David Friedrich - Divulgação
Divulgação
Obra de Caspar David Friedrich
Museu do Louvre germanófobo? Não exageremos. Certamente foi com a melhor das intenções que o museu organizou esta mostra no âmbito oficial da comemoração do tratado de amizade entre os dois países, assinado em 1963 por Charles de Gaulle e Konrad Adenauer. E foi com um enorme esforço que conseguiu reunir quase 300 obras de qualidade.
O problema é que, de fato, ao querer revelar aos franceses a identidade de um país (que já possui uma história complicada) por meio de obras que se desenvolvem dentro de uma lógica própria e absolutamente "nacional", os curadores forçosamente estabeleceram uma leitura teleológica de ligação direta com o nacional-socialismo. Nem as manifestações libertárias, revolucionárias, cosmopolitas e internacionalizantes de Bauhaus, Dada, expressionismo inicial, Der Blaue Reiter, estão presentes para não estragar essa visão identitária, em bloco, desejada pelos curadores.
Mesmo o período escolhido - de 1800 a 1939 - foi infeliz e parece tendencioso. O afivelamento da mostra, então, é mais que duvidoso: um filme da cineasta nazista Leni Riefenstahl, a preferida de Hitler, e O Inferno dos Pássaros, uma tela emblemática de Max Beckmann. Esta obra premonitória, à altura da Guernica de Picasso, contém todo o simbolismo do horror. O público sai da exposição convencido de que os românticos já anunciavam a catástrofe hitleriana e que há quase dois séculos a Alemanha estava realmente predestinada ao nazismo.
Não é por acaso que os críticos alemães denunciaram um "escândalo político-cultural" e acusaram o Louvre de "construir" a história do país corroborando os clichês dos franceses que o designam como "um vizinho sinistro, sombrio, romântico e perigoso". Se, na cabeça destes críticos, a visão identitária da nação alemã não existe pois sabe-se que os intelectuais alemães são um pouco amnésicos, como é que os franceses podem "pretender compreender o que é a Alemanha" e, ainda por cima, por meio de sua arte
E não é só isso. Sabe-se também que os franceses são jacobinos. A França é um país centralizado, com uma identidade monobloco, definida e simples. A Alemanha, não. A história dela é fragmentada e complexa, nasce de reinos e principados. Geográfica e politicamente ela é policêntrica. Pode-se dizer que a unidade alemã só começou a existir realmente em 1989, com a queda do muro de Berlim. Querer reduzir aquele país a uma "identidade" monolítica como a França, simplificando-o numa exposição, é um erro muito grande.
Outros pintores, que poderiam perfeitamente ser vistos sob uma perspectiva europeia, tanto quanto Beckmann, ficam restritos à "questão alemã". Assim, a exposição divide-se em três partes: Apolo e Dioniso, Paisagem como História e Ecce Homo. A primeira é marcada por uma aspiração profunda à arte italiana e aos temas gregos. Na segunda, está Caspar David Friedrich, o pintor mais influente da pintura romântica alemã. E o último segmento lida com os traumatismos da 1ª Guerra.
Trata-se de uma belíssima e rica exposição. Quais as outras razões, então - além das formuladas acima - para tal escândalo político-cultural que ocupa páginas e páginas de jornal?
Creio que podemos encontrar ainda dois outros motivos. Primeiro, enquanto na França o olhar sobre o nazismo é, apesar de tudo, bastante neutro, na Alemanha esta parte da história continua uma ferida aberta. O segundo motivo é ainda mais atual. Nesta crise que atravessa a União Europeia, aumentaram as tensões entre a Alemanha e seus parceiros. Um número cada vez mais importante de alemães se recusa em pagar pelos outros europeus, enquanto que mais e mais europeus apontam a Alemanha como a responsável pela austeridade que se abate sobre eles. Estas tensões só exacerbaram a suscetibilidade própria dos alemães aos quais o Louvre apresentou um espelho desastrado, tentando assimilá-los ao nazismo.

Deputados querem poder para mudar decisões do STF


Bancadas evangélica e católica ajudam a aprovar texto na CCJ, a fim de combater ‘ativismo judiciário’ em questões como aborto

Eduardo Bresciani, do estadão.com.br
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou nesta quarta-feira, 25, proposta de emenda constitucional que permite ao Congresso sustar decisões do Judiciário. Nesta quinta-feira, 26, o Legislativo só pode mudar atos do Executivo. A proposição seguirá para uma comissão especial.
Ministros do STF durante o julgamento da ação que pedia a liberação do aborto - André Dusek/AE
André Dusek/AE
Ministros do STF durante o julgamento da ação que pedia a liberação do aborto
A polêmica proposta foi aprovada por unanimidade após uma articulação de deputados evangélicos e católicos. Para eles, a medida é uma resposta à decisão do Supremo Tribunal Federal, que legalizou o aborto de fetos anencéfalos. Se a regra já estivesse em vigor, os parlamentares poderiam tentar reverter a permissão de interromper a gravidez nesses casos.
O texto considera de competência do Congresso sustar "atos normativos dos outros poderes que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa". Além de resoluções de tribunais e atos de conselhos, há deputados que acham ser possível sustar decisões do Supremo com repercussão geral e até súmulas vinculantes.
Autor da proposta, o deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), argumenta que o Legislativo precisa ser o poder mais forte da República, por seu caráter representativo, e que decisões do Judiciário nos últimos anos têm ido além do que diz a Constituição.
"O Poder Judiciário - que não foi eleito, é nomeado - não tem legitimidade para legislar. É isso que desejamos restabelecer para fortalecer o Legislativo", alega Fonteles. "Aliás, fomos nós que fizemos a Constituição."
O relator da proposta na CCJ, Nelson Marchezan Júnior (PSDB-RS), destaca que a possibilidade em discussão não abrange julgamentos específicos dos tribunais, mas casos em que o Judiciário ultrapasse sua função ao determinar novas regras.
O coordenador da bancada evangélica, João Campos (PSDB-GO), diz que o objetivo é enfrentar o "ativismo judiciário". "Precisamos pôr um fim nesse governo de juízes. Isso já aconteceu na questão das algemas, da união estável de homossexuais, da fidelidade partidária, da definição dos números de vereadores e agora no aborto de anencéfalos."
Montesquieu. O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), entende que a proposta viola a harmonia entre os Poderes. "Montesquieu deve estar se agitando na tumba", brincou, em referência ao teórico da separação dos poderes. Alencar avalia que a proposta pode prosperar, por causa do desejo da Casa de reagir a algumas posições do Judiciário. "Essa proposta é tão irracional e ilógica quanto popular e desejada aqui dentro. Vai virar discurso de valorização do Legislativo."
Apesar da aprovação por unanimidade na CCJ, o caminho para transformar a proposta em marco legal é longo. Depois da comissão especial, o texto precisa ser aprovado no plenário da Câmara em dois turnos, por 308 deputados. Depois, a proposta seguirá para o Senado.

sábado 27 2013

'Câmara foi atabalhoada e ministro do STF, excessivo', diz cientista político


Por Isadora Peron, estadao.com.br
Para o cientista político Jairo Nicolau, é exagero se falar em crise institucional entre Poderes no atual embate...

Para o cientista político Jairo Nicolau, é exagero se falar em crise institucional entre Poderes no atual embate entre Congresso e STF. O que se percebe, disse ele ao Estado, é um choque entre a deliberação de um ministro e a decisão de uma comissão da Câmara.
Há uma crise entre Legislativo e Judiciário?
Acho forte falar em uma crise entre Poderes. O que há são apenas rusgas entre setores do Congresso e do Supremo. Nas duas últimas décadas, houve momentos de tensão entre os dois. Uma crítica ao Congresso, ou um deputado criticando um ministro do STF. Mas não dá para falar em crise institucional. Há uma crise entre a deliberação do Gilmar Mendes e a decisão de uma comissão interna da Câmara.
Em suma, apenas uma crise entre pessoas?
É uma decisão de alguns deputados, não da Câmara; e uma liminar de um ministro, não do Supremo. É como dizer que há uma crise entre Poderes quando a presidente Dilma veta um projeto do Congresso.
Essa troca de farpas entre os Poderes, então, é normal?
Para mim, crise é quando você tem deliberações fortes no Poder, uma votação de Adin, uma deliberação do STF contra o Congresso. Porque o que houve foi uma liminar de um ministro, que pode cair - pois o Supremo pode não reconhecer.
A liminar dada por Gilmar Mendes foi uma intervenção no funcionamento do Congresso?
Tanto a deliberação da Câmara me pareceu um pouco atabalhoada, porque é um tema forte, que não foi discutido com a sociedade, como a decisão do Gilmar me pareceu excessiva. Uma liminar sobre o ritmo deliberativo de outro Poder, não tenho dúvidas de que é intervenção. Qual o sentido disso? O papel do Supremo é pegar a deliberação final e questionar a sua substância. Aí eles vão avaliar se fere um princípio constitucional ou não.
Acha justa a avaliação de Mendes de que o Executivo é que intervém ao propor tantas Mps?
A gente está no presidencialismo. A produção legislativa é uma cooperação entre Executivo e Legislativo. Este não tem a prerrogativa exclusiva de fazer leis enquanto o Executivo fica esperando. Desde a Constituição de 88 foi dada também ao Executivo essa prerrogativa. É uma deliberação constitucional. Se em algum momento o Executivo abusou, é outra história. Acho que essa comparação não procede.

The Doors - Touch Me (Live)