segunda-feira 17 2014

Mulheres na História (XIV) Cecília Gallerani (Dama com Arminho)



Dama com Arminho (Retrato de Cecília Gallerani) é umas das obras primas de Leonardo da Vinci. Foi feita entre os anos de 1485 - 1490, é uma pintura a óleo com as dimensões 54,8 x 40,3 cm. A obra é o retrato de Cecília Gallerani (uma jovem da aristocracia de Milão) que foi encomendado a Leonardo por Ludovico Sforza.
Na pintura, Cecília Gallerani está com vestes elegantes de cores variadas, o seu olhar é sereno e ao mesmo tempo atento,a sua boca esboça o início de um sorriso (a parte mais ao lado esquerdo de sua boca eleva-se - começo do sorriso). A dama tem cabelos claros num tom que combina com a cor das suas sobrancelhas e dos seus olhos e que realça a cor dos lábios. Cecília Gallerani segura um arminho, apoiando-o sobre o seu braço esquerdo e mantendo a mão direita sobre ele de forma subtil acariciando-o.
O significado simbólico do arminho não se sabe ao certo, porém há algumas suposições e "crenças", podendo ser uma referência ao apelido de Cecília, Gallerani (que é dado como remanescente de galeé que significa, em grego, arminho), ou o facto de o pequeno animal representar pureza e modéstia, e uma terceira suposição (que dizem ser a mais provável) é uma referência a Ludovico Sforza, visto que a dama era a amante de eleição de Ludovico que passou a usar o arminho como seu emblema, dessa forma, simbolicamente, Ludovico Sforza fica nos braços da sua amante que lhe viria a dar um filho, e que acabou por ser rejeitada em virtude de interesses políticos que levaram o mecenas italiano a casar-se com Beatriz d'Este.
Cecília morreu em 1536. Ficou para a história da pintura como uma das mais belas modelos do mestre dos mestres, mas também surge em documentos da época como uma grande poetisa, que se expressava em latim e que organizava tertúlias. Ao desgosto causado por Ludovico sobreviveu com um casamento que lhe deu mais quatro filhos e uma vida digna que terminou no Castelo de São João da Cruz, perto de Cremona.
Do quadro que a imortalizou não se sabe que caminho seguiu até ser encontrado, em 1939, num castelo na Polónia, propriedade da família Czartoryski, que foi ocupado por soldados alemães aquando da invasão ordenada por Hitler. Dali foi transportado para o Museu Kaiser Friedrich, em Berlim, onde permaneceu até ser reclamado pelo general Hans Frank, o alemão responsável pelo governo da Polónia, que o pendurou na sua própria casa. Mais tarde, finda a II Guerra, depois de ter sobrevivido a este e a tantos outros sobressaltos, voltou a estar na posse dos seus proprietários e a encher de brilho o museu de Cracóvia, a quem os Czartoryski doaram toda a sua colecção.
Fontes:
DN
davinci.net
wikipedia (Imagens)

Por ausências, 45% dos servidores da Educação terão de devolver dinheiro

 Por Paulo Saldaña, estadao.com.br

Rede municipal. Segundo dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, dos 83 mil funcionários das escolas, 37,9 mil terão descontados valores de um bônus que havia sido adiantando em 2013; em alguns casos, esses descontos chegam a R$ 1,2 mil




Por causa da quantidade de ausências no ano passado, 45% dos servidores da educação municipal de São Paulo terão de devolver dinheiro à Prefeitura. Dos 83 mil servidores da rede, 37,9 mil terão descontados valores de um bônus que havia sido adiantando em 2013. Em alguns casos, esses descontos chegam a R$ 1,2 mil, dependendo da quantidade de dias fora das escolas. Professores criticam a medida, que classificam como punitiva.
Os dados foram obtidos pelo Estado por meio da Lei de Acesso à Informação. O desconto não será no salário, mas refere-se ao Prêmio de Desempenho Educacional (PDE), cuja primeira parcela foi adiantada em junho de 2013. Em maio do ano passado, a gestão Fernando Haddad (PT) havia mudado o cálculo do prêmio, fazendo com que o volume de ausências responda a 90% do valor - a partir daquele momento. Antes, esses fatores representavam até metade do prêmio.
Os descontos foram divididos por faixas de valores. A maior parte, 23.537 servidores, terá descontos entre R$ 500 a R$ 960. Há quem tenha de devolver apenas R$ 12 e mais de 2,3 mil servidores terão de reembolsar valores entre R$ 1,002 mil e R$ 1,2 mil.
Se apenas o valor mínimo de cada faixa fosse descontado, o montante representaria R$ 15 milhões. Os descontos ocorrem em uma época em que Prefeitura promove várias medidas de economia e o próprio prefeito tem reclamado publicamente da escassez de recursos.
Segundo a Secretaria Municipal de Educação, a reformulação do cálculo do bônus foi uma tentativa de diminuir os altos índices de ausências na rede e de valorizar o educador que é assíduo. O maior volume de ausências (e dos descontos) ocorre entre os professores, prejudicando a educação dos alunos nas escolas. Apesar da medida, não houve reflexo nos índices de absenteísmo (mais informações nesta página).
O secretário de Educação, Cesar Callegari, lamentou que a nova regra não tenha surtido o efeito esperado. "Não houve o impacto que imaginávamos. Mas temos um compromisso com a sociedade e esse volume de ausências não pode ser visto como natural", disse.
Adiamento. O valor a ser devolvido depende da jornada de cada profissional e do número de ausências. Com a nova regra, o peso das faltas, mesmo que abonadas, passou a ser maior no cálculo da gratificação.
O plano da Prefeitura era realizar os descontos em janeiro deste ano, mas haveria profissionais que ficariam em situação financeira complicada. Alguns deles, como agentes escolares, poderiam ficar sem salários. Um decreto emergencial foi publicado em janeiro, abrindo a possibilidade de fazer os acertos somente em junho. O PDE é sempre pago em duas parcelas. De acordo com a jornada dos profissionais, varia entre R$ 1,2 mil e R$ 2,4 mil.
Professora da rede municipal há 12 anos, Nelice Pompeu, de 40 anos, diz que a decisão da secretaria tem caráter punitivo. "Os professores não faltam porque querem, mas é um reflexo da carreira do professor", diz ela, que critica a própria existência do bônus. "Devia ser incorporado ao salário."
Ferramenta. Para Claudio Fonseca, presidente do Sinpeem, principal sindicato da categoria, o PDE não poderia ser usado como ferramenta de redução do absenteísmo.
"Os índices de ausência do ano passado mostram que não deu certo. E a maioria das ausências é provocada por adoecimentos e violência", diz.
A consultora em educação Ilona Becskeházy diz que, como o prêmio se mostrou insuficiente para diminuir as ausências, o poder público precisa implementar outras medidas a curto prazo. "Todas as pesquisas mostram que o tempo de estudo é essencial para o desempenho do aluno. Em qualquer repartição pública há controle eletrônico de presença. Por que com os professores é diferente?", questiona Ilona. "Não há controle social das faltas e o aluno, nesse quesito, acaba mais cobrado que o professor.
A Secretaria Municipal da Educação espera que, com as medidas no novo programa educacional da cidade, iniciado neste ano, o absenteísmo deva cair.

Mordidas de gato podem ser fatais — e não é por causa da raiva

Infecção

Estudo demonstra que 'Pasterella multocia', bactéria presente na boca de 90% dos felinos, causa doenças graves em humanos

Rita Loiola
Gato
Especialistas alertam que toda mordida de gato deve ser tratada em um pronto-socorro (Thinkstock)
A raiva e a toxoplasmose são enfermidades conhecidas que podem ser transmitidas de gatos a humanos. Mas uma terceira merece atenção: a doença da mordida do gato. Causada pela bactéria Pasteurella multocida, encontrada na saliva de quase 90% dos felinos, a infecção precisa ser tratada com antibióticos. Em casos extremos, ela pode ser fatal.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Cat Bite Infections of the Hand: Assessment of Morbidity and Predictors of Severe Infection

Onde foi divulgada: Journal of Hand Surgery

Quem fez: Nikola Babovic, Cenk Cayci e Brian T. Carlsen

Instituição: Clínica Mayo, nos Estados Unidos

Dados de amostragem: 193 pacientes com mordidas de gatos

Resultado: Mordidas de gato na mão podem levar a infecções sérias, que exigem internação, causadas pela bactéria Pasteurella multocida
Um estudo feito por uma equipe de pesquisadores da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, e publicado na edição de fevereiro doJournal of Hand Surgery (JHS), acompanhou 193 pacientes que chegaram ao pronto-socorro com mordidas de felinos entre 2009 e 2011. Trinta por cento deles foram hospitalizados e permaneceram no hospital por três dias. A outra parte foi tratada com antibióticos. No total, oito desses pacientes tiveram de passar por mais de uma cirurgia na mão. As complicações envolviam problemas de circulação e até perda parcial da mobilidade.
A causa da maior parte das infecções foi a bactéria Pasteurella multocida, normalmente tratada com amoxilina. "Vermelhidão, inchaço, dor e dificuldades para mover a mão são sinais de que pode existir uma infecção e é preciso buscar tratamento", afirma Brian T. Carlsen, principal autor do estudo e cirurgião na Clínica Mayo. "A mordida de gato penetra facilmente na pele. As bactérias se multiplicam rapidamente e a cirurgia é normalmente necessária".
As mordidas dos bichanos correspondem a cerca de 15% das tratadas em hospitais nos Estados Unidos — e elas carregam mais Pasteurella que a dos cachorros. A bactéria, que faz parte da flora presente na boca de cães e gatos em todo o mundo, não provoca nenhum tipo de doença para eles. E também não causam problemas quando entram em contato com a pele humana por meio das lambidas. Mas, se penetram no corpo humano – com mordidas ou, mais raramente, arranhaduras – podem causar infecções na pele, no tecido subcutâneo e até no músculo. Sem tratamento, pode levar a complicações como necrose da pele, osteomielite (infecção dos ossos), pneumonia ou até septicemia, conjunto de manifestações graves em todo o organismo produzidas por infecção. 
Dentadas fatais – Alexandre Barbosa, professor de infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp – Botucatu), adverte: "Toda mordida de animal, sem exceção, deve ser tratada em um pronto-socorro", diz. "Elas podem causar infecções fatais. Os casos não tratados são graves e podem levar à morte. Mesmo sem sinais claros de infecção é necessário o acompanhamento médico e o tratamento com antibióticos, como a amoxilina", diz o especialista. Barbosa lembra que, além da Pasteurella, é também necessária a prevenção contra raiva (que pode estar presente no organismo de felinos se, eventualmente, ele tiver contato com animais como morcegos) e contra bactérias presentes em nossa pele, que, por meio da mordida, têm acesso ao sangue. "As mordidas são ainda mais agressivas em pessoas com o sistema imunológico enfraquecido, como idosos ou pessoas tratadas com imunossupressores", afirma.
Arranhões – Além das dentadas, Barbosa alerta para a doença conhecida como da "arranhadura" do gato, causada por bactérias do gênero Bartonella. Ela está presente nas unhas do bichano e pode causar infecção dos gânglios linfáticos. É menos agressiva, pois essas bactérias se multiplicam lentamente, mas pode provocar inchaço e febre. "É comum atendermos casos graves de infecções de pele por negligência. Por isso, é bom ficar atento a arranhões e mordidas de animais e sempre procurar um hospital", diz Barbosa.

Ela (Her, 2013) - Trailer HD Legendado Spike Jonze apresenta romance entre Joaquin Phoenix e uma máquina em 'Ela





Por Redação- PureCine
Scarlett Johansson participa do filme, que concorre em cinco categorias do Oscar em 2014, emprestando apenas a sua voz




Joaquin Phoexnix em cena de 'Ela'
Joaquin Phoexnix em cena de 'Ela'








































Em um primeiro momento a ideia pode até parecer absurda. Como seria possível um homem se apaixonar por uma máquina? Um objeto tecnológico programado somente para otimizar seu tempo? Mas ao assistir 'Ela' , novo filme do diretor Spike Jonze ('Adaptação') que estreia nessa sexta-feira, 14 de fevereiro, esse conceito começa a parecer um pouco menos surreal e um tanto mais compreensível.
Jonze, que concorre com o longa em cinco categorias do Oscar 2014  (entre elas estão as de Melhor Filme e Melhor Roteiro Original), realiza um filme tocante, que consegue transmitir a complexidade inata do ser humano e como todo mundo está em busca de uma companhia para tornar a dura realidade do dia a dia em algo menos assustador.


'Ela' acompanha os passos de Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), um homem solitário que está em processo de divórcio da esposa, Catherine (Rooney Mara), e demonstra grande dificuldade para se relacionar com outras pessoas. Seus únicos amigos são o casal Amy (Amy Adams) e Charles (Matt Letscher), que moram no mesmo prédio e tentam ajudá-lo a se tornar uma pessoa mais sociável e a ter maiores prazeres na vida.
Mas é o próprio Theodore que toma uma atitude 'radical'. O protagonista contrata o serviço de uma empresa que oferece um sistema operacional inteligente, chamado OS1, para organizar as obrigações diárias de Theodore e otimizar o seu tempo. De início, ele fica um pouco desconfortável com a própria interação com a máquina, que acaba ganhando o nome de Samantha (voz de Scarlett Johansson). No entanto, aos poucos, Theodore vai percebendo que Samantha pode ser muito mais do que apenas uma máquina que deve planejar o seu cotidiano.
O sistema operacional consegue fazer Theodore rir e achar graça na vida constantemente, dá conselhos para ele e pitacos sobre episódios aleatórios, mostrando ao protagonista que até mesmo uma máquina pode ser capaz de exprimir sentimentos, mesmo que isso pareça sem sentido para qualquer ser humano.
Com um roteiro, também escrito por Jonze, bem conciso que permite uma fluidez natural ao longo da projeção e que absorve completamente a atenção do espectador, 'Ela' não deixa de ser uma história sobre uma paixão impossível, um manifesto da necessidade de buscar um sentido para se seguir em frente diante da imensidão do mundo. O diretor em diversas cenas usa a movimentação da câmera em modo lento, casando esse processo com uma linda trilha sonora, que também concorre ao Oscar, inclusive, para explorar as expressões dos personagens e tentar expor o caráter sentimental de cada um através da imagem parada.
Sendo melancólico e otimista ao mesmo tempo, 'Ela' pode ser considerado uma obra de profunda sensibilidade que relativiza a experiência humana com o futuro tecnológico, gerando novas possibilidades de interação para o homem e propiciando uma reflexão singela para o espectador sobre como o amor pode se manifestar de diversas formas diferentes.

(por Gabriel von Borell)

Memórias de abuso sexual: é possível criá-las?

Neurociência

A falsa recordação de violência é um tema vastamente discutido por neurologistas, psicólogos e juristas. Ao site de VEJA, especialistas explicam a mecânica da memória e mostram como, para nós, lembranças verdadeiras ou mentirosas têm o mesmo impacto

Rita Loiola
Woody Allen e Mia Farrow
Woody Allen e Mia Farrow com os filhos: para o cérebro, todas as memórias são iguais, sejam elas verdadeiras ou não(Time & Life Pictures/Getty Images)
"Quando tinha 7 anos, Woody Allen me pegou pela mão e me levou a um pequeno espaço mal iluminado do segundo andar de nossa casa. Ele disse para que eu deitasse com a barriga para baixo e brincasse com um trem elétrico do meu irmão. Então ele me agrediu sexualmente", afirma Dylan Farrow, filha adotiva do diretor e da atriz Mia Farrow, em um texto publicado no início de fevereiro no site do jornal The New York Times. Foi uma das primeiras vezes em que Dylan, hoje aos 28 anos, falou publicamente sobre o episódio ocorrido em 1992. Na época, a acusação foi investigada pela polícia com a ajuda de especialistas do Hospital Yale-New Haven, da Universidade Yale, nos Estados Unidos, que não comprovaram o abuso. No último dia 7, no mesmo jornal, Woody Allen negou o crime e acusou Mia de manipular as lembranças da filha.

Mais de duas décadas depois, o caso ainda divide a opinião pública. Seria possível que as memórias de Dylan fossem falsas? O tema é largamente discutido na psicologia jurídica. Desde os anos 1980, juristas e psicólogos perceberam que um dos recursos usados em litígios conjugais é a implantação de memórias falsas de abuso sexual nos filhos. No Brasil, estimativas de psicólogos ligados a varas de família indicam que até metade dessas acusações feitas durante divórcios conflituosos não são verdadeiras.

"Isso acontece quando um dos cônjuges tenta denegrir a imagem do outro. Trata-se do ataque mais perverso que pode ocorrer”, afirma o psicólogo Jorge Trindade, presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica. “Para quem acredita ter sofrido uma violência, verdadeira ou não, o impacto emocional é o mesmo: terrível."

Mecânica da recordação — Desde o início do século XX, estudos como o do psicólogo francês Alfred Binet, considerado pioneiro em testes de inteligência, indicam que a memória é formada por distorções. Nos últimos trinta anos, pesquisas comprovaram que grande parte das nossas lembranças é forjada. Recordações, reais e falsas, e esquecimentos são os elementos que, combinados, formam a memória. Esse é o funcionamento padrão das lembranças, em um cérebro normal. Ele faz de nossas recordações algo flexível e maleável para que o ser humano aprenda coisas novas, raciocine, tenha criatividade para enfrentar as situações do presente e inteligência para compreender o passado. Combinamos eventos, fatos, sons, imagens, nossos ou alheios, o que nos possibilita viver o dia a dia. É o que acontece quando preenchemos mentalmente uma frase com palavras que nosso interlocutor deixou de dizer. No futuro, provavelmente, a lembrança será da sentença inteira, uma falsa recordação que auxilia a conectar episódios vividos. Tempo e influências externas tingem a memória, tornando-as adequadas ao momento vivido. 

Menores de 6 anos são mais suscetíveis a criar falsas lembranças, porque, nessa idade, eles ainda não distinguem fantasia e realidade. Mentiras de abuso sexual normalmente são sugeridas por algum adulto que tenha proximidade afetiva e seja percebido como autoridade. Nesse papel entram pais, professores, amigos mais velhos, conselheiros tutelares ou profissionais de saúde. Na maioria das vezes a sugestão é intencional, mas também pode ser feita sem dolo. É o caso da formulação de questões que mais afirmam do que interrogam, e que têm influência na formação das reminiscências. "A forma como uma pergunta é feita vai influenciar a resposta e pode, inclusive, contaminar a memória", afirma a psicóloga Lilian Stein, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). "Com o tempo, nos lembramos, de fato, de coisas que não aconteceram."

Como confirmar o abuso — Denúncias de violência sexual infantil são difíceis de comprovar. A maior parte dos casos acontece sem testemunhas, são cometidas por pessoas próximas à criança e não deixam marcas físicas — o relato da vítima é a única evidência. Como as lembranças são formadas por um sistema dinâmico e suscetível a mudanças, não existe um método confiável para averiguar sua veracidade. O instrumento recomendado são avaliações e entrevistas, feitas por psicólogos, assistentes sociais, psiquiatras e promotores. Uma criança que é denunciada como vítima de violência sexual tem pelo menos sete encontros com esses profissionais, até chegar ao juiz.

"As perguntas são abertas, para a criança poder falar qualquer coisa ou mesmo não falar. Perguntas do tipo 'sim ou não' ou 'certo/errado' são a última opção", afirma Cátula Pelisoli, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Adolescência da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). "Alterações fisiológicas medidas em um detector de mentiras ou em um teste poligráfico não funcionariam nesse caso, porque a pessoa acredita na memória. Exames de neuroimagem também são descartados, pois o cérebro recria os mesmos padrões em casos verdadeiros e falsos."

Em alguns Estados americanos e em países como Dinamarca ou Finlândia, as entrevistas feitas em casos de suspeita de abuso são padronizadas. No Brasil, foi lançado em outubro de 2013 um instrumento que pode ajudar a distinguir memórias, resultado de pesquisas de doze juristas, psiquiatras e psicólogos do Rio Grande do Sul. O método, um questionário chamado Escala de Alienação Parental, busca identificar o processo de induzir uma criança ou adolescente a detestar o pai ou a mãe. "Esses instrumentos apresentam um grau interessante de confiabilidade, mas ainda precisam ser mais estudados em casos de abuso sexual", diz Cátula.

De acordo com um estudo feito pelo psicólogo Antonio Serafim, do Núcleo Forense do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, os principais sinais de abuso são depressão, ansiedade e fobias. Meninas podem ter alterações no sono e na alimentação, além de apresentar erotização do comportamento, enquanto garotos mostram-se isolados, agressivos e com distúrbios de conduta. "Crianças com suspeita de abuso normalmente sinalizam dificuldade em lidar com as figuras abusadoras e demonstram insegurança", afirma Serafim.

Até Freud, o pai da psicanálise, confundiu-se acerca da memória de relatos de abuso sexual. No início de seus estudos, em 1890, ele formulou a hipótese de que suas pacientes histéricas teriam sido vítimas do crime. Essa ideia simplesmente desaparece em seus escritos após 1897, substituída pela fantasia incestuosa — em vez de sofrer abuso, as pacientes teriam apenas ilusões dessa violência. Pouco tempo depois, os pesquisadores perceberiam que não há meios de diferenciar, no cérebro, lembranças falsas das reais.

Falsas reminiscências em adultos — Embora crianças pequenas sejam mais suscetíveis à criação de memórias, o processo também acontece com adultos — e com alta frequência. Em 2005, um estudo da pesquisadora Lilian Stein descreveu a implantação de memórias em adultos. Sua equipe apresentou a cerca de 500 participantes uma lista de palavras que deveriam ser recordadas minutos depois. Em seguida, pediu para que os termos fossem marcados em folhas de papel. Nessa última etapa, os participantes selecionaram palavras que jamais apareceram nas primeiras listas, como aquelas semanticamente próximas ao assunto ou que resumiam o tema. Tratava-se de falsas memórias.

Momentos importantes da vida, como o nascimento de um filho ou a morte dos pais, podem ser invadidos por lembranças não verdadeiras tanto quando eventos banais. Em 1995, um das principais estudiosas do assunto no mundo, a psicóloga Elizabeth Loftus, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, verificou em um experimento que recordações emocionalmente fortes também podem ser implantadas. Para isso, ela recrutou 24 pessoas e, com a ajuda das famílias, apresentou a elas três eventos que teriam acontecido na infância. Dois deles eram reais, mas o terceiro, um episódio dramático em que a criança ficava perdida em um shopping, foi inventado pela pesquisadora. Após o relato, um quarto dos participantes afirmou lembrar-se do fato. "Na vida real, muitas pessoas são induzidas a lembrar-se de eventos múltiplos e impossíveis", afirma Elizabeth.

O que diz a neurociência — Nos estudos atuais de neurociência e neurobiologia, falsas lembranças são um tema central. Há décadas os pesquisadores perceberam que reminiscências estão distantes de ser como uma máquina fotográfica ou filmadora que registra os acontecimentos e os arquiva. "Memória não é uma gravação, mas sim a representação mental de um evento que ocorreu. E, como representação, não há diferença entre o que aconteceu e o que alguém acredita que aconteceu", afirma o neurocientista Martin Cammarota, pesquisador do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Como parte dessa representação psíquica, há dados objetivos que podem ser verificados — como em uma foto. Já informações sutis passam despercebidas pelos sentidos. Aí entram as falsas lembranças, para completar os "brancos" do cérebro. Esse é o processo de armazenamento de qualquer uma de nossas memórias, seja ao completar uma palavra que o interlocutor deixou de dizer em um diálogo que aconteceu há poucos segundos, seja para reconstruir um evento de anos atrás.
Os estados emocional e físico também são essenciais na formação de lembranças. Estar ansioso, triste, alegre ou apressado pode manipular mesmo dados objetivos. "Quando falamos de falsas memórias, parece que elas são feitas de propósito. Mas elas fazem parte processo de recordar. Ser incorreta não quer dizer que não seja verdadeira", afirma Cammarota.

Como um processo composto de vários elementos, as lembranças não existem isoladamente. Dados do passado se misturam no momento em que uma memória está sendo formada. Essas lembranças são aquelas que ajudam a compreender o presente e projetar o futuro. No hipocampo, área do cérebro responsável pela memória, as reminiscências são reconstruídas, editadas e renovadas. E, a cada vez que evocadas, elas se modificam — novos elementos são perdidos ou incorporados.

"Recordações dependem do que esperamos delas. Ao contrário de uma foto ou de um documento com começo e fim, trata-se de sistemas dinâmicos, com um conteúdo que se modifica ao longo do tempo", diz o neurocientista. "Memórias não são estáticas no tempo nem no cérebro." Assim, longe de parecer um computador repleto de arquivos que poderiam ser acessados e abertos a qualquer momento, a memória é mais semelhante a um baralho. Ao escolhermos um naipe, várias outras cartas saem ao mesmo tempo. Em diversos estudos detalhando imagens de observações por ressonância feitos nos últimos anos, cientistas perceberam que lembranças vívidas produzem ampla ativação no cérebro, envolvendo áreas sensoriais, emocionais e executivas.

Em um artigo publicado em 2013 na revista The New York Review of Books, o neurologista britânico Oliver Sacks, professor da Escola de Medicina da Universidade de Nova York, elencou uma série de pesquisas que comprovam o quanto os seres humanos precisam desconfiar de suas memórias. Entre elas, as de violência sexual. "Não existe um modo pelo qual os acontecimentos do mundo possam ser transmitidos ou gravados diretamente em nossa mente; eles são experimentados e construídos de modo altamente subjetivo, que é diferente em cada indivíduo e reinterpretado ou revivido diferentemente a cada vez que são recordados", diz Sacks. "Com frequência nossa única verdade é a verdade narrativa, as histórias que contamos uns aos outros e a nós mesmos — histórias que reclassificamos e refinamos sem cessar."

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