domingo 26 2012

Louis Armstrong - Moon River

"Estamos medicando os idosos de maneira errada", diz farmacêutico americano


Envelhecimento

Figura controversa nos Estados Unidos, Armon Neel Jr. faz um alerta, no livro 'Are your prescriptions killing you?', para os perigos da supermedicação em idosos

Aretha Yarak
Supermedicação: mudanças no organismo dos idosos fazem com que muitos medicamentos tragam mais problemas que benefícios
Supermedicação: mudanças no organismo dos idosos fazem com que muitos medicamentos tragam mais problemas que benefícios (Thinkstock)
Há um risco adicional no coquetel de remédios que os idosos, muitas vezes, precisam tomar. Geralmente em número elevado, as drogas podem interagir de maneira perigosa entre si e provocar resultados inesperados e nocivos. Uma pessoa que ingere 10 remédios diferentes tem 44 interações medicamentosas (quando os remédios, combinados, anulam a ação um do outro ou produzem efeitos colaterais inesperados), que precisam ser analisadas. No caso de 15 remédios, essas interações sobem para 104, diz o farmacêutico americano Armon Neel Jr., ele próprio um senhor de 74 anos. Neel é autor do livro Are your prescriptions killing you? (Suas prescrições estão te matando?), sem lançamento previsto no Brasil. 

Perfil

Armon Nell Jr, farmacêutico de 74 anos, autor do livro Are your prescriptions killing you? (Suas prescrições estão te matando?, em tradução livre, sem lançamento previsto no Brasil).
Armon Neel Jr.farmacêutico e autor do livro Are your prescriptions are killing you?

Em 2012, Armon Neel Jr. foi premiado pela Sociedade Americana de Farmacêuticos Consultores por seu trabalho revendo prescrições e aconselhando pacientes sobre suas medicações. Estima-se que as recomendações feitas por Neel levem à economia de 2,5 milhões de dólares por ano nos Estados Unidos – além de salvar milhares de vidas. Cinco anos antes, o farmacêutico havia sido uma das primeiras pessoas a receber o prêmio Farmacêutico Geriátrico Certificado, da Comissão de Certificação em Farmácia Geriátrica.

Entre 1966 e 1977, Neel foi convocado pelo Conselho de Farmácia seis vezes por ter aconselhado pacientes sobre como tomar corretamente a medicação prescrita – só em 1990 as leis do estado da Geórgia passaram a permitir que farmacêuticos dessem tais tipos de orientações.

Desde 2000, Neel atende como conselheiro dando seu parecer sobre o plano de terapia medicamentoso em casas de repouso para idosos na Geórgia. Nos últimos quatros anos, ele tem se dedicado a desenvolver políticas, protocolos e mecanismos de avaliação que atendem às necessidades dos pacientes.
Com 40 anos de carreira, Neel é um ferrenho crítico da maneira como a medicina vem tratando pessoas acima dos 50 anos. Segundo ele, a maioria dos médicos prescreve drogas que causam mais prejuízos do que benefícios aos idosos. E isso aconteceria por dois motivos. O primeiro é a formação médica. "Eles não têm aulas aprofundadas sobre a química dos medicamentos e como eles interagem com o organismo", diz. A segunda é fruto de uma falha científica: existem poucos testes clínicos em voluntários acima dos 60 anos. Assim, a medicina precisa lidar com uma literatura falha sobre a ação dos medicamentos nessa faixa etária. 
Neel não defende terapias alternativas ou que os idosos abandonem tratamentos com medicamentos. Em entrevista ao site de VEJA, ele reconhece a importância dos medicamentos, mas diz que remédios consagrados, como a estatina, podem ser letais a idosos. E defende a tese de que o farmacêutico deveria ser o profissional responsável pela medicação. "A maioria dos idosos está, infelizmente, tomando remédios que não deveria."
Estamos medicando os idosos de maneira errada? A formulação química das drogas está muito mais sofisticada do que há algumas décadas. Isso, mesclado ao fato de que os médicos não compreendem claramente as mudanças químicas que acontecem no organismo das pessoas acima dos 50 anos, pode ser muito perigoso. Depois dos 30 anos, perdemos anualmente 1% das funções renais e do fígado. Aos 80 anos, um idoso tem 50% das funções desses dois órgãos. Os médicos não conseguem entender, por exemplo, que um remédio conhecido, famoso ou eficaz, que era benéfico à saúde daquele paciente aos 30 ou 40 anos, pode se tornar um perigo aos 60 anos. E isso acontece porque o corpo dele não metaboliza mais a droga da mesma maneira.
Por que alguns medicamentos se tornam perigosos para os idosos? Vamos pegar como exemplo o ansiolítico benzodiazepina. Esse medicamento começa a ser usado por volta dos 25 anos de idade, para dormir. Imagine, agora, o mesmo paciente aos 70 anos. As enzimas do fígado de uma pessoa de 25 anos metabolizam a droga de uma maneira específica. Aos 70 anos, porém, essas enzimas já não estão presentes na mesma quantidade. A droga não vai ser metabolizada corretamente, e acaba se depositando em demasia no organismo. E aí começam os efeitos colaterais. O paciente cochila enquanto está dirigindo ou sente tontura, cai e quebra um braço. A benzodiazepina funciona bem em pessoas jovens, mas não em idosos.
Qual a droga mais prescrita erroneamente para idosos? Provavelmente, as estatinas e os osteófitos, drogas usadas para fortalecimento ósseo. Em muitos casos, esses dois medicamentos podem ser letais para o idoso.Um dos efeitos adversos da estatina está relacionado com os músculos. A fraqueza e as dores musculares podem ser um dos sintomas da rabdomiólise induzida pela estatina. Essa condição se caracteriza pela perda do esqueleto muscular, o que leva as fibras a serem liberadas pela corrente sanguínea. Essas fibras são danosas aos rins. Quanto maior a dosagem de estatina, maiores os riscos de rabdomiólise. 
Existe uma quantidade de remédios que um idoso pode tomar de maneira segura? Apenas uma droga já pode ser inapropriada. E o número de riscos em potencial aumenta exponencialmente cada vez que você adiciona um novo medicamento. Vejo pacientes que estão tomando três drogas e uma delas é a causa da necessidade das outras duas. Então, quando você retira essa primeira medicação, acaba a necessidade das demais. Costumo dizer que, se você está tomando mais do que cinco remédios, o sexto está sendo usado para tratar algo causado pelo outros cinco. Mas isso não é necessariamente uma regra.
Há alguma relação entre medicação errada e o aumento nas quedas? Sim. Veja o caso de homens idosos com problemas na próstata, como hiperplasia da próstata. Um dos remédios usados é o chamado bloqueador alfa, uma droga para pressão sanguínea. Essa droga funciona dilatando as veias da próstata, o que melhora a urinação. Só que ela não age apenas na próstata, mas em todo o corpo. Então agora você tem veias grandes que o sangue precisa atravessar em todo o organismo. Isso pode levar à queda de pressão. Se o paciente faz movimentos abruptos, o sangue sai do cérebro e ele tem blackouts, fica zonzo. Esses episódios de hipotensão podem deixar o idoso com tonturas, e aumentar a incidência das quedas.
Os erros nas prescrições são fruto de má formação ou de falta de conhecimento generalizado? Não há muito treinamento em terapia com medicamentos na faculdade. Não se ensina a química dessas drogas e de que maneira ela se relaciona com a química do paciente. Os estudantes de medicina ficam mais tempo estudando doenças, diagnósticos e tratamentos. Muito do que eles aprendem sobre a droga em si é ensinado pelos representantes das indústrias farmacêuticas, que, normalmente, não são da área da saúde. O que eles apresentam ao médico é a versão boa do medicamento, nada de ruim sobre a droga vai sair deles. E também há pouca pesquisa feita com pessoas acima dos 65 anos, então não existe muito material de base. Por isso, conhecer a química de cada medicamento e como ele reage no organismo é tão importante.
O médico, então, não seria a pessoa mais indicada para medicar um paciente? Acredito que mais de uma pessoa pode fazer isso. A tecnologia mudou tanto nos últimos 40 anos, que é a hora dos médicos redistribuírem algumas funções. O farmacêutico deveria ser o responsável pelo gerenciamento da terapia com medicamentos. O médico faz o que ele é treinado para fazer: diagnostica e delimita o plano de tratamento. Mas o farmacêutico, pessoa mais treinada para essa função específica, deveria ficar a cargo dos medicamentos.
Como um paciente idoso pode saber se há algo errado com suas prescrições? Vamos dizer que ele vá ao médico porque tem algum problema, e o médico prescreva uma droga. Essa droga acaba não resolvendo o problema. O médico pode aumentar a dose ou acrescentar um novo remédio. Se isso acontecer, o melhor seria remover o primeiro medicamento — e não apenas acrescentar outros. Agora, se você está indo ao médico e está tomando duas ou três medicações, e aí uma nova droga causa sensações que não são naturais a você, volte ao médico ou ao farmacêutico e diga que esses novos sintomas estão sendo causados pela nova medicação.

A paternidade tardia vale a pena?


Reprodução

Nova pesquisa mostra que o risco de transmitir mutações aos filhos aumenta com a idade. No entanto, os médicos dizem que isso não significa que os filhos de pais mais velhos vão desenvolver doenças como esquizofrenia e autismo

Guilherme Rosa
pais
Médicos dizem que os riscos devem ser levados em conta. No entanto, os pais de idade mais avançada também têm o direito de ter filhos (Thinkstock)
A revista Nature publicou esta semana  um estudo  mostrando que quanto maior for a idade em que um homem se torna pai, maiores são as chances de ele transmitir mutações genéticas para seus filhos. Na maioria das vezes, essas mutações passam despercebidas, mas em alguns casos podem ser responsáveis por desencadear casos de autismo e esquizofrenia.

Saiba mais

AUTISMO
Distúrbio que afeta a capacidade de comunicação e de estabelecer relações sociais. O autista comporta-se de maneira compulsiva e ritual. O distúrbio, que pode afetar o desenvolvimento normal da inteligência, atinge cinco em cada 10.000 crianças e é de duas a quatro vezes mais frequente no sexo masculino.
ESQUIZOFRENIA
O distúrbio mental é caracterizado quando há perda de contato com a realidade, alucinações (audição de vozes), delírios, pensamentos desordenados, índice reduzido de emoções e alterações nos desempenhos sociais e de trabalho. A esquizofrenia afeta cerca de 1% da população mundial. O tratamento é feito com uso de remédios antipsicóticos, reabilitação e psicoterapia.
NEUROFIBROMATOSE
Também conhecida como Doença de Von Recklinghausen. O paciente que sofre com essa condição apresenta vários tumores benignos em seu sistema nervoso, que podem chegar a danificar o funcionamento dos nervos. A neurofibromatose do tipo 1 está relacionada com a idade paterna.
ACONDROPLASIA
Uma das formas mais comuns de nanismo. A doença é causada por uma mutação no DNA que atrapalha a formação da cartilagem na criança.
O estudo mostra que a cada 16,5 anos de vida, o número de mutações passadas de pai para filho dobram. Um homem de 36 anos vai passar duas vezes mais mutações ao filho do que um homem de 20. Já um pai de 70 anos pode passar até oito vezes mais. Segundo os pesquisadores, a cada ano de vida o pai vai transmitir, na média, duas novas mutações para seu descendente. Uma das hipóteses levantadas pelo estudo é que isso explique o número cada vez maior de casos de autismo diagnosticados nos Estados Unidos. E essa não é a primeira pesquisa a sugerir essa relação.
Mesmo assim, cada vez mais a decisão de ter filhos está sendo postergada. Seja por não ter encontrado a companheira ideal ou por ainda não ter a condição financeira desejada, os homens deixam a paternidade para mais tarde. Mas será que essa decisão vale a pena? A nova pesquisa não traz indícios de que os pais devem repensar essa escolha? Segundo os médicos, o perigo de passar alguma doença para o filho deve ser levado em conta, mas não pode ser o principal fator na hora de escolher quando se tornar pai.
Mutações aleatórias — Os médicos sabem já há algum tempo que a idade paterna afeta a saúde da criança. "Os casais precisam ter a noção de que a melhor idade para ter um filho é dos 20 aos 30 anos", diz o pediatra e geneticista Roberto Muller. Além da ligação com esquizofrenia e autismo, pesquisas anteriores já haviam mostrado a relação da idade do pai com condições como neurofibromatose e acondroplasia. "Cerca de 60% dos casos dessas doenças acontecem por conta de mutações novas passadas para o filho, relacionadas com a paternidade acima dos 50 anos”, afirma.
Isso acontece por que o esperma é produzido continuamente pelo homem ao longo de sua vida. "Toda vez que ele ejacula, ele libera espermatozoides recém-produzidos. Com o envelhecimento, os mecanismos de produção vão piorando", diz Muller. As mães, ao contrário, já nascem com toda a quantidade de óvulos que vão usar até o fim da vida.
Os cientistas destacam que, no entanto, a maior parte das mutações passadas de pai para filho não são ruins – elas são completamente aleatórias. "Elas podem até ser benéficas, dependendo do ambiente onde a criança está inserida. Existe uma mutação que previne a manifestação do HIV. Em países onde a doença é muito comum, essa mutação é uma tremenda vantagem evolutiva", diz Mayana Zatz, geneticista da USP.
Hora da decisão — Justamente por ninguém saber qual gene exato pode ser alterado, os médicos são unânimes em dizer que não faz sentido culpar os pais pelas doenças dos filhos. Principalmente nos casos de autismo e esquizofrenia, que são multifatoriais. "Existem vários genes ligados a essas condições. Além de fatores ambientais. Não dá para culparmos uma única mutação passada de pai para filho", diz Roberto Muller.
Como as chances de transmitir mutações que sejam a causa definitiva de doenças são pequenas, esse não deve ser um fator decisivo na hora de decidir pela paternidade. "É um fator importante, mas não pode ser determinante para a escolha. Mais importante que isso é a dinâmica familiar", diz Marcelo Reibscheid, pediatra do Hospital São Luiz. Fatores que podem pesar mais nessa decisão são a relação consolidada entre pai e mãe e a situação financeira do casal. "Forçar os pais a terem filhos numa idade mais nova é bobagem."
Segundo os médicos, o fato de os homens se tornarem pais em idades mais avançadas é uma tendência irreversível em nossa sociedade. "Ter os filhos depois dos 30 anos se tornou normal. Vemos homens mais velhos, em seu segundo casamento, tendo filhos com mulheres muito mais jovens. Vamos falar para eles não fazerem isso?”, questiona Mayana Zatz.

E as mães?

Segundo a pesquisa publicada na revistaNature, os pais transmitem aos filhos quatro vezes mais mutações que as mães. No entanto, elas também podem transmitir doenças aos filhos conforme vão ficando mais velhas. Isso não acontece por conta de mutações no DNA, mas por alterações na quantidade de cromossomos que são repassados ao filho. “Quanto mais velha for uma mãe, maiores as chances de seu filho receber um cromossomo a mais. Na maioria dos casos, o embrião acaba não sendo viável. Em alguns outros, a criança pode desenvolver a Síndrome de Down”, afirma a geneticista Mayana Zatz.
Terapias — Em vez de impedir os pais mais velhos de terem filhos, os cientistas devem trabalhar para que esses homens tenham segurança na hora de tomar sua decisão. Eles podem, por exemplo, procurar por um médico geneticista antes de se reproduzir. "Esse profissional vai fazer o que chamamos de diagnóstico pré-concepcional. Ele vai perguntar se existe alguma doença específica na família e mapear os riscos de o filho herdar essa condição", diz Roberto Muller.
Se o risco de transmitir alguma doença ao filho for diagnosticado, os médicos podem sugerir alternativas como a fertilização in vitro, onde o encontro do espermatozoide com o óvulo acontece em laboratório. Nesses casos, é possível fazer o diagnóstico de algumas doenças antes mesmo de implantar os embriões no útero da mãe. Embora ainda não existam condições tecnológicas de perceber casos de autismo e esquizofrenia, isso pode mudar no futuro, com o melhor conhecimento das causas genéticas dessas doenças.
Nos casos mais graves, os médicos podem até sugerir a doação de gametas. "Mas a decisão final sempre cabe ao pai", diz Muller. Nenhum profissional pode impedir que alguém, seja qual for sua idade, tenha um filho. "Todo homem tem o direito inalienável de constituir uma família e se tornar pai quando quiser." 

Em entrevista ao 'New York Times', Lula nega mensalão


Justiça

Ex-presidente repete versão fantasiosa sobre o escândalo de corrupção - desta vez em nível internacional -, mas promete que aceitará resultado do julgamento

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: ele jura que apoiará reeleição de Dilma
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: ele jura que apoiará reeleição de Dilma (Heinrich Aikawa/Instituto Lula)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em entrevista ao jornal americano The New York Times que o mensalão não existiu. Agora em nível internacional, o petista repetiu sua versão fantasiosa sobre o maior escândalo de corrupção da República - cujos réus estão sendo julgados desde 2 de agosto no Supremo Tribunal Federal (STF).
 
 
"Eu não acredito que houve mensalão", afirmou Lula à reportagem, publicada na edição deste domingo do jornal. A justificativa do petista é de que ele, quando presidente, já tinha apoio suficiente do Congresso e não precisaria comprar a adesão. “Se alguém é culpado, deve ser punido e se alguém for considerado inocente, deve ser absolvido”, disse, garantindo que aceitará o resultado do julgamento.
 
New York Times lembrou o episódio, revelado por VEJA, em que Lula tentou chantagear o ministro do STF Gilmar Mendes para adiar o julgamento do mensalão. O jornal classifica o momento atual como um dos mais críticos para Lula e para o PT. “Mais de trinta políticos, incluindo alguns dos principais assessores de Lula, como José Dirceu, estão implicados no escândalo de compra de votos”, afirma a reportagem, que nota: “Lula defende publicamente os envolvidos no maior escândalo de corrupção do Brasil.”
 
A reeleição de Dilma - Apesar de admitir que “não é tarefa fácil saber como agir no papel de ex-presidente”, Lula afirmou que não disputará a Presidência nas eleições de 2014. “Dilma é minha candidata, e se Deus quiser, ela vai ser reeleita."

Os artistas que ergueram os pincéis contra a ditadura e revolucionaram a produção nacional


Artes plásticas

Obra de Claudia Calirman conta como o cenário político influenciou a entrada do Brasil na onda das performances que dominava os anos 1970

Mariana Zylberkan
Obra de Cildo Meireles, 'Inserções em Circuitos Ideológicos Projeto Cédula'
Obra de Cildo Meireles, Inserções em Circuitos Ideológicos Projeto Cédula (Divulgação)
Enquanto a produção musical, cinematográfica e teatral no Brasil era alvo constante de censura durante o período militar, as artes plásticas passaram ao largo do terror da perseguição policial. Isso não quer dizer, porém, que os artistas mantiveram seus pincéis e ideias intocados pelos anos de chumbo no país. Pelo contrário, nas décadas 1960 e 70, com exceção do período em que vigorou o Ato Institucional nº 5, a produção desse segmento cultural foi bastante profícua, e inclusive responsável por colocar o Brasil, pela primeira vez, no mapa das performances.

O período de restrições a uma série de direitos no Brasil coincidiu com uma mudança importante no cenário artístico internacional. No início dos anos 70, a pintura e a escultura deram lugar às performances no palco principal da expressão artística. “A arte saiu dos museus e foi para as ruas e até para os corpos dos artistas”, diz Claudia Calirman, especialista em história da arte que acaba de lançar o livro Brazilian Art Under Dictatorship (Arte Brasileira na Ditadura Militar, Duke University Press, 232 páginas, 24,95 dólares ou cerca de 50 reais o impresso simples e 89,95 dólares ou cerca de 180 reais a capa dura).

O livro é resultado de uma tese de doutorado. Carioca, Claudia mora desde 1989 em Nova York, onde atua como curadora e guia do Museum of Modern Art (Moma). Para retratar a produção feita no Brasil durante a ditadura, a especialista selecionou três artistas que revolucionaram a linguagem artística justamente para driblar as restrições impostas pelos militares. Antonio Manuel, Artur Barrio e Cildo Meirelles foram difefenciais por se apropriar de instrumentos presentes na sociedade, como cédulas, jornais e garrafas de refrigerante, para expressar sentimentos e opiniões a respeito do regime vigente. 
A publicação também enumera as exposições censuradas na época. Uma delas, a mostra Pré Bienal de Paris, prevista para abrir ao público em 29 de maio de 1969, por exemplo, foi fechada pelos militares antes da inauguração. O motivo foi a inclusão de uma foto do fotojornalista Evandro Teixeira, do Jornal do Brasil, que mostrava o tombo da moto de um oficial da Força Aérea Brasileira (FAB) durante desfile cívico. “Eles viram como uma provocação e, por causa de uma única imagem, toda a exposição foi suspensa”, diz Claudia.

Outro momento importante foi a performance improvisada de Antonio Manuel durante a abertura do salão do MAM-RJ, em 1970. Indignado por ter sido rejeitado na seleção, ele tirou as roupas e circulou pelos três andares do museu completamente nu. Sua obra era seu próprio corpo, que foi impedido de ser exposto no salão. “O museu foi fechado na mesma hora e foram todos correndo para a casa do crítico de arte Mario Pedrosa. Foi ele quem lançou a frase mais importante do período: ‘O que o Antonio Manuel fez foi o exercício experimental da liberdade’. O termo seria usado posteriormente para designar outras obras.”

Leia a seguir a entrevista concedida por Claudia Calirman ao site de VEJA.


Em que foi baseada a escolha dos três artistas abordados? Todo artista que estava no Brasil fez alguma coisa. Então, precisei de um recorte. Escolhi três artistas que me permitiram falar das linguagens usadas no período. Um ponto comum entre eles é o fato de terem compartilhado linguagens que eram usadas internacionalmente. A questão do corpo, por exemplo, é representada pela obra de Antonio Manuel, que fica nu no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro como uma forma de protesto contra a instituição, algo que, em seguida, se transforma numa manifestação política.

Em termos de linguagem, qual é o ponto comum entre eles? Tanto Claudio Manuel quanto Cildo Meirelles e Artur Barrio se apropriam de meios presentes na sociedade para expressar sua opinião. Antonio Manuel passou alguns meses na redação do jornal O Dia, com permissão do Ivan Chagas Freitas, filho de Antônio de Pádua Chagas Freitas, fundador da publicação. Nesse período, ele publicou dez páginas de jornal, inclusive a capa com a logomarca de O Dia, em que inseriu uma série de loucuras, como fotos dele nu e retratos da Lygia Pape com dentes de vampiro. Algumas centenas de exemplares foram realmente vendidas em banca. Então, a pessoa comprava o jornal pela manhã e levava a intervenção do artista. Os trabalhos de Cildo Meirelles também seguiam a linha da apropriação: ele usou garrafas de Coca-Cola e cédulas de dinheiro para criticar o capitalismo. Cildo carimbava as cédulas de cruzeiro com frases como “Quem matou Herzog?” e as colocava em circulação. A ideia era se infiltrar em brechas do regime. Eles eram uma espécie de hacker dos anos 60 e 70.

Como as obras se inseriam no contexto internacional das artes plásticas? É exatamente nessa época que o mundo inteiro muda, a arte sai da pintura e da escultura e vai para as ruas. Esses artistas estão atentos a isso e começam a trabalhar também essas novas linguagens, mas, como temos uma ditadura no Brasil, esse contexto político faz com que as artes tenham caráter mais político nesse período. 
Eles comungavam uma ideologia em comum? Todo mundo era contra a ditadura. Os trabalhos não são propriamente uma propaganda contra o regime, nenhum deles foi preso ou atuou como militante político, mas eles usavam a arte para falar da questão política da época. Barrio deixava trouxas feitas com sangue e ossos de animais nas ruas, esgotos e rios, como se fossem corpos dilacerados e ninguém, naquela época, sabia que se tratava de uma obra. A polícia encontrava essas trouxas e as levava para serem analisadas em laboratório. A obra provocava um certo susto, uma certa náusea.
 

O tema político se perpetuou na obra desses artistas após o fim da ditadura? Não, eles tinham necessidade de expressar o medo absoluto que as pessoas viviam na época e a autocensura. Não havia nenhum critério do que podia ser feito ou não nas artes. Tem um trabalho do Antonio Manuel, Soy Loco por Ti, que foi mostrado no Salão da Bússola, no MAM-RJ, em 1969, um general veio e disse que o pano preto era símbolo do anarquismo e a cama vermelha, do comunismo. Era uma coisa totalmente arbitrária. O crítico de arte Mario Pedrosa escreveu uma carta enorme em nome da Associação Internacional dos Críticos de Arte, pedindo uma definição da censura nas artes plásticas, o que nunca foi feito.

Então, não havia uma censura claramente definida em relação às artes plásticas? As artes plásticas são menos visíveis, em termos de cultura de massa, que a música e a televisão, por exemplo. Isso protegeu os artistas de uma certa maneira. As prisões que aconteceram entre seus representantes nunca estavam atreladas a alguma obra, mas à militância política praticada por alguns deles.

Como essa geração influencia a relação arte versus política? Antes de 64, havia muitas manifestações políticas engajadas. Com o AI-5, as pessoas que faziam arte politizada foram presas e ficou impossível produzir nessa linha. Por isso, muitos trabalhos pós-AI-5 são efêmeros. Não sobrou quase nada daquela época.

A efemeridade é explicada pelo domínio da performance no período? Sim, hoje há uma grande discussão sobre como armazenar performances. Ao ser refeita, a performance perde o seu caráter espontâneo. O trabalho é resgatado apenas através de fotografias e vídeos e essa documentação passa a ser vendida como objeto de arte, mas a documentação em si não é a obra.

Essas obras ainda são consideradas atuais? Eu fui cocuradora da exposição de Antonio Manuel na American Society, em Nova York, no ano passado, e o principal comentário das pessoas foi “Parece uma exposição de hoje”. É um trabalho de arte política que transcende o momento em que foi produzida. No movimento Occupy Wall Street, as pessoas trocavam notas de dólar com mensagens políticas e o Cildo Meirelles já fazia isso em 1970. Como linguagem, eles fizeram algo que é pertinente até hoje.
A ditadura foi, então, fértil para a arte brasileira? A ditadura não ajudou ninguém, é perigoso falar isso e alguém ter a ideia de instaurar uma nova ditadura para estimular as artes. Foi um período de muito medo, de pavor, a gente não sabe quão mais fértil poderia ter sido a produção nesses anos se não tivesse tanta autocensura. Os artistas produziam apesar desse momento de medo e não por causa dele. Houve um boicote enorme à Bienal de 1969, foi um fracasso porque ninguém veio. Várias iniciativas foram frustradas pela ditadura.

Como esse período marcou o trabalho desses artistas após a ditadura? A obra do Antonio Manuel, por exemplo, é bastante geométrica e abstrata, preserva a linguagem construtivista dos jornais usada por ele na época da ditadura, quando se apropriava da diagramação dos jornais para fazer sua arte. O Barrio continua fazendo instalações com materiais efêmeros, como pó de café e peixe. Quando participou da Documenta de Kassel, em 2002, ele protestou contra a curadoria do evento e escreveu na parede de sua sala, repleta de pó de café e paredes quebradas: “A curadoria é um mal desnecessário”. Ou seja, ainda existe provocação em seu trabalho. Cildo Meireles permanece como um artista conceitual que explicita preocupação social em seu trabalho.
 

Ministros liberam verba para projetos próprios e de aliados


Política

Auxiliares de Dilma usam recursos de emenda para beneficiar redutos eleitorais

A presidente Dilma na posse do ministro do Trabalho Brizola Neto, em Brasília
O ministro do Trabalho Brizola Neto: R$ 1,8 milhão para projetos do aliado Paulinho da Força, candidato à prefeitura de São Paulo (Ueslei Marcelino/Reuters)
Ao assumir seus cargos após a faxina ética promovida pelo Planalto, os ministros da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS), e do Trabalho, Brizola Neto (PDT-RJ), usaram a caneta de suas pastas para pagar emendas parlamentares propostas por eles mesmos no Congresso, quando ainda eram deputados.
Um terceiro ministro, Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), da Integração Nacional, reservou fatia generosa de recursos destinados por sua pasta para agraciar, em ano de campanha, projeto apadrinhado pelo seu filho, o deputado federal Fernando Bezerra Coelho Filho (PSB-PE), candidato à prefeitura de Petrolina.
Na Agricultura, Mendes Ribeiro já pagou 1,2 milhão de reais para emendas de sua autoria em 2012 - ele figura entre os quatro maiores beneficiados com recursos. O dinheiro foi repassado em maio para seis municípios do Rio Grande do Sul nos quais o ministro teve boa votação em 2010: Passa Sete, Segredo, Doutor Ricardo, Barros Cassal, Salto do Jacuí e Tunas - os últimos quatro municípios são administrados pelo PMDB, partido do ministro.
Segundo o sistema controle orçamentário do governo, os recursos liberados bancaram projetos de "desenvolvimento do setor agropecuário". Antecessor de Ribeiro, Wagner Rossi (PMDB-SP) deixou o cargo em agosto de 2011 sob suspeita de irregularidades, entre elas a de permitir que um lobista interferisse em licitações da pasta.
No Trabalho, Brizola Neto já liberou 1,8 milhão de reais para projetos apadrinhados pelo deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, que disputa a prefeitura de São Paulo. O valor é o mais alto pago este ano. Bancou programas de habilitação de trabalhadores ao Seguro Desemprego e de "orientação e intermediação" de mão de obra em São Paulo.
O segundo no ranking é o próprio ministro, empossado em 3 de maio. Quatro dias depois, a pasta pagou 599.900 reais, referentes a uma emenda dele, para a prefeitura de Belford Roxo, sua base eleitoral - a cidade é administrada pelo aliado PT. O valor bancou projeto para elevação da escolaridade e qualificação profissional de trabalhadores no Programa ProJovem.
Brizola Neto sucedeu a Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, que pediu demissão em 2011 sob suspeitas de favorecer a sigla.
Em família - Na Integração Nacional, Bezerra Coelho já pagou este ano 4,6 milhões de reais de emenda do filho. O dinheiro foi enviado em parcelas para apoio a projetos de desenvolvimento sustentável em Pernambuco, base política da família. Bezerra Filho é o deputado mais contemplado com recursos de emendas específicas, pagas este ano pelo ministério comandado pelo pai.
Políticos do PSB lideram os repasses da Integração. Dos 18,7 milhões de reais repassados este ano, receberam 6,7 milhões de reais. Líder do partido na Câmara, Givaldo Carimbão (AL) também está entre os mais contemplados. Conseguiu liberar 2 milhões de reais para investimentos de infraestrutura em seu Estado.
Os dados das emendas foram levantados a partir dos pagamentos registrados até terça-feira para as obras e serviços contemplados com dinheiro de emendas específicas, aquelas apresentadas por um deputado só. As emendas genéricas, de grupos, não foram levadas em conta, pois não é possível identificar qual foi o parlamentar contemplado. 
(Com Agência Estado)

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