domingo 14 2012

Nestlé reduzirá porcentagem de sal e açúcar de cereais matinais(VEJA)


Alimentação

Até 2015, a empresa suíça e a General Mills devem reestruturar suas marcas de cerais e reduzir o porcentual de açúcar e sódio em 24% e 12%, respectivamente

Logotipo da Nestle em frente à fábrica em Orbe, Suíça
Logotipo da Nestle em frente à fábrica em Orbe, Suíça (Joao Vieria/Reuters)
A Nestlé e a General Mills deverão reduzir o porcentual de açúcar e sal de seus cereais matinais até 2015. A medida valerá para os 140 países em que as duas empresas estão presentes, com exceção da América do Norte, de acordo com informações da Reuters. As duas empresas formaram há cerca de 20 anos uma joint-venture que atua no mercado de cereais fora dos Estados Unidos. Chamada de Cereal Partners Worldwide (CPW), a empresa responde por cerca de metade das vendas globais de cereais das duas marcas, e conta com faturamento anual de cerca de 25 bilhões de dólares.
Segundo a reportagem, a CPW tem como meta reduzir em 24% e 12%, respectivamente, os percentuais de açúcar e sódio nos cereais matinais. O plano também prevê aumentar o percentual de grãos integrais nos alimentos. De acordo com o presidente da CPW, Jeffrey Harmening, a empresa já cortou 900 toneladas de sal e mais de 9 mil toneladas de açúcar de suas receitas desde 2003. "Algumas mães não querem que seus filhos consumam tanto açúcar como estão consumindo agora, e essa é uma barreira para que comprem cereais matinais", afirma Harmening.
A decisão ocorre em um momento em que empresas de alimentos e bebidas procuram oferecer produtos mais saudáveis devido ao aumento da obesidade no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMC) estima que mais de 42 milhões de crianças abaixo de cinco anos estejam acima do peso.
Entre as marcas de cereais comercializadas pela Nestlé no Brasil estão Estrelitas e Nesfit.

Substância presente no cérebro faz desejo por chocolates aumentar(VEJA)


Pesquisa

Neurotransmissor que se liga a receptores que provocam prazer é responsável por aumentar o impulso e o desejo de comer o doce em ratos, mostrou estudo

Chocolate: alto consumo pode reduzir índice de problemas cardiovasculares e de derrame
Impulso e desejo súbito pelo chocolate pode estar relacionado com a liberação de um neurotransmissor que se liga aos receptores opióides no cérebro (Thinkstock)
Pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, encontraram novas evidências em ratos para explicar como os doces de chocolate podem se tornar irresistíveis, mesmo quando não estamos com fome. Segundo eles, o desejo de comer em exagero esses doces tem reflexo em uma área do cérebro com reações similares às do consumo de drogas. O estudo foi publicado no periódico Current Biology.
"Isso significa que o cérebro tem sistemas mais abrangentes para levar ao consumo em excesso de substâncias que ativam o centro de recompensas, mais do que se imaginava antes”, diz Alexandra DiFeliceantonio, da Universidade de Michigan. "Essa pode ser uma razão pela qual o consumo excessivo é um problema hoje."
Alexandra e sua equipe fizeram ao estudar o corpo estriado (região cerebral localizada perto do tálamo, e normalmente relacionada ao movimento). Os animais que tiveram essa região estimulada acabaram comendo mais do que o dobro de chocolates que normalmente consumiam. O neurotransmissor encefalina (que tem um efeito similar à morfina) também aumentou quando os animais começavam a comer o chocolate. Essa substância se liga aos receptores opióides no cérebro e causa sensação de euforia. Os químicos do cérebro aumentaram o desejo e o impulso de comer o doce.
"Essa mesma região do cérebro que nós testamos é ativada quando obesos veem alimentos e quando viciados em drogas veem cenas de drogas", diz Alexandra. "Parece provável que nossa descoberta com a encefalina signifique que esse neurotransmissor pode levar a algumas formas de consumo em excesso e ao vício em algumas pessoas."

Países que consomem mais chocolate têm mais vencedores do Nobel, diz estudo(VEJA)


Pesquisa

Pesquisador da Universidade de Columbia calculou o número de prêmios Nobel por cada 10 milhões de pessoas em 23 países e o comparou com dados fornecidos pelas principais fabricantes do produto

Os flavonoides demonstraram a capacidade de reduzir o risco de demência e melhorar a função mental nos idosos
O chocolate melhora funções cognitivas, condição sine qua non para quem quiser ganhar um Nobel, diz o pesquisador(Philippe Huguen/AFP)
Quanto mais chocolate consumir a população de um país, mais prêmios Nobel este país vai conquistar, o que prova que o cacau pode aumentar a capacidade intelectual de seus consumidores. Essa afirmação, que pode parecer um tanto exagerada, consta de um estudo publicado nesta quarta-feira na respeitada revista médica New England Journal of Medicine.
Os flavonoides, poderosos antioxidantes presentes nos grãos de cacau, no chá verde e no vinho tinto, demonstraram a capacidade de reduzir o risco de demência e melhorar a função mental nos idosos, explica Franz Messerli, autor da pesquisa. Ele é médico na Universidade de Columbia, em Nova York, e no St. Luke's-Roosevelt Hospital. "Dado que o chocolate hipoteticamente pode melhorar a função cognitiva nos indivíduos e, por isso, a população em seu conjunto, me perguntava se poderia existir uma correlação entre o consumo de cacau em um país e a capacidade intelectual de sua gente."
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Chocolate Consumption, Cognitive Function, and Nobel Laureates

Onde foi divulgada: The New England Journal of Medicine

Quem fez: Franz H. Messerli, médico na Universidade de Columbia e no St. Luke's-Roosevelt Hospital

Dados de amostragem: Número de vencedores de prêmios Nobel e a quantidade de chocolate consumida per capita em 23 países

Resultado: O doutor Franz Messerli encontrou uma correlação entre a quantidade de chocolate consumida e o número de vencedores de prêmios Nobel. Países com mais premiações comem mais barras de chocolate por ano.
Messerli afirma que é concebível que o número total de prêmios Nobel per capita dê alguma medida da função cognitiva geral de um país. E, segundo suas observações, "há uma correlação significativa surpreendente entre o consumo de chocolate per capita e o número de prêmios Nobel por cada dez milhões de pessoas em um total de 23 países". 
A Suíça encabeça tanto o número de prêmios Nobel como a quantidade consumida de chocolate, afirma Messerli, que diz ter utilizado as estatísticas de consumo fornecidas por diferentes fabricantes. Estados Unidos, França e Alemanha se encontram no meio, enquanto a China, o Japão e o Brasil estão no final da classificação e precisariam aumentar o consumo de chocolate na dieta de seus habitantes.
A Suécia é a exceção. Enquanto, segundo os cálculos, com 6,4 quilos de chocolate consumidos por habitante por ano os suecos deveriam ter conquistado cerca de 14 prêmios Nobel, na realidade acabaram levando 32 ao todo. Há duas explicações possíveis, segundo o pesquisador:



 "O Comitê Nobel de Estocolmo pode ter favorecido os suecos, ou os suecos podem ser particularmente sensíveis aos efeitos do chocolate." Ele considerou os vencedores da premiação até 2011.
Messerli estima que cada cidadão teria de comer 400 gramas de chocolate por ano para aumentar em um o número de vencedores do prêmio Nobel, em um determinado país. Isso significaria um consumo de 125 milhões de quilos de chocolate, por ano, só nos Estados Unidos.
O cientista acrescentou que estes dados se baseiam no consumo médio por país e que a quantidade de chocolate consumida individualmente pelos ganhadores do Nobel "é desconhecida", da mesma forma que as doses acumuladas de cacau necessárias para aumentar as possibilidades de ganhar um Nobel.
"O consumo de chocolate melhora as função cognitiva, condição sine qua non para ganhar o prêmio Nobel, e está diretamente relacionado ao número de vencedores do prêmio em cada país", diz Messerli. "Ainda é preciso determinar se o consumo de chocolate é o mecanismo secreto para a associação observada", conclui. Mesmo na dúvida, ele prefere não arriscar. Como nota de rodapé, Messerli informa que saboreia diariamente chocolate, na maioria barras de variedades amargas da famosa marca suíça Lindt.

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(Com Agence France-Presse) 

Britânico e japonês ganham Nobel de Medicina por pesquisas com células-tronco(VEJA)


Prêmio

Cientistas foram premiados por estudos, com mais de 40 anos de diferença, que descobriram o potencial das células maduras de se transformar em células-tronco pluripotentes, que dão origem a todos os tecidos do corpo

células-tronco
Pesquisadores descobriram que, ao manipular o DNA no núcleo de células maduras, elas poderiam se tornar células-tronco pluripotentes. (Thinkstock)
Os cientistas John B. Gurdon, da Inglaterra, e Shinya Yamanaka, do Japão, foram agraciados nesta segunda-feira com o Prêmio Nobel de Medicina de 2012. Suas pesquisas foram responsáveis por descobrir, com 40 anos de diferença, que células maduras e especializadas poderiam ter seu estado revertido e se transformar em qualquer célula do corpo.
O britânico John B. Gordon descobriu há 50 anos que a especialização das células era reversível. Em sua pesquisa, ele substituiu o núcleo celular dentro do óvulo de um sapo pelo núcleo de uma célula intestinal madura. Como o óvulo se desenvolveu de modo normal, ele provou que o DNA da célula madura e diferenciada ainda continha as informações necessárias para desenvolver todas as células do corpo.

Saiba mais

CÉLULAS-TRONCO
Também chamadas de células-mãe, as células-tronco podem se transformar em qualquer um dos tipos de células do corpo humano e dar origens a outros tecidos, como ossos, nervos, músculos e sangue. Dada essa versatilidade, elas vêm sendo testadas na regeneração de tecidos e órgãos de pessoas doentes.
CÉLULA-TRONCO PLURIPOTENTE INDUZIDA (iPS)
Célula adulta especializada que foi reprogramada geneticamente para o estágio de célula-tronco embrionária. Pode se transformar em qualquer tecido do corpo. Elas são obtidas por meio da reprogramação genética de células adultas. Uma célula somática (não envolvida diretamente na reprodução), como a da pele, pode "voltar" a um estágio similar ao de célula-tronco embrionária pela adição de alguns genes.
Em 2006, o japonês Shinya Yamanaka foi mais longe. Enquanto na pesquisa de Gordon era necessário introduzir o núcleo de outra célula, Yamanaka conseguiu fazer com que células maduras de ratos fossem reprogramadas para voltarem ao estágio de células-tronco. Ao introduzir apenas uma pequena quantidade de genes, ele conseguiu reprogramar as células especializadas, e acabou criando o que ficou conhecido comocélula-tronco pluripotente induzida. Essas descobertas mudaram a visão dos cientistas sobre a especialização celular, e deram origem ao desenvolvimento de diversas novas terapias.
Trajetória – Ainda na década de 60, John B. Gurdon desafiou o dogma científico corrente que propunha que o caminho percorrido para uma célula imatura se tornar especializada era uma via de mão única. Sua teoria era que o genoma dessas células maduras ainda continha as informações necessárias para desenvolver todos os outros tipos de células do corpo.

Perfil

O britânico John B. Gurdon, que venceu o Nobel de Medicina ao lado do japonês Shinya Yamanaka
Sir John Gurdon
Nascido em 1933 em Dippenhall, na Grã-Bretanha, completou seu doutorado na Universidade de Oxford em 1960, e o pós doutorado no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech). Atualmente é professor emérito de Biologia do Desenvolvimento no Departamento de Zoologia da Universidade de Cambridge. Também dirige, na mesma universidade, um instituto que leva o seu nome, voltado para a pesquisa sobre câncer e biologia do desenvolvimento.

Shinya Yamanaka
Shinya Yamanaka
Nasceu em Osaka, Japão, em 1962. Antes de se dedicar à pesquisa básica, se formou em medicina em 1987, e chegou a ser cirurgião ortopédico. Em 1993 se tornou PhD pela Universidade de Osaka. Trabalhou no Instituto Gladstone, em São Francisco, nos Estados Unidos, que realiza pesquisas sobre doenças cardiovasculares, virais e neurológicas. Atualmente é professor na Universidade de Kyoto.
Ele testou essa hipótese ao substituir o núcleo de um óvulo de sapo pelo núcleo de uma célula do intestino do animal. Como o óvulo deu origem ao girino de modo normal, ele provou que o DNA presente no intestino do animal ainda era capaz de se diferenciar em células de todo o organismo, com células nervosas e musculares – cada uma especializada para tarefas específicas do corpo. Sua pesquisa foi inicialmente vista com ceticismo, mas foi confirmada por outros cientistas e é hoje considerada uma referência na área.
Mais de 40 anos depois, Shinya Yamanaka provou que, para criar novas células-tronco a partir de células especializadas, não era necessário transplantar seu núcleo para um embrião – era possível reverter o estado da célula original. Para isso, ele estudou células-tronco embrionárias, retiradas de embriões e cultivadas em laboratório, em busca de quais genes permitiam que elas se mantivessem imaturas.
Ao descobrir vários desses genes, ele testou diversas combinações para reprogramar células maduras conhecidas como fibroblastos. Por fim, ficou provado que a introdução de apenas quatro genes poderia levar à criação de uma célula-tronco pluripotente induzida. A pesquisa trouxe esperança na comunidade científica, por produzir células-tronco sem a necessidade de se destruir embriões. Na semana passada, pesquisadores japoneses anuciaram que usaram a técnica para transformar células da pele de ratos em embriões, que foram capazes de produzir ratos bebês.
O Prêmio Nobel de medicina é concedido desde 1901. No ano passado, ele foi dado  a três cientistas por suas pesquisas com o sistema imunológico.

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"Pais solteiros" de espécie de aracnídeo vivem mais(VEJA)


Biologia

Opiliões que cuidam sozinhos dos ovos da espécie enfrentam dificuldades para se alimentar. Mesmo assim, vivem mais e têm vantagens na hora de acasalar

Guilherme Rosa
macho
Na espécie Iporangaia pustulosa, são os os machos que costumam cuidas dos ovos (Gustavo Requena/Divulgação)
Os opiliões são aracnídeos muito parecidos com as aranhas, mas com algumas diferenças fundamentais. De pernas excepcionalmente longas, eles não possuem nenhum tipo de veneno e não são capazes de produzir teias. Além disso, têm um comportamento extremamente raro na natureza, e inexistente entra as aranhas: os machos dos opiliões costumam tomar conta dos ovos de suas crias sozinhos, sem a ajuda das fêmeas.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Paternal Care Decreases Foraging Activity and Body Condition, but Does Not Impose Survival Costs to Caring Males in a Neotropical Arachnid

Onde foi divulgada: revista PLOS ONE

Quem fez: Gustavo S. Requena, Bruno A. Buzatto, Eduardo G. Martins, Glauco Machado

Instituição: Instituto de Biociências, USP

Dados de amostragem: 501 opiliões machos e 349 fêmeas, encontrados no Parque Estadual Intervales, no sul do estado de São Paulo

Resultado: A pesquisa mostrou que os machos que cuidam dos ovos não conseguem se alimentar tão bem quanto os outros e apresentam pior estado físico. Mesmo assim, eles vivem mais, pois não são devorados por predadores
Por sua raridade, esse comportamento de "pai solteiro" chama a atenção de inúmeros cientistas, que procuram por sua vantagem evolutiva. Agora, um estudo publicado por um biólogo brasileiro na revista PLOS ONEmostrou que, apesar de algumas desvantagens no curto prazo, o cuidado paterno exclusivo faz com que esses machos vivam mais e levem vantagem na hora do acasalamento. A pesquisa foi realizada com a espécieIporangaia pustulosa e foi publicada pelo pesquisador Gustavo Requena como parte de seu doutorado no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.
Nessa espécie, as fêmeas costumam pôr seus ovos na superfície de uma folha e ir embora – o cuidado fica a cargo dos machos. Os ovos demoram cerca de um mês para eclodir. No entanto, o opilião macho pode receber a visita de uma outra fêmea nesse período, acasalar com ela, e receber mais uma leva de ovos para cuidar. "Assim, ele pode passar até cinco meses cuidando das crias", disse Gustavo Requena ao site de VEJA. 








Esse comportamento traz uma vantagem já conhecida para a sobrevivência da espécie: os pais protegem os filhos da ação de predadores. Em uma pesquisa anterior, Gustavo Requena removeu os machos de perto de seus ovos e percebeu que, em pouco tempo, eles foram completamente devorados. "Já sabíamos que a presença paterna ajudava na sobrevivência dos filhos. O que quisemos ver agora era se o comportamento trazia vantagens ou desvantagens para os pais", diz Gustavo.
Tempo de vida - Os pesquisadores seguiram as aranhas por um ano para observar como o cuidado paterno exclusivo afetou suas chances de sobrevivência. A primeira evidência: o comportamento trazia uma grande desvantagem física para esses machos, que se viam impossibilitados de procurar por comida. "Essa espécie costuma se alimentar da carcaça de outros animais. Quanto mais tempo os machos cuidavam dos ovos, menos eles comiam e iam ficando cada vez mais fracos", diz Gustavo.
Gustavo Requena/Divulgação
procriação
O fato de ter um macho para cuidar dos ovos ajuda a atrair as fêmeas para a procriação
No entanto, essa desvantagem não teve grande impacto no tempo de vida do animal. Os pesquisadores perceberam que, apesar de mais fracos, eles viviam mais do que os outros machos e as fêmeas. Isso acontecia porque os principais predadores dessa espécie de opilião são aranhas, que não precisam caçar suas presas, mas podem simplesmente esperar até que elas caiam em sua teia. Consequentemente, os machos que permanecem meses parados cuidando de seus filhos acabam vivendo mais.
Segundo o pesquisador, outra grande vantagem que esses machos tinham era na hora do acasalamento. Como estava disposto a cuidar dos filhos por um longo período, o pai solteiro era considerado uma espécie de bom-partido pelas fêmeas em busca de parceiros. "Um macho com esse comportamento mostra para a fêmea que está disposto a proteger seus ovos", afirma Gustavo Requena. O pesquisador conclui que, ao combinar uma maior taxa de sobrevivência e de acasalamento, a adoção esse comportamento passa a ser vantajoso para os opiliões.

"Esses machos podem acasalar com 10 a 15 fêmeas e cuidar dos ovos de todas"

Gustavo Requena
Biólogo do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo

O que são os opiliões? Eles são aracnídeos, parentes das aranhas. Normalmente, o público não consegue ver muita diferença entre eles, mas os opiliões não tem teia e não produzem nenhum tipo de veneno – eles não apresentam perigo. A espécie que estudamos é aIporangaia pustulosa, que vive em uma reserva de Mata Atlântica aqui em São Paulo. O cuidado paterno exclusivo costuma aparecer com bastante frequência entre os opiliões.
E como é esse comportamento? Em algumas espécies de opilião, os machos carregam os ovos em sua perna e os levam consigo para onde vão. Na espécie que estudei, as fêmeas colocam seus ovos em uma folha e vão embora, deixando o cuidado para os pais. São eles quem vão proteger os ovos contra qualquer tipo de predador.
Esse comportamento pode trazer alguma desvantagem? Enquanto estão parados em cima dos ovos, esses machos têm muito menos acesso a comida. Ao comparar esses machos com aqueles que não assumem esse comportamento, vimos que eles ficam muito mais fracos. Quanto mais tempo passam perto dos ovos, piores ficam suas condições físicas.
E, mesmo assim, eles vivem mais? Isso mesmo. A principal fonte de mortalidade desses bichos é por conta da predação. O principal predador dessa espécie são aranhas que adotam a estratégia de “senta e espera”. Elas constroem suas teias e ficam paradas esperando pela comida. Por isso, elas só vão comer os opiliões que se deslocam pelo mato, o que não é o caso daqueles cuidando de seus ovos.
Como esse comportamento afeta o acasalamento? Esses machos cuidam dos ovos de várias fêmeas diferentes, então nada impede que eles copulem enquanto isso. Eles podem acasalar com 10 a 15 fêmeas e cuidar dos ovos de todas. Na verdade, um pai que cuida dos ovos se torna mais atrativo para as fêmeas. Ele mostra que poderia também cuidar dos ovos dela. Só que, para isso, ele cobra um preço, que é a cópula.

Câncer de mama é dividido em dez subtipos, diz estudo(VEJA)


Oncologia

Descoberta deve servir para a elaboração de tratamentos personalizados para cada tipo de câncer de mama

Mamografia: pesquisa ajudará a criar tratamentos personalizados
Mamografia: pesquisa ajudará a criar tratamentos personalizados para as pacientes com câncer de mama (Thinkstock)
O câncer de mama reúne dez subtipos de tumores diferentes entre si, afirma estudo publicado nesta quarta-feira na revista Nature. A descoberta deve servir para a elaboração de tratamentos personalizados para cada tipo de câncer de mama, baseados em fatores como informação genética, antecedentes familiares e histórico clínico do paciente.
A pesquisa, que envolveu vinte cientistas das universidades de Cambridge (Grã-Bretanha) e Columbia Britânica (Canadá), conseguiu identificar dez subtipos de câncer de mama, assim como algumas das diferenças genéticas e moleculares entre eles. Foram analisados os DNAs de 2.000 tumores, durante cinco anos.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: The genomic and transcriptomic architecture of 2,000 breast tumours reveals novel subgroups

Onde foi divulgada: revista Nature

Quem fez: Carlos Caldas, Samuel Aparicio e equipe

Instituição: Universidade de Cambridge e Universidade da Columbia Britânica

Dados de amostragem:
 2.000 amostras de tumores retirados de mulheres diagnosticadas com câncer de mama entre 10 e 5 anos atrás

Resultado: O estudo classificou o câncer de mama em pelo menos 10 subtipos diferentes. A nova classificação pode mudar o modo como os medicamentos são prescritos e futuramente deve personalizar o tratamento.
"O câncer de mama não é só uma doença, mas dez doenças distintas. São doenças realmente diferentes entre si do ponto de vista clínico e biológico, já que nelas agem diferentes genes. Essa descoberta representa uma perspectiva completamente nova do câncer", afirmou o coordenador do estudo, o médico português Carlos Caldas, da Universidade de Cambridge.
Os pesquisadores encontraram dezenas de genes relacionados ao câncer de mama que eram desconhecidos até agora, o que pode servir como novo caminho para o tratamento. "Conseguimos identificar genes que eram muito abundantes em um tipo de tumor, mas que estavam praticamente ausentes em outros tipos", disse Caldas.
Ramificações — Só em um dos dez subtipos identificados, os cientistas descobriram uma presença significativa de gene hereditário, denominado Bric1, que predispõe a mulher ao câncer de mama.






Um outro gene, desconhecido até agora, chama a atenção dos pesquisadores. "Surpreendentemente, neste caso, observamos uma atividade interessante dos linfócitos, o que sugere que o sistema imune provavelmente reconhece estes tumores e reage contra eles", detalhou o pesquisador.

"Se pudéssemos investigar por que, nesses tumores, o sistema imune é ativado, poderíamos tentar encontrar formas para estimular o sistema imunológico para combater outros tipos de câncer de mama", afirmou Caldas.

Mapa — As conclusões do estudo de Caldas equivalem a um novo mapa contra o câncer de mama tanto no âmbito clínico como no laboratorial. Os testes clínicos deverão levar em conta essas informações e cada um dos tipos descobertos.

Embora não descarte a existência de algum tipo adicional além dos dez identificados, Caldas acredita que esses são os principais e que, a partir de agora, os pesquisadores encontrarão suas ramificações.

Exame de sangue pode prever risco de câncer de mama(VEJA)


Câncer

Cientistas descobrem mudança genética que favorece desenvolvimento da doença

câncer de mama
Teste deve ajudar médicos a identificar pacientes que devem passar por ações específicas de prevenção contra o câncer de mama. (Thinkstock)
Um simples exame de sangue pode ajudar a prever a possibilidade de uma mulher desenvolver câncer de mama. Cientistas do Imperial College, em Londres, descobriram uma associação entre o risco da doença e uma alteração genética nas células brancas do sangue. Segundo os pesquisadores, um teste que analise mudanças específicas no gene ATM dessas células pode medir a possibilidade de uma paciente desenvolver o câncer. Isso poderia ajudar os médicos a identificar mulheres que se beneficiariam de ações preventivas contra a doença. 

Saiba mais

EPIGENÉTICAÉ o nome que se dá para as mudanças que acontecem nos genes sem, no entanto, alterar o código genético de um indivíduo. É diferente de uma mutação. Enquanto em uma mutação o código genético é alterado, a epigenética só muda como um gene funciona ou não. Essa mudança pode ser causada por fatores ambientais, como poluição ou mesmo pela prática de exercícios, e pode ser passada para as gerações seguintes.
Os cientistas analisaram 1.381 amostras de sangue utilizadas em outros três estudos. Dessas amostras, 640 eram de mulheres que viriam a desenvolver câncer de mama no futuro – algumas demoraram até 11 anos para diagnosticar a doença. Ao analisar as células brancas dessas amostras, eles descobriram que uma mudança molecular chamada metilação do gene ATM podia servir como um marcador de risco para a doença. Segundo o estudo, as mulheres com maior grau de metilação no gene apresentavam o dobro de chance de desenvolver câncer do que aquelas com o menor grau. A pesquisa foi publicada na revista Cancer Research.
A metilação é um mecanismo epigenético, que faz com que fatores ambientais modifiquem o DNA. Ela funcionaria como um interruptor, ligando ou desligando o gene. Entre os fatores ambientais que poderiam desencadear tal reação estão o fumo, poluição, radiação, envelhecimento e consumo de álcool. Os pesquisadores, no entanto, não souberam apontar por que uma mudança no DNA das células brancas favoreceria o desenvolvimento do câncer. 
Os cientistas já sabiam que alguns fatores genéticos podiam desencadear o câncer, mas ainda faltavam estudos sobre sua epigenética. Agora, com a nova pesquisa, eles podem ver como alterações no DNA aumentam o risco de um paciente desenvolver a doença, com até décadas de antecedência.

Exame de sangue pode salvar vida de pacientes com câncer de mama


Saúde da mulher

Níveis de células tumorais na corrente sanguínea podem indicar a probabilidade de sobrevivência de uma pessoa

No futuro, novos exames de sangue poderão ajudar no tratamento de várias doenças
Exame de sangue pode prever quais mulheres com câncer de mama têm maiores chances de morte ou de voltarem a apresentar a doença após o tratamento (Comstock Images)
Um simples exame de sangue pode salvar vidas, ajudando médicos a diagnosticar rapidamente se uma paciente com câncer de mama em estágio inicial corre um risco de morte ou de reincidência depois do tratamento. Essa descoberta faz parte de uma pesquisa publicada nesta quarta-feira no periódico The Lancet Oncology. No artigo, os autores explicam que as células tumorais em uma amostra de sangue, quando analisadas na etapa inicial da doença, permitem prognosticar acertadamente as probabilidades de sobrevivência da pessoa com a doença.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Circulating tumour cells as biomarkers in early breast cancer

Onde foi divulgada: periódico The Lancet Oncology

Quem fez: Jonathan Krell e Justin Stebbing

Instituição: Universidade do Texas, Estados Unidos

Dados de amostragem: 302 mulheres com câncer de mama em estágio inicial

Resultado: 10% das mulheres que tinham células tumorais no sangue quando a doença estava em estágio inicial morreram em um período de cinco anos. Por outro lado, essa taxa foi de 2% entre pacientes que não apresentaram as células tumorais no sangue
Segundo os pesquisadores, que são do Centro Médico Anderson para o Câncer da Universidade do Texas (MD Anderson), nos Estados Unidos, esses resultados podem ajudar a identificar de maneira mais rápida as pacientes para as quais seria benéfico receber um tratamento adicional como a quimioterapia. "A presença de uma ou mais células tumorais em circulação (CTCs, no sangue) prognostica uma recidiva precoce e uma sobrevivência geral inferior", disseram os cientistas. Ou seja, quantas mais CTCs encontrarem, maior será o risco de morte.
Em geral, não se costuma fazer exames de sangue de CTC para efetuar um prognóstico do paciente ou prescrever um tratamento, já que, na maioria das vezes, acredita-se que os tumores cancerosos se disseminam através do sistema linfático, e não na corrente sanguínea.
Nesse estudo, a equipe fez testes com 302 mulheres tratadas no centro da universidade entre fevereiro de 2005 e dezembro de 2010. As pacientes estavam nas primeiras fases de câncer de mama — antes de se espalhar para outras partes do corpo — e não tinham recebido quimioterapia.


A equipe encontrou CTCs em um quarto das pacientes. Entre as pacientes cujos exames não mostraram CTCs, houve uma taxa de recidiva de 3% e uma taxa de óbitos de 2%. Das que tinham células tumorais no sangue, uma em cada sete teve o reaparecimento da doença depois do tratamento e uma em cada dez morreu neste período. "Para as pacientes com concentração mais elevada de CTCs, a correlação entre a sobrevivência e as taxas de progressão foi ainda mais radical, com 31% das pacientes que morreram ou tiveram recidivas", informou um comunicado de imprensa que acompanhou o estudo.
O novo estudo afirma que "não é necessária uma doença avançada para que as células cancerosas se disseminem (pelo sangue) e comprometam a sobrevivência".

Pesquisa encontra relação entre câncer de mama e ovário(VEJA)


Câncer de mama

Descoberta feita a partir de análise genética pode levar a novos tratamentos com drogas já aprovadas para casos de câncer em outras partes do corpo

Câncer de mama
Câncer de mama: Pesquisa classifica doença em quatro classes principais (Thinkstock)
A mais ampla análise genética já realizada sobre o câncer de mama, publicada neste domingo no site da revista Nature, reclassificou a doença em quatro tipos principais. Os pesquisadores encontraram mutações genéticas que podem aproximar o câncer de mama a outros tipos de câncer, como o de ovário. O achado revela uma nova maneira de ver a doença, que pode passar a ser definida não apenas pelo órgão que ele afeta.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Comprehensive molecular portraits of human breast tumours

Onde foi divulgada: revista Nature

Quem fez: Elaine Mardis, Richard Wilson, Matthew Ellis e Ron Bose

Instituição: Universidades de Washingotn e de Harvard, nos Estados Unidos, Universidade British Columbia, no Canadá, e outras

Dados de amostragem: 825 pacientes com câncer de mama

Resultado: A partir da análise de novos dados genéticos, o câncer de mama foi classificado em quatro tipos principais. Essas informações também apontaram para uma relação entre a doença e o câncer de ovário. As descobertas podem ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos para a doença
A investigação identificou pelo menos 40 alterações genéticas que podem ser atacadas por medicamentos — dentre eles, muitos já foram desenvolvidos para outros tipos de câncer que têm as mesmas mutações. A nova classificação divide o câncer de mama nas seguintes classes: HER2 amplificado, Luminal A, Luminal B e basal. Essa divisão foi feita com base em dados antes não disponíveis, que identificaram novos caminhos de atuação do tumor, possibilitando aos pesquisadores novos alvos para combater a doença.
A maior surpresa do estudo envolveu um tipo de câncer atualmente conhecido como triplo negativo, mais frequente em mulheres mais jovens, em negras e em mulheres com genes cancerígenos BRCA1 e BRCA2. Segundo os pesquisadores, os distúrbios genéticos tornam esse tipo de câncer mais similar ao do ovário do que a outros cânceres de mama. Suas células também se assemelham às células escamosas do câncer de pulmão.





O estudo dá uma razão biológica para se tentar os tratamentos de rotina para câncer de ovário neste tipo de câncer de mama. E uma classe comum de drogas usadas no câncer de mama, as antraciclinas, pode ser descartada, já que não ajudam muito no câncer ovariano.
Atlas genético – Para os autores do trabalho, essas descobertas deverão levar a novos tratamentos com drogas já aprovadas para os casos de câncer em outras partes do corpo, além de novos tratamentos mais precisos no combate a anomalias genéticas que hoje não têm tratamento. "O estudo é a indicação do caminho para uma cura do câncer no futuro"”, diz Matthew Ellis, da Universidade de Washington, um dos especialistas envolvidos na pesquisa.
O estudo é parte de um amplo projeto federal americano, o Atlas do Genoma do Câncer, destinado a criar mapas de mudanças genéticas em cânceres comuns. O levantamento sobre o câncer de mama foi baseado numa análise de tumores em 825 pacientes.

Para 20% das mulheres, câncer de mama é incurável(VEJA)


Câncer de mama

Pesquisa mostra que o medo de um possível diagnóstico é um dos principais motivos que fazem com que as mulheres evitem a mamografia

Câncer de mama: o tipo da doença é o mais comum entre as mulheres e, estima-se, apresentou 49.240 novos casos no Brasil em 2010
Câncer de mama: Pesquisa mostra que mais da metade das mulheres que foram atingidas pela doença acreditam que problemas psicológicos contribuíram para o surgimento do câncer (Comstock Images/Thinkstock)
Embora a chance de cura do câncer de mama chegue a 95% caso a detecção seja precoce, uma parcela das mulheres brasileiras ainda vê a doença como incurável. Para 20% das mulheres, o diagnóstico desse câncer é praticamente uma sentença de morte. Essa é uma das conclusões de um levantamento inédito feito a pedido do Instituto Avon pelo Data Popular, que colheu as percepções sobre o câncer de mama de 1.752 pessoas de 50 cidades das cinco regiões do país.
Nessa pesquisa, foram entrevistadas 1.000 mulheres saudáveis, 240 mulheres que têm ou tiveram câncer de mama, 400 homens, além de médicos, gestores de saúde e profissionais de ONGs ligadas ao tema. A amostra incluiu pessoas de todas as classes sociais. Segundo os resultados, o medo surge como um obstáculo que afasta as mulheres do único exame que poderia garantir o diagnóstico precoce e um tratamento mais bem-sucedido: 50% das mulheres opinam que é o medo de descobrir a doença que faz com que muitas evitem fazer a mamografia.

Visão trágica — Para a mastologista Maira Caleffi, presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), inconscientemente, a mulher ainda associa o câncer à tragédia. “No momento em que ela começar a se dar conta de que tem tantas pessoas curadas, o medo vai diminuir.” A pesquisa confirma essa visão trágica: 60% das mulheres e 56% dos homens apontam o câncer como a pior doença que se pode ter, à frente de enfarte, derrame, depressão e aids. Os motivos mencionados por mulheres e homens são os mesmos — a doença mataria rápido, não teria cura e causaria muita dor física.

Outro aspecto destacado pelo estudo é que, entre as mulheres que têm ou tiveram câncer de mama, 54% acreditam que sentimentos como tristeza, depressão e mágoa podem ter contribuído para o aparecimento da doença, apesar de nenhuma evidência científica corroborar essa ideia. De acordo com a médica Rita Dardes, diretora médica do Instituto Avon, é esse aspecto psicológico do câncer que torna importante que a doença seja tratada não apenas pelo mastologista, mas por uma equipe multidisciplinar envolvendo outras especialidades, como psicólogos e fisioterapeutas. “A mulher tem que ser tratada como um todo.”
Mais um motivo que pode levar as mulheres a não se submeterem à mamografia, de acordo com o levantamento, é a crença de que são imunes ao câncer. Entre as mulheres ouvidas, 31% declararam que não poderiam vir a ter a doença, já que nenhum parente a desenvolveu. Na realidade, apenas de 5% a 10% dos casos estão relacionados à hereditariedade.

A pesquisa deve orientar a ação de ONGs, de acordo com Maira. “O estudo é relevante para desenhar estratégias de atuação de uma organização como a Femama, que procura identificar os gargalos que fazem com que pacientes continuem morrendo de câncer de mama.”

Vírus da família da varíola pode combater tumores de mama(VEJA)


Câncer

Além de infectar e atacar as células de câncer, o novo vírus inibiu o crescimento de vasos sanguíneos que alimentassem o tumor

Câncer de mama: características étnicas aumentam riscos da mulher latina para a doença
O câncer de mama triplo negativo, combatido pelo novo tratamento, é agressivo e costuma atingir mulheres jovens(Thinkstock)
O vírus Vaccinia já tem seu lugar garantido na história da medicina. Bastante semelhante ao vírus da varíola, ele causa uma forma mais branda e não letal da doença. Por causa dessa similaridade, ele foi usado para confeccionar vacinas contra a doença - as vacinas contra a varíola, aliás, foram as primeiras a serem confeccionadas na história da medicina e é justamente por causa do vírus que o método de proteção ganhou este nome. Graças às vacinas, a varíola tornou-se a primeira doença a ser erradicada pela ciência. Agora, pesquisadores do Centro de Câncer do Memorial Sloan-Kettering, nos Estados Unidos, estão tentando modificar o vírus Vaccinia para que ele mate as células do câncer de mama triplo negativo (TNBC na sigla em inglês), uma forma bastante agressiva do tumor.
De acordo com os cientistas, o TNBC é responsável por entre 10% e 20% dos casos de câncer de mama. Em comparação aos outros tumores de mama, ele tem maiores chances de aparecer em mulheres jovens, menores de 35 anos. Seu tratamento é difícil, uma vez que ele não possui três receptores que são alvos de novos e promissores tratamentos: o receptor do estrógeno, da progesterona e do HER2. Por isso, é conhecido como triplo negativo.
Apesar de as mulheres diagnosticadas com a doença normalmente responderem à quimioterapia, esses tumores tendem a ser mais agressivos e ter mais chances de regressar. "Nós ainda não entendemos por que esse tipo de câncer é tão agressivo e tende a reaparecer depois do tratamento", diz Sepideh Gholami, cirurgiã do Centro Médico da Universidade Stanford nos Estados Unidos, e autora do estudo. Por causa da gravidade e da falta de receptores específicos, os pesquisadores tem focado seus estudos em vírus oncolíticos, que infectam e exploram as vulnerabilidades únicas dessas células de câncer. Agora, com o vírus Vaccinia, os primeiros resultados começaram a aparecer.
Tratamento - O fator de crescimento endotelial vascular (VEGF, na sigla em inglês) é uma proteína que estimula o crescimento e diferenciação de células sanguíneas. Em células normais, ele ajuda a oxigenar os tecidos onde a circulação está inadequada. Nos cânceres, no entanto, ele estimula o fornecimento de sangue, e por consequência, a metástase. Nos tumores TNBC, esse fator de crescimento está muito mais presente do que nos outros casos de câncer de mama, podendo explicar sua agressividade.
Para atacar esse mecanismo específico, os pesquisadores criaram um novo tipo de vírus Vaccinia, chamado GLV-1h164, que carrega uma proteína que ataca especificamente o VEGF. "A razão por termos usado o vírus Vaccinia é que ele é um membro da família da varíola, e, como sabemos, a vacina da varíola foi administrada a milhões de pessoas para erradicar a doença. Nós pensamos que seria mais seguro e promissor usar esse vírus em nossas pesquisas", diz Gholami.
Em um primeiro experimento, os pesquisadores infectaram células TNBC cultivadas em laboratório com o novo tipo de vírus. Com isso, conseguiram matar mais de 90% dessas células depois de quatro dias. Em seguida, eles geraram tumores TNBC em ratos, e trataram os animais com o mesmo vírus. Após três semanas, a regressão do câncer era clara. "Pelo menos 60% dos cânceres regrediram completamente. E os outros 40% ficaram com áreas muito pequenas de tumor, cercadas por tecido necrosado, um sinal de que o tumor estava respondendo à terapia", afirma Gholami.
Além de infectar e atacar as células de câncer, o novo vírus inibiu o crescimento de vasos sanguíneos que alimentassem o tumor. O resultado foi apresentado nesta segunda-feira no Congresso Clínico Anual do Colégio Americano de Cirurgiões, realizado nos Estados Unidos, e deve ajudar os pesquisadores a desenvolverem uma nova terapia alvo contra o câncer TNBC. O próximo passo dos pesquisadores é fazer um estudo maior com o novo tratamento, e testar sua segurança em humanos. Quem sabe assim, o vírus Vaccinia ajude a enfrentar mais uma doença avassaladora e mortal. 

Apenas 40% das mulheres com câncer conseguem preservar mama(VEJA)


Câncer de mama

Número de indicações de cirurgias menos invasivas não aumentou na mesma proporção em que melhora a resposta das pacientes às terapias neoadjuvantes, que reduzem o nódulo antes de retirá-lo

câncer de mama
Cirurgia geralmente é escolhida de acordo com características iniciais do tumor (Thinkstock)
O avanço no tratamento do câncer de mama tem permitido a indicação de cirurgias cada vez menos invasivas, que envolvem apenas a retirada de uma pequena porção do seio. Mesmo assim, a taxa de adoção desse tipo de procedimento tem ficado abaixo do esperado. Sob o ponto de vista da importância da manutenção das mamas para a autoestima da mulher, esse tema foi destaque no Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica, em Viena, na Áustria.
A indicação da cirurgia capaz de conservar grande parte da mama é possível quando o tumor é pequeno ou, nos casos de tumores grandes, a paciente apresenta uma boa resposta ao tratamento neoadjuvante – quimioterapia aplicada antes da cirurgia com o objetivo de diminuir o tamanho do nódulo.
O que a pesquisadora Carmen Criscitiello, do Instituto Europeu de Oncologia, descobriu é que o número de indicações de cirurgias que preservam as mamas não tem aumentado na mesma proporção em que melhoram as respostas das pacientes às novas terapias neoadjuvantes.
Para chegar a essa conclusão, ela tomou por base um estudo anterior que avaliou a eficácia de três estratégias de quimioterapia neoadjuvante para 429 pacientes com tumor do tipo HER2 positivo. Um grupo recebeu a droga lapatinibe, o outro recebeu o trastuzumabe e um terceiro, a combinação das duas terapias. Deste último grupo, 51,5% das pacientes tiveram uma resposta completa à terapia, enquanto nos outros grupos, essa taxa foi de 24,7% e de 29,5% respectivamente.
O esperado seria que o terceiro grupo, por ter respondido melhor, recebesse mais indicações de cirurgias que preservam as mamas. Porém, o que ocorreu foi que nos três grupos, independentemente da resposta ao tratamento, apenas 40% das pacientes puderam conservar o seio.
Atitude negativa – "O estudo destaca uma atitude negativa que pode privar grande fração de mulheres da chance de preservar sua mama, sem nenhuma razão clínica para justificar essa decisão", diz Carmen.
Ela acrescenta que as características do tumor anteriores à quimioterapia inicial tiveram papel importante na decisão do tipo de cirurgia. "Um dos objetivos da terapia neoadjuvante é obter um aumento da taxa de conservação de mama, mas esse objetivo é claramente frustrado se o tipo de cirurgia for escolhida somente de acordo com as características iniciais do tumor", completa Carmen.
Segundo a mastologista Maira Caleffi, presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), esse processo também pode ser observado no Brasil. Para ela, apesar de melhores condições para se realizar a cirurgia que preserva a mama, "o que se observa na prática é que muitas pacientes são informadas pelos próprios cirurgiões que talvez seja melhor tirar tudo e retirar ainda a outra mama como profilaxia".
Maira ressalta que esse procedimento não tem respaldo científico, a não ser que a mulher possua uma mutação genética familiar que predisponha ao câncer. "Isso é um desserviço que vem sido praticado. É um exagero, que não observa as recomendações das autoridades e das sociedades médicas", afirma.
A decisão sobre qual será o procedimento adotado deve ser compartilhada entre médico e paciente, de acordo com o mastologista Wesley Pereira Andrade, do Hospital A.C.Camargo. Em casos de tumores grandes, pode-se tanto começar o tratamento com a cirurgia mais radical e depois introduzir a quimioterapia quanto adotar a neoadjuvante para tentar conservar a mama.
"Quando se preserva a mama, existe um ganho psicológico. A desvantagem é uma maior chance de o tumor voltar ao longo de dez anos", diz. Ele observa que a mulher que preserva a mama tem uma aceitação melhor de sua autoimagem.
Para o ginecologista e cirurgião oncológico Fábio Laginha, do Hospital 9 de Julho, depois dos avanços nas novas drogas contra câncer de mama, é preciso progredir nos métodos de imagem e nas técnicas cirúrgicas que permitam a retirada da porção exata da mama necessária para eliminar todas as células cancerígenas. "O que precisa ser feito, quando se escolhe esse tipo de quimioterapia neoadjuvante, é ter certeza do local do tumor, marcar e acompanhar sua diminuição", diz.
(Com Agência Estado)

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