domingo 25 2013

País teve de devolver cubanos há 8 anos

Por CARLOS ENTINI, CÉLIA BRETAS TAHAN, ESPECIAL PARA O ESTADO / PALMAS, estadao.com.br
Em 1998, o Tocantins importou pelo menos 140 médicos; decisão judicial, no entanto, proibiu atuação sem Revalida a partir de 2005



Ao anunciar a contratação de 4 mil médicos cubanos, o governo federal repete medida adotada pelo Tocantins 15 anos atrás. Lá, a decisão de 1998 de importar profissionais virou imbróglio jurídico, que, após pressão do Conselho Regional de Medicina (CRM) e vitória do Ministério Público do Trabalho (MPT) na Justiça, resultou na "devolução" dos médicos em 2005. Agora, mais uma vez, o Estado vai receber cubanos em pelo menos 15 municípios.
O CRM estima que 140 médicos tenham sido contratados para trabalhar no interior do Tocantins - 34 deles conseguiram revalidar seus diplomas e continuam no País até hoje. Os cubanos chegaram ao Estado graças à Convenção Regional sobre o Reconhecimento de Estudos, Títulos e Diplomas de Ensino Superior na América Latina e no Caribe, de 1974. O documento foi revogado pelo Congresso Nacional em 1999.
O MPT ajuizou, então, ação na qual argumentava que os municípios pagavam profissionais sem registro profissional. "Passamos uma recomendação para todos os diretores médicos dos hospitais falando que não poderiam deixar essas pessoas trabalhando", lembra Nemésio Tomasella, presidente do CRM.
"Não é xenofobia, é só seguir a legislação pertinente no País", diz, ao se referir ao Revalida. Tomasella afirma que os médicos cubanos foram incluídos na categoria. "Até temos um conselheiro cubano."
O cirurgião geral Pedro Cuellar é o estrangeiro no CRM. Apesar de estar regularizado, ele evita comentar a vinda de compatriotas ao País. "O momento político não é apropriado", alegou o médico que, atualmente, é concursado do Hospital-Geral de Palmas (HGP) e atende também no Hospital Osvaldo Cruz. Assim como Tomasella, diz que não é contra a vinda de médicos estrangeiros, "desde que façam o Revalida".
Importação. A ida de profissionais sem o Revalida ao Tocantins foi uma iniciativa do governador Siqueira Campos (então no extinto PFL). Hoje filiado ao PSDB, ele comanda mais uma vez o Estado, mas não quis comentar a medida tomada nos anos 1990. Com 10 anos de fundação, o Estado tinha 17 hospitais, com 2,6 mil leitos - antes da chegada dos cubanos, era menos de uma centena de vagas.
A decisão da retirada dos médicos causou surpresa para o ex-governador Marcelo Miranda (então no PSDB), nos anos 2000. "Eles estavam bem presentes no interior", lembra. Imediatamente, o governo teve de fazer contratos e abrir concursos para preencher as vagas. A ordem de retirada dos cubanos foi cumprida.
O maior peso de se importar médicos de Cuba recaiu sobre o ex-secretário de Saúde do Tocantins Eduardo Medrado. O CRM moveu contra ele 22 processos ético-profissionais. Medrado foi condenado cinco vezes, duas com censura pública e três com suspensões por 30 dias da atividade médica. "Paguei um preço alto", disse ao Estado. Com temor de ser processado, ele preferiu não detalhar a parceria com Cuba.
Regras. O contrato assinado entre Cuba e os médicos previa que 50% do salário seria transferido à ilha. O pediatra Antonio Pons Mosquera não via problemas no repasse. "Estava consciente quando assinei o contrato e cumpri, como foi estipulado", afirma ele, que hoje vive em Palmas.
Em 2000, ele resolveu voltar para Cuba, para conhecer sua filha recém-nascida. "Fiquei até 2007, fiz especialização e pedi permissão para retornar. O governo me liberou e voltei para Tocantins." Desde então, vai a Cuba sempre que tem vontade. "E dinheiro."
Atualmente, Pons trabalha no Serviço de Atendimento de Urgência (SAU) da Unimed, em Palmas, e também em Aparecida do Rio Negro, a 70 quilômetros da capital.
A vida segue. Ele é casado, tem três filhos, dois deles nascidos em Cuba. Um dos cubanos vive com ele, em Palmas, e estuda Engenharia na Universidade Federal do Tocantins (UFT). O outro mora com a ex-mulher, também médica, em Brasília.

Universo Instagram


http://vejario.abril.com.br/blog/bruno-chateaubriand/as-ultimas/universo-instagram

Desde 2009 me tornei um aficionado por redes sociais. Seja facebook, twitter ou instagram, volta e meia me pego querendo ler e ver opiniões, fotos de amigos e conhecidos. Confesso que de um tempo para cá, percebi que tanta exposição faz parte de duas faces de uma mesma moeda. Por um lado, há, é claro, a diversão! O Instagram, por exemplo, se tornou um consultor de moda e beleza. Nos muitos “posts”, observa-se tanto homens quanto mulheres exibindo o visual, ou melhor, o “look do dia”. Não importa a ocasião. Seja para dar dicas de como se vestir para o trabalho ou o melhor visual para a balada, vivemos uma febre de consultores de moda.
foto publicada no Instagram
Nessa nova onda, vale até “momento grávida”. E parece que hábito de postar dicas para as futuras mães tem sido frequente na rede social. Não sei se por ter muitas amigas vivendo a magia da gestação, mas ontem mesmo me deparei com algumas fotos de mulheres compartilhando esse momento inesquecível para elas. Achei muito bacana e pensei: iria adorar ter visto essas imagens da minha mãe, quando ela estava grávida de mim em 1974/75. O que eu tenho são umas fotos, que adoro ver. Mas um perfil que me chamou muita atenção foi o da Karla Prado, que posta suas fotos com o visual do dia e acaba, com isso, criando um diário que poderá ser desfrutado para sempre por seu filho e por ela. E no caso do visual de uma grávida tem sempre um olhar mais brilhante, mais especial. Esse é o lado bom de tudo isso!

Por outro lado… Vejo que muitas pessoas extrapolaram e perderam a noção do que é público e do que é privado. Falta, com certeza, um manual de boas maneiras nessa nova forma de comunicação. Dia desses um conhecido publicou em sua rede aberta, ou seja, aquela que todo mundo pode ver, o convite de uma festa com endereço, hora e tudo mais do anfitrião. Imagina só a saia justa dessa pessoa, que convidou apenas algumas pessoas. Do nada sua reunião estava em uma rede social com endereço, telefone de confirmação e tudo mais para quem quisesse ver. Foi aí que pensei: por anda o livro de boas maneiras da atualidade? Muita gente estaria precisando de uma Carmem Mayrink Veiga, como existia nos anos 90, quando ela dizia como confirmar ou agradecer a um convite. Nos tempos de rede social, acho que precisaríamos de uma pessoa antenada e que soubesse explicar  que, mais importante que um RSVP – respondez s’il vous plait, ou, em português, confirme a sua presença, o termo deveria complementado por: não postar esse convite em sua rede social. Com certeza, esse puxão de orelha, iria, no mínimo, alertar para esse balcão de aceitação social que se tornaram as redes sociais.

Rio de Janeiro: Abençoado por Deus e esquecido pela TAM



Não é de hoje que o carioca sofre com os problemas das cias aéreas brasileiras e aeroportos que ocupam espaço na cidade. Seja no Galeão ou no Santos Dumont, a todo instante uma novidade é apresentada. Em 2007, quando recebemos os Jogos Pan Americanos, tivemos um reforma voadora nas estruturas do espaço que leva o nome do pai da aviação. Tudo feito às pressas e com inúmeros problemas evidenciados apenas um ano depois da conclusão das obras, quando teve que ser parcialmente interditado para uma nova reforma nas pistas. Mesmo com todo o dinheiro gasto, o local mais importante não tinha recebido a atenção devida . As pistas não tinham as ranhuras para colaborar no atrito gerado pela aterrissagem dos aviões.
O Santos Dumont, então, perdeu todos os vôos para o abandonado Galeão, restando apenas a ponte aérea Rio – São Paulo, que por sinal tem a fama de ser a terceira rota mais movimentada do mundo.
No dia 2 de outubro de 2009, a cidade maravilhosa foi anunciada cidade olímpica para 2016. O que para o pensamento coletivo significava que o Rio, finalmente, iria receber estrutura em seus aeroportos, estradas e para o transporte  público. Afinal de contas, além das Olimpíadas temos a primeira viagem internacional do novo Papa para a Jornada da Juventude, Copa das Confederações e Copa do Mundo. Isso sem falar na agenda normal da cidade que é tida como destino que vende o Brasil internacionalmente – em 2012 entraram 1.164.187 visitantes de outros países na capital fluminense. Um acréscimo de 11,4% em relação aos números de 2011.
Pelo visto essa agenda não abriu aos olhos da cia aérea mais chilena que o Brasil tem: a Tam. A cidade olímpica  vem sendo tratada como grupo de acesso e gradativamente perde rotas clássicas como: Paris e Frankfurt – que deixarão de operar em agosto desse ano. Isso sem falar em Miami que de São Paulo sai um 777 novinho em folha e do Rio um capenga 767-300, com poltronas quebradas, aeronave suja e serviço de categoria infinitamente inferior. A dica que fica é a ouvida nos corredores da cidade americana da Flórida. A Lan, ou melhor, LaTam,  visa apenas o lucro deixando de lado a função real do transporte público em um país civilizado: atender ao  brasileiro.
E vamos combinar… Qual seria a intenção do Chile no Brasil, se não o de ganhar dinheiro? Cabe a nós repudiarmos esse ato e passarmos a viajar em cias de outros países, que nos valorizem de fato.




Projetor do 767-300. As poltronas  não contam com monitores individuais.

Detalhe do chão sujo e do carpete descolando. 767-300 do vôo Rio-Miami

Fim de semana de sol e calor no Rio

veja.com

Massa de ar seco deixa o tempo estável na cidade nos próximos dias

por Thaís Meinicke | 22 de Agosto de 2013
Ipanema: sol e calor no fim de semana (Foto: Pedro Kirilos | Riotur)

Depois de dias de frio e chuva, o tempo no Rio firmou de vez e os cariocas poderão aproveitar o fim de semana ao ar livre. Uma grande massa de ar seco predomina e deixa o tempo aberto e com baixa umidade no Rio nos próximos dias. Segundo o Climatempo, o sábado (24) será de sol, com névoa ao amanhecer. A noite segue com poucas nuvens. Os termômetros marcam temperatura máxima 30°C e mínima de 17°C.

O domingo (25), terá as mesmas condições e o dia será de ainda de mais calor, com as temperaturas chegando a 33°C, enquanto a mínima continua em 17°C. Não há previsão de chuva. Os amantes do surfe também podem comemorar. Com ondas em torno de um metro no sábado, o mar subirá progressivamente e o tamanho fica entre 1,5 e 2 metros no domingo, com ondulações sul-sudoeste. As melhores praias para o esporte são Macumba, Grumari e Prainha.

Glossário literário-corporativo

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Conto – Tem dois sentidos básicos. Como substantivo, arcaico, quer dizer uma soma de mil vezes a unidade monetária, isto é, “mil reais” ou, modernamente, “mil dólares”. Como verbo, é aquilo que se diz quando um diretor financeiro é apanhado desviando dinheiro: “Se eu não levar algum, conto”. Raramente falha: o segundo conto costuma render ao contista um belo múltiplo do primeiro. Mas a palavra está em desuso. Deve-se preferir grand para a primeira acepção e tell para a segunda.
Fábula – Muito dinheiro. Aquilo que o mercado financeiro ganha e perde, por exemplo, a cada suspiro do Federal Reserve. Arcaico. Prefira-se lotsa money.
Ficção – Método aprimorado em Wall Street para a confecção de balanços financeiros de grandes corporações e adotado com talento pela equipe econômica brasileira. Palavra em desuso. Prefira-se lotsa lies.
Lirismo – Obsessão doentia pelo acúmulo de fortuna em lira, a moeda italiana. Do ponto de vista estritamente monetário, não faz sentido.
Novela – Programa televisivo de alto retorno publicitário, ideal para abrigar anúncios de empresas que desejem atingir a classe C. A classe D também vê muita novela, mas seu poder de compra é aquele que se sabe. Significa ainda, em acepção figurada, algo que se arrasta interminavelmente, como os processos contra políticos e empresários por crimes de corrupção e contra a economia popular. A palavra vai caindo em desuso entre nós: o executivo moderno deve preferir soap opera.
Pé quebrado – O mesmo que broken foot. Problema que costuma acometer executivos de férias em Aspen.
Prosa – Diz-se do jovem executivo que acabou de juntar seu primeiro milhão de dólares: “Ele está prosa”. Anda fora de moda. Melhor substituir por proud.
Rima – Sigla de Relatório de Impacto Ambiental, invenção de ecologistas desocupados para, em nome da preservação de matinhos, dificultar a aprovação de grandes projetos de desenvolvimento e a consequente concretização de lucros. O péssimo conceito de que goza junto às classes empreendedoras é traduzido na máxima “seria um Rima, não seria uma solução”. Palavra ultrapassada. Modernamente, usa-se EIS, Environmental Impact Statement.
Romance – Coisa perigosa no ambiente corporativo, especialmente se um dos parceiros for subordinado ao outro. Se dá certo, provoca mal-entendidos com funcionários excluídos da bocada e uma mistura inadmissível de questões pessoais e profissionais, com impacto nos lucros. Se não dá certo, provoca processos de assédio sexual, com impacto na imagem da empresa e, portanto, nos lucros. Palavra em desuso. Melhor usar affair.
Verso – Local do cheque que se usa para endossá-lo. Prefira-se back.

Picaretagem indômita, ou como forjar um best-seller

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Advertência: esta história é um conto amoral que diz mais sobre os mecanismos do sucesso editorial do que o estudo aprofundado das obras completas de Paulo Coelho.
No fim do ano passado, aparentemente julgando prescrito seu crime, o veterano produtor de Hollywood Bob Rehme recordou um episódio pitoresco que vivera em 1969 como executivo da Paramount. Rehme estava encarregado de promover o filme “Bravura indômita” (True grit) – o primeiro, que valeu o Oscar a John Wayne e que não deve ser confundido com a obra dos irmãos Coen que estreia hoje nos cinemas brasileiros.
Ocorre que a Paramount havia comprado os direitos do livro homônimo, de autoria de Charles Portis (no qual se baseiam os dois filmes e que está sendo lançado aqui pela Alfaguara), antes mesmo de sua publicação. Apostava num sucesso de vendas, sobre o qual erguera toda a estratégia comercial do filme: “baseado no best-seller” era uma frase fundamental nos cartazes. Mas, embora o livro tivesse colhido boas resenhas, o aguardado sucesso se recusava a vir. E agora?
Fácil: aproveitando-se do fato significativo de que uma pequena fração da verba promocional à sua disposição era suficiente para comprar milhares de exemplares de qualquer livro do mundo (cinema não é literatura, buster!), o indômito Bob Rehme mandou fazer exatamente isso. Não sem antes, competente, levantar a relação das livrarias que o “New York Times” monitorava para apurar sua prestigiosa lista de mais vendidos. O resto é história.
Nunca um lugar no alto do rol de best-sellers foi tão garantido. O que é um golpe de marketing e tanto, mas, pensando bem, de uma simplicidade tão desconcertante que admira não ter sido empregado muitas outras vezes – inclusive no Brasil, onde o preço do ingresso nesse Olimpo é bem mais baixo.

Para ler os conselhos literários de Elmore Leonard


Listas de conselhos de escritores são um gênero jornalístico de qualidade duvidosa, apesar de sempre atraírem leitores aos magotes – o número de aprendizes das letras que há no mundo, muitos deles inseguros dos caminhos que começam a trilhar, garante seu sucesso. A morte do americano Elmore Leonard, na última terça-feira, aos 87 anos, rendeu grande exposição ao seguinte decálogo elaborado para o “New York Times” em 2001 pelo maior mestre dos romances policiais (e de faroeste, gênero no qual começou a carreira) da segunda metade do século XX:
Nunca inicie um livro falando do tempo.
Evite prólogos.
Nunca use um verbo que não seja “disse” para os diálogos.
Nunca use um advérbio para modificar o verbo “disse”.
Mantenha seus pontos de exclamação sob controle.
Nunca use as palavras “subitamente” ou “começou uma confusão dos diabos”.
Use com parcimônia dialetos regionais e gírias.
Evite descrições detalhadas dos personagens.
Não entre em detalhes demais ao descrever lugares e coisas.
Tente deixar de fora as partes que os leitores pulam.
No fim, um décimo primeiro conselho aparece como o resumo de tudo:
Se parece que foi escrito, eu reescrevo.
A lista de Leonard – escritor que muito admiro e no qual fui viciado por anos a fio, na última década do século passado – é de uma simplicidade desconcertante. De saída chama a atenção pela escassez de iluminações próprias, parecendo mais um compêndio de diretrizes daquela prosa realista americana que Ernest Hemingway e Dashiell Hammett, cada um em seu campo, contribuíram mais do que ninguém para consolidar nos anos 1930. Outros escritores disseram coisas parecidas, até com mais verve, como F. Scott Fitzgerald ao afirmar que usar um ponto de exclamação “é como rir da própria piada”.
Além disso, o que é mais perturbador, uma lista de conselhos negativos (“evite”, “nunca use”, “deixe de fora”) praticamente exige que a encaremos como conservadora, uma receita para a reprodução de efeitos literários já conhecidos e testados – o que, levado ao pé da letra por um escritor iniciante, pode ter consequências nefastas ao lhe fechar a janela para o novo, o que jamais foi experimentado exatamente daquela forma. Algo que talvez não passe de utopia, mas sempre estará no horizonte da literatura enquanto literatura houver. Se existe uma verdade absoluta nesse campo de relativismos em profusão, é esta: recursos gastos existem para que escritores de talento os reabilitem, como provou Machado de Assis ao revisitar o datadíssimo Laurence Sterne.
Como qualquer lista de mandamentos literários, é preciso saber ler o decálogo de Elmore Leonard para tirar proveito dele. O gênero dos conselhos tem seu limite óbvio no fato de oferecer dicas para quem, no universo virtualmente infinito de possibilidades da literatura, quiser escrever livros parecidos com os do autor em questão. Até nisso, porém, é insuficiente. O que faz a grandeza de Leonard não está ali, nem poderia estar. Trata-se de um conjunto de instruções para afinar o instrumento. Quanto à música que será tocada nele, cada um precisa encontrá-la sozinho.
Não aparece nesses conselhos (e como ensinar uma coisa dessas?) o ouvido perfeito de Leonard, a mais bem acabada estilização do inglês americano contemporâneo já vista nas letras. Nem seu talento para desenhar o perfil psicológico dos personagens em diálogos rápidos, ironicamente informados pela cultura pop – sim, não foi em outro lugar que Quentin Tarantino aprendeu. Tampouco aparece o infalível senso de ritmo de suas histórias narradas numa terceira pessoa que nada tem de onisciente, colada ao ponto de vista de um protagonista (des)equilibrado entre o herói e o anti-herói – um sujeito meio ferrado que caminha na linha de sombra entre a legalidade e a ilegalidade, em muitos casos um ex-presidiário, o que torna seus livros, apesar de assumidamente comerciais e produzidos em série, deliciosas e sempre imprevisíveis subversões do maniqueísmo que assola a literatura de gênero.
No fim das contas, saber ler o decálogo de Leonard – e qualquer outro rol de conselhos literários – significa tomá-lo menos como receita de bolo do que como um mapa de pontos de tensão, de encruzilhadas estéticas que qualquer aprendiz das letras encontrará em seu caminho se cultivar algum espírito reflexivo sobre o ofício. Não há decisões certas e erradas nessas bifurcações: tudo depende de aonde cada um conseguirá chegar na estrada que escolher. Tomar consciência dos pontos de tensão é perder a ingenuidade.
A prosa de Leonard – realista, acelerada, movida pela ação, na qual um escritor declaradamente “invisível” não tem tempo a perder com o subjetivismo e os meandros da linguagem poética – denuncia, no alto nível artístico que consegue atingir, a crise estética de tudo o que seja o seu contrário: confesso que a exposição concentrada a seus livros fez encolher muito minha tolerância aos excessos molengos do subjetivismo e da linguagem poética. Ao mesmo tempo, a prosa leonardiana é denunciada em suas limitações o tempo todo, a cada vez que uma de suas regras de ouro é quebrada com sucesso: no prólogo interminável de “O nome da rosa”, de Umberto Eco, por exemplo; ou nas detalhadas descrições de personagens que Daniel Galera torna engenhosamente indispensáveis em “Barba ensopada de sangue”.

Matriz operou conta secreta,diz ex-dirigente da Siemens


Ex-presidente da empresa no Brasil, Adilson Primo afirma que sede da multinacional alemã movimentou € 6 milhões em Luxemburgo

Em: 24 de agosto de 2013 | 19h 07

Fausto Macedo e Fernando Gallo - O Estado de S. Paulo
O engenheiro Adilson Antônio Primo, que por dez anos presidiu a Siemens no Brasil, afirma que uma conta no paraíso fiscal de Luxemburgo foi “operacionalizada” pela matriz da multinacional na Alemanha. Ele alega que a conta, que acumulou € 6 milhões, foi aberta em 2003 por um diretor financeiro da companhia, com anuência da cúpula da matriz alemã. “Naquela ocasião, a Siemens tinha certas contas, as chamadas contas de compensação”, disse.
Defesa: Primo diz que nunca negociou conluios ou pagamentos ilícitos e que matriz operava ‘contas de - Nilton Fukuda/AE
Nilton Fukuda/AE
Defesa: Primo diz que nunca negociou conluios ou pagamentos ilícitos e que matriz operava ‘contas de
Primo ocupou a presidência da Siemens Brasil de outubro de 2001 até 2011. Ex-executivos da empresa relataram, em acordo de leniência com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que a multinacional atuou em esquema de cartel no País de 1998 a 2008.
A ascensão do mineiro de São Lourenço na Siemens começou ao se formar engenheiro elétrico pela Universidade Federal de Itajubá (Unifei). Primo “saiu para o mundo” em 1976, aos 23 anos, ao ganhar uma bolsa-convênio da empresa alemã. Viveu três anos em Erlangen, perto de Nuremberg.

De volta ao Brasil, em 1980, Primo foi contratado como engenheiro de vendas, passou pelo marketing e subiu até chegar ao topo da multinacional. Hoje, move um processo na Justiça do Trabalho contra a empresa. No início de janeiro, o ex-número 1 da Siemens Brasil aceitou salário de R$ 5,6 mil e o convite de Rodrigo Riera (PMDB), prefeito de Itajubá (MG), para assumir a Secretaria de Coordenação-Geral e Gestão da cidade de 96 mil habitantes na Serra da Mantiqueira. 

Primo não foi citado no acordo de leniência que executivos da companhia firmaram com o Cade, mas, diante da crise que colocou a Siemens no centro do grande escândalo dos cartéis para fraudes em licitações, pediu exoneração, a fim de evitar constrangimentos ao amigo prefeito.

Ao Estado, Primo falou do que define como a longa jornada de dedicação à Siemens, até sua queda.

O que alegou a empresa para a sua demissão?

Desídia e insubordinação. Apenas tomei ciência, não concordei. Tenho um processo trabalhista contra a empresa. Não aceitei ser acusado de desídia e insubordinação pelo histórico que tive na empresa. Em momento algum atribuem a mim improbidade, mas fiquei chocado porque desídia é desleixo. Essa é a razão pela qual eu me vi quase na obrigação, até como resposta aos meus pares, meus amigos, minha família, de entrar com processo. Busco os meus direitos e a reparação. Desleixo de um cara que colocou a empresa aonde ela chegou? Reconhecido pela própria organização mundial, no Brasil? Tive que tomar essa atitude.

A qual insubordinação se referem?
Já refleti muito tentando achar em que episódio fui insubordinado. Fui um cara que todos os chefes que tive se davam muito bem, respeitavam de forma ampla, pela lealdade, pela ética, pelos resultados, pelo espírito de colaboração. Onde fui insubordinado? Não consta nenhuma outra acusação no documento oficial da minha demissão que não fossem essas duas palavras, desídia e insubordinação. Você trabalha 35 anos na empresa, em todos os cargos que eu passei deixei uma marca positiva. Durante os anos em que fui presidente a empresa cresceu, foi rentável, saiu de 5 para 13 fábricas. Eu era pessoa respeitada por toda a organização na Alemanha e aqui no Brasil como um dos maiores empresários. Falo isso com muito orgulho. Fui empresário do ano por três vezes na área em que atuava.

Não foi por causa da conta de € 6 milhões em Luxemburgo?

A conta de Luxemburgo é uma conta que era operacionalizada pela própria Siemens da Alemanha, foi aberta em um determinado ano por funcionários aqui do Brasil sem o meu conhecimento, mas era basicamente de responsabilidade do diretor financeiro. Naquela ocasião a Siemens tinha certas contas, que não existem mais. Até 2007 existiam, a Siemens tinha as chamadas contas de compensação, e isso era da alçada e da administração do diretor financeiro, e a operacionalização disso era da Alemanha. Todas as vezes que fui perguntado se eu conhecia aquela conta disse que não conhecia. Como presidente você assina 500 documentos por dia. Num determinado dia, muitos anos depois, houve uma mudança. Essa conta que tinha sido aberta e operacionalizada pela Alemanha, acabei assinando um documento. Não assinei um documento, eu rubriquei simplesmente, de mudança de titularidade. Foi aí que eles disseram que eu sabia da conta e deveria ter avisado. Mas a conta era operada por eles. 

O sr. nunca operou essa conta?

Nunca. Até porque eu não tinha nem procuração para isso, para movimentar. Quando eu rubriquei a mudança de titularidade já haviam sido feitas, pela própria Alemanha, movimentações nessa conta, aberta em 2003 pelo diretor financeiro da época, que era um alemão, sem o meu conhecimento e sem a minha assinatura. Eles faziam toda essa administração. Dois anos depois houve essa mudança de titularidade, acabei rubricando, tinha lá o meu nome. Eu não tinha nem a procuração, não movimentei conta nenhuma e nem sei os movimentos que foram realizados, com que objetivos foram feitos. 

Quem era esse diretor?

Não sei se poderia abrir isso aqui por causa do segredo de justiça. Eu não movimentei essa conta. Não existe um documento de transferência que estou fazendo dessa conta para algum lugar. Quando eu rubriquei isso daí não era dinheiro do Brasil, não era dinheiro da Siemens Brasil. Não houve transferência de recurso daqui para o exterior. Era uma conta sempre administrada pelo diretor financeiro, que era sempre um expatriado, aliás, até hoje. Sempre foi indicado pela Alemanha.

A demissão tem a ver com a carta de um executivo para o ombudsman da Siemens, em 2008, denunciando práticas ilícitas na companhia?

Não. Em 2008, através da imprensa, e depois do próprio Ministério Público de São Paulo, nós recebemos uma denúncia. O Ministério Público nos fez questionamentos em função de uma denuncia anônima que citava três contratos na área de trens e metrôs, mas não abriu nenhuma investigação contra a Siemens. Como presidente da empresa, em nenhum momento, nenhum colaborador veio discutir comigo aspectos relativos a conluios, pagamentos ilícitos. A minha própria postura não dava o menor espaço a alguém vir me falar isso. Nem nenhum funcionário público. Nunca estive com presidentes de empresas concorrentes para discutir esses aspectos. Em 2008, como presidente da Siemens, qual foi a atitude que tomei? Pedi auditoria e mandei as perguntas do Ministério Público para a Alemanha, para a área de compliance.

O sr. mesmo tomou a iniciativa?

Pedi uma auditoria aqui, conduzida pela Devoise que veio na nossa área de transportes. Nenhum tipo de indício que viesse a suspeitar de atos ilícitos foi constatado. Em 2009 esse tema veio à tona novamente e, mais uma vez, solicitei auditoria independente. Veio uma equipe da Alemanha, aí tivemos conhecimento dos relatórios. Não tinha nenhuma situação que indicasse problema de compliance. Eles verificaram problema de ordem contábil, absolutamente natural. Eu cumpri o meu papel, não fui desidioso. Como presidente tomei a decisão que deveria ter tomado. Se você tem uma denúncia, muito bem, vamos apurar. Foi feita uma varredura muito grande. Me senti confortável na medida em que tenho um relatório que não indica atos ilícitos do ponto de vista de conluio entre empresas. Agora, entendi pela mídia que a Siemens enviou ao Cade documentos que ensejam suspeita de cartelização. Ela não enviou nenhum outro tipo de documentação. Tanto é que colocou um fato relevante refutando quaisquer outras interpretações. Até a data em que saí da empresa, os relatórios indicavam o que acabei de colocar.

As licitações e os contratos passavam por suas mãos?

A gente comanda uma empresa de 11 mil funcionários. Com essa estrutura você tem diretorias, divisões e unidades de negócio. As pessoas que comandavam as unidades de negócio eram diretores, tinha diretor da unidade de negócio, diretor das divisões e o diretor estatutário. Toda a parte de negócios, contratos, elaboração de propostas era feita no nível dessas unidades e em linha com as divisões da Alemanha. A nossa organização no Brasil é matricial. Ao mesmo tempo em que uma unidade de negócios responde ao chefe de divisão a que ela está ligada, ela também responde à unidade de negócios relativa na Alemanha. Todos esses contratos e níveis de preço eram discutidos também com a Alemanha.

Nunca nenhum leniente comentou nada com o sr.?
Em absoluto. O presidente de uma empresa desse tamanho, com essa diversificação de negócios, não é responsável pelos atos dos seus funcionários. Se um funcionário um dia fez um ato que não seguiu o compliance, não é responsabilidade do presidente da empresa, que está no nível de cima para tratar de estratégia, da infraestrutura. As metas eram colocadas, eu cobrava. Agora, detalhes dos negócios eram realizados nas unidades respectivas. E aqui não estamos falando de funcionários de último escalão, mas de funcionários importantes. E sempre matricialmente ligado com a Alemanha. Principalmente depois de 2007, a influência da Alemanha cresceu muito. Tínhamos um instrumento através do qual todas as características, as propostas técnicas e comerciais eram discutidas com a Alemanha, com as áreas correlatas.

Teve contato com presidente de Metrô ou da CPTM?

Não. Aquelas áreas é que tinham relação mais próxima. Eu nunca me sentei com funcionários públicos para tratar de temas específicos de concorrências. Até porque não me cabia como presidente.

Teve encontros com o ex-governador José Serra ou com o governador Geraldo Alckmin?

Só em eventos institucionais. Fui vice-presidente da Abdib (Associação Brasileira da Indústria de Infraestrutura de Base), o governador esteve lá. O Serra não sei, mas o Alckmin esteve. Foram eventos institucionais, públicos. 

Reuniões no Palácio dos Bandeirantes ou na empresa?

Não. Nunca estive. Aliás, nunca nenhum deles visitou a Siemens.

Quais os seus planos?

Tenho alguns convites para fazer consultorias em empresas, elas estão procurando pessoas com experiência. 

Era - Divano



'Cartel é uma praga, e é mais recorrente em compras públicas'


Em entrevista ao Estado, especialista também vê problema na ordem de classificação de empresas em licitações; ideal seria verificar preço primeiro

Em: 24 de agosto de 2013 | 2h 10

Breno Pires - O Estado de S.Paulo
O professor de Direito Concorrencial da Direito GV Mario Schapiro afirma que basta a comprovação de algum tipo de fraude em uma licitação para ser possível cancelar um contrato em andamento entre uma empresa privada e administração pública. Ele cita a Lei das Licitações (8.666/93) para sustentar que não seria necessário esperar por uma condenação por formação de cartel para tomar atitude.
Mario Schapiro é professor de Direito Concorrencial da Direito GV - Divulgação
Divulgação
Mario Schapiro é professor de Direito Concorrencial da Direito GV
Segundo Schapiro, uma hipotética declaração de inidoneidade de uma empresa envolvida em uma licitação irregular não poderia motivar uma revisão de contratos em andamento. Essa possibilidade foi discutida durante a semana, após o Tribunal de Contas do Estado (TCE) de São Paulo informar que deseja declarar inidôneas a Siemens e demais empresas que tenham atuado em suposto cartel no Estado.
Schapiro diz que empresas declaradas inidôneas só estariam impedidas de participar de licitações futuras, mas o Estado não poderia encerrar um contrato vigente, conforme decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O Tribunal de Contas do Estado quer declarar inidôneas empresas que tenham atuado em cartel no setor metroferroviário em São Paulo e, assim, vetar futuras contratações. Isso poderia atingir contratos vigentes?
Tem uma jurisprudência importante no Superior Tribunal de Justiça, da ministra Eliana Calmon, que vai dizer o seguinte: uma vez declarada a inidoneidade, isso não afeta os atuais contratos. É uma decisão da Eliana Calmon em mandado de segurança em 2008 e que tem pautado bastante a jurisprudência.
Se há suspeitas de que contratos em vigor tenham sido feitos em licitações fraudadas, qual é o papel do Estado? 
O Estado não precisa esperar o Cade para investigar se houve fraude às suas licitações. Se o Cade considerasse que não houve cartel, mas o Estado descobrisse que uma empresa foi beneficiada por um conluio com funcionários públicos, haveria uma fraude e a licitação poderia ser cancelada. A forma de se resolver isso não é por declaração de inidoneidade. É aplicar o artigo 49 da Lei 8.666, que diz que a administração pública pode anular uma licitação e o respectivo contrato se houver ilegalidade na licitação.
A Lei das Licitações e as regras do setor público em geral facilitam a formação de cartel?
A lei tem um problema, que é investir em controle de processo e restringir muito a discricionariedade (o poder de decisão) do administrador. A aposta é que, se houver mais regras, mais procedimentos, eu tenho um maior combate à corrupção. A verdade é que eu tenho muito controle de protestos, mas pouco controle de resultados.
Como melhorar essa lei?
Ela tem que ficar mais simplificada. A Lei de Licitações faz o seguinte procedimento: olho primeiro a parte documental das empresas e depois peço para apresentarem preços. Se o Estado não admite que a empresa tem problema documental, a empresa pode recorrer, ir ao Judiciário. Mas só vou saber se a empresa tem bom preço lá na frente. Licitação complicada incentiva maus administradores, traz excesso de burocracia, que é sempre um convite ao malfeito. Também é importante que o Cade passe a focar cada vez mais no combate aos cartéis de licitações. Porque, se o cartel é uma praga, ele tende a ser mais recorrente nos negócios mais recorrentes: as compras públicas.
O acordo de leniência é uma boa alternativa?
O acordo de leniência, como política, é uma boa estratégia. É muito difícil se investigar cartel. A leniência é importante porque traz uma denúncia que talvez nunca acontecesse. Nesse caso, se não houvesse acordo de leniência, talvez o Estado nunca soubesse ou só soubesse daqui a anos. 

ERA - AMENO - Legendado



A falácia dos médicos cubanos


O Estado de S.Paulo
Não poderia ser pior a medida em estudo pelo governo federal - a importação de 6 mil médicos cubanos - para resolver o problema da falta desses profissionais em cidades do interior, principalmente nas regiões mais pobres do País. Além das restrições legais ao seu trabalho aqui, que deveriam bastar para invalidar a ideia, é preciso considerar também a duvidosa qualificação técnica desses médicos. Como essa não é a primeira vez que a medicina cubana é apresentada como valiosa ajuda para a solução de nossos problemas, sem base em nenhum dado objetivo, tal insistência torna inescapável a conclusão de que o governo está misturando perigosamente política com saúde da população.
Embora a questão esteja sendo estudada, além dele, também pelos Ministérios da Saúde e da Educação, não deixa de ser significativo que tenha sido o titular do Ministério das Relações Exteriores, Antônio Patriota, que anunciou a possível adoção da medida, depois de um encontro com seu colega cubano, Bruno Rodriguez, em Brasília. "Estamos nos organizando para receber um número maior de médicos (cubanos) aqui, em vista do déficit de profissionais de medicina. Trata-se de uma cooperação que tem grande potencial e a qual atribuímos um grande valor estratégico", disse ele.
Acrescentou o ministro, de acordo com o jornal O Globo, que a vinda daqueles médicos fortaleceria ainda mais a parceria do Brasil com Cuba numa área em que este país "detém clara vantagem e se estabeleceu mundialmente como um país que contribui para elevar os níveis de saúde aqui na América Latina". Como o que está em discussão não são sistemas de saúde, mas especificamente a possível contribuição de médicos cubanos, supõe-se que Patriota, ao falar em "clara vantagem", tenha se referido à da medicina cubana sobre a brasileira. Isto é, na melhor da hipóteses, um exagero retórico, que não pode ser levado a sério, mas que coloca em evidência o componente político da medida em estudo.
Os médicos cubanos viriam como prestadores de serviço ao governo brasileiro, com contratos temporários - de dois a três anos - assinados com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Como a lei exige a revalidação dos diplomas desses profissionais para que eles possam trabalhar aqui, o Ministério da Saúde estaria tentando, desde o ano passado, negociar com o Conselho Federal de Medicina (CFM) a concessão de licença provisória por aquele período, tanto para médicos de Cuba como de Portugal e Espanha. A pronta reação do CFM ao anúncio de que aquela medida estava em estudo, com duras críticas do governo, mostra que a negociação deu em nada.
Em dura nota oficial, ele condena "qualquer iniciativa que proporcione a entrada irresponsável de médicos estrangeiros e de brasileiros com diplomas de Medicina obtidos no exterior sem sua respectiva validação". Como pela lei essa validação é obrigatória, a questão deverá ser levada à Justiça. A nota chama a medida de "agressão à Nação", porque atenderia a "interesses específicos e eleitorais". A posição adotada pelo CFM se justifica plenamente. Como o governo sabe que dificilmente os médicos cubanos conseguirão passar no exame para validação de seus diplomas, a tal licença provisória é um expediente para contornar a exigência legal.
Foram decepcionantes os resultados do exame, feito no ano passado, para a validação de diplomas de médicos, cubanos ou não, formados em Cuba. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), dos 182 inscritos, só 20 foram aprovados, ou seja, 1 de cada 9. É aos cuidados desse tipo de médico, comprovadamente sem a necessária qualificação, que o governo quer deixar a população pobre das pequenas cidades.
Têm razão portanto os especialistas, quando afirmam que a solução não é importar médicos cubanos ou contratar brasileiros formados em Cuba, sem diplomas validados. É investir cada vez mais na formação de médicos brasileiros e criar estímulos para que trabalhem no interior.

'Uoston, we have a problem': quem é o homem de Eduardo Paes na CPI dos Ônibus

Rio de Janeiro

Batizado Washigton, professor sacrificou as consoantes para facilitar a comunicação com o eleitor do subúrbio. Sem medo de vaias, atua em oito grupos de trabalho, além da CPI dos Ônibus, e se considera o "suprassumo da representatividade"

Cecília Ritto, do Rio de Janeiro
O vereador Professor Uoston, relator da CPI dos Ônibus: sem medo de ovos e vaias
O vereador Professor Uoston, relator da CPI dos Ônibus: sem medo de ovos e vaias (Alessandro Costa/Ag. O Dia)
Raramente a Câmara Municipal do Rio dá trabalho ao prefeito Eduardo Paes. Com 41 dos 51 vereadores, o Palácio Pedro Ernesto funciona, quando funciona, como uma extensão do Executivo. Mas se algo no horizonte ameaça a tranquilidade do PMDB na Casa, ‘o cara’ para resolver a questão é Professor Uoston – o nome verdadeiro é Washington. Alçado à fama com a violenta rejeição a seu nome na relatoria da CPI dos Ônibus, cujos integrantes foram definidos por ele mesmo, o “homem da prefeitura” tem sido alvo de pedras e ovos sempre que aparece em público nos arredores do prédio. Seria um problema, não fosse Uoston famoso – e orgulhoso – justamente por não ter medo de vaias  – o que, para um vereador do PMDB, na casa legislativa apelidada de Gaiola de Ouro, é uma qualidade e tanto.
Professor Uoston adotou o nome por conveniência. Afinal, é mais fácil fazer o eleitor se lembrar desta grafia do que da fartura de consoantes de Washington. O “Professor” vem da graduação em Biologia, na Universidade Federal Rural, e de um curso de mestrado em saúde pública na Fiocruz. Nascido em Ricardo de Albuquerque, Zona Norte do Rio, Washington, na década de 90, abriu um ‘escritório político’, como chama os conhecidos centros sociais, depois de tanto ser acionado para levar os vizinhos, de carro, a postos de saúde da região. Surgiu, assim, a ideia de tentar a vereança. Para encurtar o caminho entre ele e a urna, foram cortados um W, um S, um H e uma junção “gt” do nome. Ganhou vida, então, o Uoston eleito em 2000, 2008 e 2012, sempre pelo PMDB, partido ao qual é filiado há mais de 20 anos e que, atualmente, domina as duas casas legislativas e os principais cargos do Executivo no estado e no município.
Uoston é o líder do maior bloco da Câmara, composto por 24 vereadores de sete partidos, chamado ‘Por um Rio melhor’. É considerado pelo PMDB “o homem certo” para afinar as vozes que dão sustentação ao governo municipal. Ele próprio se define como “um funcionário não remunerado da prefeitura” no Legislativo do Rio, tamanha a identificação com os projetos e necessidades de Eduardo Paes – a do momento, a CPI com a qual o PMDB não concordava e que, uma vez aprovada, passou a controlar.
Escolhido relator, com o colega de partido Chiquinho Brazão na presidência da comissão, Uoston escolheu os demais integrantes do grupo: Jorginho da S.O.S e Renato Moura, também da base de Paes, assumiram as outras duas posições. Ficou isolado na quinta cadeira Eliomar Coelho, do PSOL, o proponente da CPI.
Entre os manifestantes, todos querem Eliomar. Ninguém quer Uoston, Brazão e o PMDB. Além de não terem assinado o requerimento pedindo a abertura da comissão, Uoston e sua turma votaram a favor da redução do ISS para as empresas de ônibus para 0,01%, em 2010. O professor se defende, diz que com isso conseguiu a implantar o Bilhete Único no Rio. A verdade é que Uoston não teme nem se constrange com a opinião pública. Sob vaias, gritos de “vergonha” e outras palavras de ordem, levantou a voz na quinta-feira, durante a primeira audiência da CPI, para criticar o PSOL, para ira de quem conseguiu, em meio ao barulho, entender algo do que era dito na tribuna. A reação do grupo que lidera os protestos contra a composição da CPI veio na forma de uma sapatada, que por pouco não atingiu Uoston. “Ato covarde e mesquinho”, disse, para uma plateia indiferente, equipada com apitos.
Uoston avisa que não deixará a cadeira na CPI – ainda que a orientação do cardiologista seja para dar um tempo na exposição desde que sofreu um enfarto em 3 de maio. “Sou homem de firmar posição. Não entrei na política para chegar e sair despercebido”, afirma. Uoston tem em Jorge Picciani, presidente do PMDB no Rio, o principal apoio dentro da legenda. E foi alçado a relator da CPI dos Ônibus, cargo mais importante em uma comissão parlamentar de inquérito, pelo presidente municipal da legenda, Carlos Alberto Muniz.
Picciani e Muniz estão com ele. E ele está em todas: além da CPI dos Ônibus, Uoston atua em outras oito comissões da Casa. É integrante do grupo de Assuntos Urbanos, de Avaliação e Verificação do Efetivo Cumprimento das Leis Municipais, da Atualização da Lei 1.533 das Feiras Especiais de Arte, do Acompanhamento dos Trabalhos de Despoluição da Baía de Guanabara, de Acompanhamento das Obras de Implantação dos Corredores Transcarioca e Transoeste, de Organização do Comércio Ambulante, da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 e do Conselho de Ética. Uoston é também o presidente da comissão de Finanças, Orçamento e Fiscalização Financeira, por onde é analisada a Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Rio: Protesto no Centro terminou em mais um confronto entre manifestantes e polícia nesta segunda (19/8)
Rio: Protesto no Centro terminou em mais um confronto entre manifestantes e polícia nesta segunda (19/8) - Pedro Kirilos/Agência O Globo
Uoston preside a comissão de Finanças desde 2008. “Ninguém trabalha mais do que eu aqui”, diz. Com a caneta, é ele quem coloca as emendas no orçamento, sempre se lembrando de sua região eleitoral. Para 2014, Uoston já sabe quais serão as frentes de atuação. Criará emendas para levar obras do projeto Bairro Maravilha – que constrói calçadas, pavimenta ruas e recupera redes de esgoto – a seis áreas, além de construir uma Nave do Conhecimento, com a oferta de cursos técnicos, e uma Clínica da Família na região Norte da cidade.
Na primeira oportunidade de abertura para perguntas ao secretário de Transportes da cidade, Carlos Osório, na quinta-feira, durante a CPI, Uoston aproveitou para interceder por sua base de eleitores. Reclamou de duas linhas de ônibus e pediu pela rápida melhoria, mostrando que sabe faturar em cima das adversidades. “Sou suburbano. Fui aluno do colégio Pedro II, da faculdade Rural, sou professor e estou vereador para representar uma parcela do subúrbio. Não posso trair essa população”, diz Uoston.
No meio da crise pela qual passa a Câmara, Uoston vai pedir audiência com Paes para tratar do alagamento de casas na antiga estrada do Rio do Pau. Este ano, já foram cerca de 10 reuniões como prefeito, que não costuma demorar três dias para receber o vereador no gabinete. “Sou um grande funcionário da prefeitura não remunerado. Vejo as necessidades e passo a responsabilidade para o prefeito executar as obras”, justifica.
Uoston usa seu conhecimento para criar frases de efeito. Depois de se esquivar do sapato, saiu-se com esta, para atordoar qualquer interlocutor: "A sapatada no pegou em mim, mas eu me adaptei e digo o seguinte: eu sou o suprassumo da representatividade de que não se faz omeletes se na o quebrar os ovos".
Por não ter medo de pedra, ovos e vaias, Uoston acabou se tornando uma espéie de porta-voz de um grupo que, quando aparece, apanha. Apesar de ser Chiquinho Brazão o presidente da comissão, é ele, Uoston, quem tem aparecido – e recebido ataques. Na abertura da CPI, a palavra até estava com Brazão, que começou os trabalhos com uma saudação: “Cidadões...” Melhor deixar com o professor.

PMDB 'convoca' Paes para ajudar na sucessão de Cabral

 Por WILSON TOSTA / RIO, estadao.com.br
Prefeito do Rio, menos desgastado nos protestos que o governador, aceita participar de agenda de rua do vice Luiz Pezão



Com o governador Sérgio Cabral desgastado por manifestações que chegaram a pedir seu impeachment, o comando do PMDB no Rio resolveu recorrer ao prefeito Eduardo Paes, também peemedebista, para promover a pré-candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão à sucessão estadual.
Paes, segundo o presidente estadual do partido, Jorge Picciani, vai intensificar as agendas de rua ao lado de Pezão na capital, como já fez no fim da semana passada na zona oeste. Ao que tudo indica, Cabral adotará atitude mais discreta em eventos no Rio para não "contaminar" seu vice.
A participação do prefeito ao lado de Pezão não é novidade, mas, avisa Picciani, será intensificada. "A novidade é gastar um pouco mais de sola de sapato", declarou. "Como coordenador de campanha do PMDB, começo a colocar na rua a força política do partido", disse.
Com as manifestações do fim do primeiro semestre, a popularidade de Paes, como a de outros governantes, caiu. Porém, mesmo com o tombo de 20 pontos porcentuais detectado pelo Ibope, sua situação é melhor que a de Cabral, que, além de despencar nas pesquisas, virou alvo da campanha "Fora, Cabral".
Assim, o PMDB, que administra tanto o Estado quanto a prefeitura do Rio, aparentemente mudou de estratégia: Paes passa a ser o principal cabo eleitoral de Pezão na capital. O governador, no entanto, tem levado o vice a cidades da periferia e do interior, onde seu desgaste é menor do que na capital fluminense.
Desgaste. A popularidade de Paes, porém, começa a ser testada em maior profundidade. Um dos desafios é a greve dos professores municipais, categoria com tradição de organização de mais de 30 anos, que promove protestos quase diários contra Paes e Cabral.
Moradores de comunidades afetadas por obras da prefeitura também têm direcionado suas reclamações ao prefeito. No fim de semana passado, promoveram vigília de 17 horas na porta da sua residência oficial, na Gávea Pequena, protestando contra remoções.
Apesar de contar com apenas um membro da oposição, outra possível fonte de desgaste para Paes é a CPI dos Ônibus da Câmara Municipal, que teve início na semana passada. Curiosamente, mesmo os manifestantes que ocuparam o Legislativo municipal por 12 dias pediram a saída do governador do cargo.

Americano cria copo que detecta presença de "Boa noite, Cinderela"

Inovação

Ainda em fase de desenvolvimento, os produtos, que além de copos incluem canudos, mudam de cor caso alguma substância seja adicionada à bebida

Alerta: listras vermelhas aparecem no copo caso alguma droga seja adicionada à bebida
Alerta: listras vermelhas aparecem no copo caso alguma droga seja adicionada à bebida (Divulgação)
Uma ideia financiada por meio do crowdfunding (financiamento coletivo) pode ajudar a evitar casos do conhecido golpe "Boa noite, Cinderela": copos e canudos que mudam de cor quando detectam a presença de drogas na bebida. Esse tipo de crime consiste em drogar a vítima sem que ela perceba, adicionando alguma substância entorpecente em sua bebida, deixando-a vulnerável a roubos ou violência sexual.
Em 2010, Mike Abramson, que hoje é o fundador da DrinkSavvy ("beba com consciência" em tradução livre), empresa que está desenvolvendo os produtos, ficou desacordado após tomar seu primeiro drinque em uma festa de aniversário. Ele despertou sem se lembrar do ocorrido e, felizmente, sem nenhum ferimento. Sua suspeita é ter sofrido uma tentativa de roubo ou ter consumindo uma bebida destinada a outra pessoa.
As "rapes drugs" (drogas de estupro, em tradução livre), nome dado a drogas anestésicas ou sedativas utilizadas para dopar pessoas para depois estuprá-las ou roubá-las, não apresentam cor, sabor ou cheiro, sendo muito difíceis de detectar pelas vítimas. Por essa razão, Abramson teve a ideia de unir as substâncias capazes de acusar a presença dessas drogas com os próprios recipientes em que elas são colocadas. O projeto está sendo desenvolvido por ele, em parceria com John MacDonald, que tinha sido seu professor de química no Instituto Politécnico Worcester, nos Estados Unidos.
Em menos de dois meses de campanha no site IndieGogo, especializado neste tipo de financiamento, o DrinkSavvy ultrapassou os 50.000 dólares da meta de arrecadação, totalizando 52.089 dólares.
Os primeiros produtos serão enviados para as pessoas que contribuíram com a arrecadação no final de novembro. Serão produzidos no momento canudos, mexedores de bebida e copos de plástico, mas a empresa pretende avançar para copos de vidro, garrafas e latas no futuro. Os produtos detectam os três tipos de rape drugs mais comuns: GHB (ácido gama-hidroxibutírico), cetamina e flunitrazepam.

The Doors - Touch Me (Live)