sábado 15 2015

Cerveró revela que assinou contrato superfaturado para pagar dívidas da campanha de Lula


O ex-diretor da Petrobras está prestes a assinar acordo de delação premiada, no qual conta que os contratos foram direcionados à construtora Schahin com o propósito de saldar dívidas da campanha presidencial petista em 2006

Nestor Cerveró: o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli o incumbiu pessoalmente de cuidar dos problemas de caixa que o PT enfrentava depois da eleição de Lula para o segundo mandato
Nestor Cerveró: o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli o incumbiu pessoalmente de cuidar dos problemas de caixa que o PT enfrentava depois da eleição de Lula para o segundo mandato(Cristiano Mariz/VEJA)
No início de 2007, a Petrobras experimentava uma inédita onda de prosperidade estimulada pelas reservas recém-descobertas do pré-sal. O segundo mandato de Lula estava no começo. Com a economia aquecida e o consumo em alta, a ordem era investir. A área internacional da companhia, sob o comando do diretor Nestor Cerveró, aportou bilhões de dólares na compra de navios-sonda que preparariam a Petrobras para a busca do ouro negro em águas profundas. Em março daquele ano, uma operação chamou atenção pela ousadia. Sem discussão prévia com os técnicos e sem licitação, a estatal comprou uma sonda sul-coreana por 616 milhões de dólares. E, ainda mais suspeito, escolheu a desconhecida construtora Schahin para operá-la, pagando mais 1,6 bilhão de dólares pelo serviço. Um negócio espetacular - apenas para a empresa que vendeu a sonda e para a construtora, que tinha escassa expertise no ramo. A Lava-Jato descobriu que, como todos os contratos, esse também não ficou imune ao pagamento de propina a diretores e políticos. O escândalo, entretanto, vai muito mais além.
Em delação premiada, o operador Julio Camargo, que representava a Samsung na transação do navio-sonda Vitória 10 000, confessou ter pago 25 milhões de dólares em propinas a diretores e intermediários, incluindo aí o próprio Cerveró. Com o esquema em torno da sonda revelado, faltava descobrir o papel da Schahin na operação. E é exatamente Nestor Cerveró, preso em Curitiba e agora negociando a sua delação premiada, quem revela a parte até aqui desconhecida da história. Em um dos capítulos do acordo que está prestes a assinar com o Ministério Público, o ex-diretor da área internacional conta que os contratos de compra e operação da sonda Vitória 10 000 foram direcionados à construtora Schahin com o propósito de saldar dívidas da campanha presidencial de Lula, em 2006. E, por envolver o caixa direto da reeleição do petista, a jogada foi coordenada diretamente pela alta cúpula da Petrobras.
Nos primeiros relatos em busca do acordo, Cerveró contou que o PT terminou 2006 com uma dívida de campanha de 60 milhões de reais com o Banco Schahin, pertencente ao mesmo grupo que administrava a construtora. Sem condições de quitar o débito pelas vias tradicionais, o partido usou os contratos da diretoria internacional para pagar a dívida da campanha. Então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli incumbiu pessoalmente Cerveró do caso. O ex-diretor recebeu ordens claras para direcionar o contrato bilionário da sonda à Schahin. Uma vez contratada pela Petrobras, a empreiteira descontou a dívida do PT da propina devida aos corruptos do petrolão. Para garantir o silêncio sobre o arranjo, a Schahin também pagou propina aos dirigentes da Petrobras envolvidos na transação. Os repasses foram acertados pelo executivo Fernando Schahin, filho do fundador do grupo, Milton Schahin, e um dos dirigentes da Schahin Petróleo e Gás. Fernando usou uma conta no banco suíço Julius Baer para transferir a propina destinada aos dirigentes da estatal para o banco Cramer, também na Suíça. O dinheiro chegou a Cerveró e aos gerentes da área Internacional Eduardo Musa e Carlos Roberto Martins, igualmente citados como beneficiários dos subornos.
Além de amortizar as dívidas da campanha de 2006, o contrato da sonda Vitória 10 000 serviu para encerrar outro assunto nebuloso envolvendo empréstimos do Banco Schahin e o PT. A história remonta ao assassinato do prefeito petista Celso Daniel, em Santo André, em 2002. Durante o julgamento do mensalão, ao pressentir que seria condenado à prisão pelo Supremo Tribunal Federal, Marcos Valério, o operador do esquema, tentou fechar um acordo de delação premiada com o Ministério Público. Em depoimento na Procuradoria-Geral da República, ele narrou a história que agora pode se confirmar no petrolão. Segundo Valério, o PT usou a Petrobras para pagar suborno a um empresário que ameaçava envolver Lula, Gilberto Carvalho e o mensaleiro preso José Dirceu na trama que resultou no assassinato de Celso Daniel.
Valério contou aos procuradores que se recusou a fazer a operação e que coube ao pecuarista José Carlos Bumlai, amigo pessoal de Lula, socorrer a cúpula petista. Segundo ele, Bumlai contraiu um empréstimo de 6 milhões de reais no Banco Schahin para comprar o silêncio do chantagista. Depois, usou sua influência na Petrobras para conseguir os contratos da sonda para a construtora. O próprio Milton Schahin admitiu ter emprestado 12 milhões de reais ao amigo de Lula. "O Bumlai pegou, sim, um empréstimo, como tantas outras pessoas. Mas eu não sou obrigado a saber para que o dinheiro foi usado", disse recentemente à revista Piauí.
Eivada de irregularidades, a contratação da Schahin tornou-se alvo de investigação da própria Petrobras. A auditoria da estatal concluiu que a escolha da Schahin se deu sem "processo competitivo" e ocorreu a partir de índices operacionais de desempenho artificialmente inflados para justificar a contratação. Os prejuízos causados pela transação em torno da Vitória 10 000 foram classificados pelos técnicos como "problemas políticos", que deveriam ser resolvidos pela cúpula da estatal. Não fosse pela Lava-Jato, a trama que envolve a campanha de Lula e os contratos na Petrobras permaneceria oculta nos orçamentos cifrados da estatal. A Schahin, que vira seu faturamento saltar de 133 milhões de dólares para 395 milhões de dólares durante os oito anos de governo Lula, seguiria faturando sem ser importunada.
O cerco, porém, está se fechando. Os números das contas usadas no pagamento de propinas no exterior e até detalhes das viagens de Fernando Schahin à Suíça já foram entregues pelos ex-dirigentes da Petrobras aos procuradores. Apesar dos claros sinais de fraude no processo, o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli defendeu a compra da sonda ao depor como testemunha de defesa de Cerveró na Justiça. Procurados, os advogados de Cerveró disseram que não poderiam se pronunciar sobre o andamento do acordo de delação com o Ministério Público. Os demais citados negaram envolvimento no caso. Ao falar da ordem para beneficiar a Schahin, Cerveró reproduziu a frase que teria ouvido de Gabrielli: "Veio um pedido do homem lá de cima. A sonda tem de ficar com a Schahin". E assim foi feito. Cerveró ainda não revelou quem era o tal "homem".

A conta certa para emagrecer


O órgão americano de incentivo a pesquisas médicas criou a mais eficiente calculadora para planejar a perda de peso. Saiba nesta reportagem como ela funciona e baixe a ferramenta nas edições para tablets e iPhone de VEJA

VIDA PRIVADA - Quando as fotos de Marilyn fazendo ginástica foram descobertas, há pouco tempo, o mundo ficou sabendo de um hábito que nos anos 50 era quase secreto em casa, sem nenhuma orientação de profissionais
VIDA PRIVADA - Quando as fotos de Marilyn fazendo ginástica foram descobertas, há pouco tempo, o mundo ficou sabendo de um hábito que nos anos 50 era quase secreto em casa, sem nenhuma orientação de profissionais(Philippe Halasman/Magnum Photos/Latinstock)
"Certa vez, reduzi um gordo enorme a um tamanho moderado, dentro de um breve período. Eu o fiz correr todas as manhãs até suar profusamente. Fazia então com que fosse esfregado com força e tomasse um banho quente (...). Algumas horas depois, eu lhe permitia comer livremente. E, por fim, fazia-o trabalhar." A afirmação, um tanto quanto sem jeito, no avesso do modo politicamente correto de falar, pede absolvição sabendo-se ter sido escrita pelo médico e filósofo grego Claudio Galeno (129-216). Serve para demonstrar que a preocupação com os quilos a mais, o drama do ganho de peso, é ancestral, tem a idade da civilização. O que faz emagrecer de forma mais eficaz? Fechar a boca? Entupir-se de remédios? Esfalfar-se na academia? Sabe-se que a santíssima trindade da dieta - controle da comida, medicamentos e exercícios físicos - é incontornável, e do casamento dos três recursos resulta um corpo mais saudável. Aquilo a que a ciência ainda não respondeu com certeza, e que paira no campo das investigações, é como determinar a prevalência de um ou outro comportamento contra o sobrepeso. Diz o endocrinologista Antonio Carlos do Nascimento, de São Paulo: "Cada organismo reage de forma diferente aos tratamentos para emagrecer".
Tomem-se como referência as estatísticas brasileiras. Dos 50 milhões de homens e mulheres em guerra com a balança, cerca de 30% não conseguem voltar à boa forma apenas com mudanças no estilo de vida: alimentação adequada e corte do sedentarismo. Eles estão condenados a desajustes biológicos hereditários, vetores de um ritmo metabólico mais lento do que o normal. Sem medicamentos, portanto, muito provavelmente não perderão peso. Sim, o restante emagreceria reduzindo o consumo calórico ou adotando uma atividade regular - mas pouquíssimos têm força de vontade para comer menos ou conseguem tempo para calçar tênis. E assim caminha a humanidade, com índices de obesidade sempre em ascensão. O fundamental, portanto, é saber que somos nós e nossas circunstâncias. Não existe dieta mágica. Mas não há como começar um controle calórico sem ter a noção exata do que vai pelo corpo. Medir, e a partir da aferição estabelecer uma estratégia, é o primeiro, monumental e inovador passo.
Os Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), o órgão responsável pelo incentivo de pesquisas médicas nos Estados Unidos, acabam de desenvolver uma calculadora que planeja o limite de consumo calórico diário propício ao emagrecimento a partir de informações detalhadíssimas dadas pelo usuário. É a Body Weight Planner (planejadora de peso corporal). VEJA firmou parceria com os NIH e oferece a calculadora, evidentemente traduzida para o português, nas edições para tablets e iPhone. É ferramenta para mudar o tom da prosa em torno das dietas. O extraordinário, res­sal­ve-se, é a possibilidade de fornecer informações específicas e obter respostas absolutamente individuais. Um dos caminhos para tanta precisão é o aprofundamento dos dados solicitados. Há quatro etapas a ser seguidas. Na primeira, o usuário anota peso, sexo, idade e altura. As informações são cruciais para que o programa reconheça o tipo de metabolismo em questão. Sabe-se que a quantidade de gordura é diferente no homem e na mulher. O organismo feminino tem 50% mais tecido adiposo que o masculino. Por isso, um homem e uma mulher com o mesmo peso necessitam de uma dieta diferente para mantê-lo - ela deverá consumir 10% menos calorias (veja o quadro na página anterior). Nessa mesma etapa, a calculadora pede um olhar sobre a atividade física realizada, como o hábito de praticar esportes. Nesse ponto também se define o nível de esforço físico que caracteriza a rotina de trabalho - leve, médio ou pesado. No segundo passo, o usuário informa o peso que pretende atingir e o tempo para alcançá-lo. No terceiro, a calculadora sugere mudanças na atividade física (de caminhadas leves à prática diária de natação) e ainda pede indicações do real comprometimento com a nova vida. Por fim, o resultado: a quantidade máxima de calorias a ser consumida para emagrecer.
A Body Weight Planner foi construída a partir de estudos conduzidos entre os anos de 2003 a 2011, avaliados por uma equipe de pesquisadores de instituições de ensino de ponta, como as universidades Harvard e Colúmbia. Ao longo de oito anos, estatísticos, biólogos, matemáticos e fisiologistas criaram algoritmos capazes de interpretar e cruzar as informações fornecidas pelos usuários. No início, a calculadora foi elaborada para ser usada apenas por pesquisadores. E, mesmo sem divulgação alguma, o recurso fez imenso sucesso. "Em quatro anos, 2 milhões de pessoas haviam acessado a ferramenta", disse a VEJA o fisiologista e matemático Kevin Hall, do Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais dos NIH, coordenador do grupo de pesquisa da Body Weight Planner. A equipe de Hall, então, decidiu torná-la mais didática, para que um número ainda maior de pessoas pudesse acessar o recurso que VEJA agora oferece.
A nova calculadora quebra um paradigma na medicina. Até agora, na maioria dos consultórios de endocrinologistas, o cálculo para emagrecer estava ancorado em raciocínios ligeiros, como a badalada e frágil "conta das 500 calorias". O cálculo: da quantidade de calorias necessárias para manter o peso ideal, subtraem-se 500 delas. Uma mulher de 30 anos, por exemplo, deve consumir cerca de 2 000 calorias diárias. Para emagrecer, seriam 1 500, tirando da mesa algo como um prato e meio de macarrão à bolonhesa. Em relação à prática de atividade física, ouve-se quase sempre a mesma cantilena: "Faça regularmente exercícios físicos moderados, de preferência os aeróbicos, uma hora por dia". A lógica toda soa correta. Mas desconsidera detalhes definidores do sucesso de um regime. Eis o pulo do gato da calculadora americana, a investigação primorosa sobre o tipo de atividade física que o usuário pratica e se propõe a manter ou aprimorar, até mesmo em situações cotidianas, no trabalho ou em casa, com perguntas como: "Você fica sentado no computador o dia inteiro?", "Usa bicicleta para se locomover?". Faz toda a diferença permanecer sentado ou não.
A relação direta entre exercício físico, saúde e queima de calorias começou a ser estudada com profundidade apenas no fim da década de 60 - depois, portanto, da evidente constatação de que é fundamental fechar a boca, impressão intuitiva, e depois também dos primeiros medicamentos emagrecedores levados às farmácias na década de 50, as anfetaminas. Um dos principais arautos do corpo em movimento foi o médico america­no Kenneth Cooper. Seu método, o "Cooper", criado nos anos 70, iniciava-se com corridas de 1,6 quilômetro em doze minutos, cinco vezes por semana. Progressivamente, a pessoa deveria aumentar seu ritmo, até atingir a marca dos 2,8 quilômetros, percorridos no mesmo tempo. O cardiologista inaugurou a ideia de que correr faz bem ao coração, aos pulmões e acelera o metabolismo - e quem nunca praticou um cooper? As corridas, antes dele, eram prerrogativa de atletas e pugilistas. Para os não esportistas, eram quase uma aberração. Em 1968, o senador americano Strom Thurmond chegou a ser parado por policiais na cidade de Greenville, na Carolina do Sul, por estar correndo nas ruas. A atitude foi considerada "suspeita". Até então, faziam-se exercícios em casa, sem controle, no segredo da vida privada.
No século XIX, Elisabeth Amalie Eugenie von Wittelsbach, a imperatriz Sissi, mulher do imperador austríaco Franz Joseph, extenuava-se na academia particular construída a seu pedido no palácio em que morava. Sissi pesava 47 quilos e tinha a cintura de 50 centímetros. Se suas medidas ultrapassassem poucos milímetros, a intensidade da ginástica aumentava - e por conta própria. Em um exemplo mais recente, como não lembrar de Marilyn Monroe, levantando pesos vestida de calça jeans? Quando as fotos privadas de Mari­lyn vazaram, foi um escândalo. Nos anos 80, Jane Fonda inventou um estilo de vida ao lançar vídeos de aeróbica protagonizados por ela. As mulheres a imitavam em casa, praticando os exercícios em pequenos espaços, sobre colchonetes. O primeiro vídeo, produzido em 1982, vendeu 17 milhões de cópias nos Estados Unidos. A ideia da ginástica como atividade aberta, sem medo, como a celebramos hoje, até chegou a ser ensaiada no século XIX, mas não vingou. A primeira academia de ginástica de que se tem notícia, com um desenho semelhante ao que se vê atualmente, é do início do século XIX. Em 1811, o pedagogo alemão Friedrich Lud­wig Jahn, conhecido como "o pai da ginástica", teve a ideia de criar salões ao ar livre para reavivar os ânimos dos alemães, depois da invasão de Napoleão. Jahn inaugurou o primeiro Turnplatz (ginásio a céu aberto), em Berlim. Mas logo a iniciativa se transformou em um movimento nacionalista - os centros foram alçados a abrigos de discussões políticas, espaços para cultivar uma suposta força moral e a exaltação patriótica. Deu no que deu. Nos Estados Unidos, as academias surgiram em 1914. Eram salões equipados com máquinas feitas com cilindros e molas de aço, que espremiam o corpo das moças para cima e para baixo. Sumiram. Antes, portanto, da atual explosão das academias, na cola de Jane Fonda, e na tríade de possibilidades de ataque à gordura, despontaram as mais evidentes: comer menos e tomar remédios.
A calculadora americana, simples e eficaz, apresenta-se como uma arma capaz de pôr tudo isso num caldeirão e, rapidamente, oferecer um guia. Sozinha, é claro, não ganhará a batalha contra a gordura. Mas é o mais bem-aca­ba­do mapa jamais desenhado. Um dos grandes problemas a ser resolvidos é a queima das células de gordura. Um estudo do Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia, revelou que o número de células adiposas é definido até os 20 anos. Quando uma pessoa emagrece, os adipócitos apenas perdem volume, mas continuam lá, sedentos por voltar ao tamanho de antes. Entre os pouquíssimos recursos na medicina capazes de driblar em parte esse detalhe cruel da natureza, está a criolipólise. A metodologia, sensação do momento nas clínicas dermatológicas, consiste em reduzir cerca de 30% da gordura de determinada região do corpo (barriga e flancos) por meio de congelamento.
Outro caminho, alheio ao detalhamento entregue pela calculadora, é o radicalismo das dietas rigorosas. Os regimes extremamente restritivos compõem a maioria dos programas de emagrecimento. O mundo provavelmente teria menos obesos sem os regimes muito extremados. O radicalismo à mesa caiu nas graças dos americanos na década de 70, quando o cardiologista americano Robert Atkins condenou os carboidratos e elegeu as proteínas e as gorduras como aliadas dos corpos magros. Os seguidores de Atkins são liberados para comer ovos, bacon e carnes e chegam a perder 10% do peso corporal em apenas quinze dias. No entanto, 80% deles desistem da dieta em menos de três meses e recuperam o peso. As estatísticas são as mesmas para qualquer dieta extremada. A explicação principal é fisiológica: em pouco tempo, a perda de gordura faz com que o organismo, para se defender, reduza o ritmo natural do seu gasto calórico, tornando o regime ineficaz. Além disso, mesmo com o sistema metabólico mais lento, não se tolera passar fome por um longo período. Desiste-se da dieta. A calculadora está no avesso desse extremismo.

O povo na rua e a dinâmica da crise: Dilma não terá paz, pouco importa o número de manifestantes

Quantas pessoas vão à manifestação de protesto neste domingo? Cinquenta mil? Cem mil? Dois milhões? Querem saber? Para a dinâmica da crise, isso só teria importância se muitos milhões, muitos mesmo!, acima de qualquer expectativa, tomassem as ruas.
É claro que um protesto à altura daquele do dia 15 de março já deixará o governo de sobressalto, ainda mais desorientado e, pois, suscetível ao erro. Se, na contabilidade geral, houver, sei lá, 100 mil pessoas nas ruas, o que é gente pra diabo, os palacianos e seus acólitos na imprensa gritarão: “Mico!”. Talvez os próprios promotores do evento venham a ficar um tanto acabrunhados se assim for. E, no entanto…
E, no entanto, que diferença o eventual mico efetivamente faria para Dilma Rousseff? Ninguém deixará de achar o governo ruim/péssimo, migrando para o grupo do “regular” ou do “bom/ótimo”, porque os protestos terão reunido 100 mil pessoas em vez de 3 milhões. Não há voto de confiança ou avaliação generosa que resista a menos dinheiro no bolso, preços em disparada, economia acabrunhada, futuro incerto, pessimismo.
Os próprios jornalistas, que cometem o pecado de circular demais no meio político e de menos nas ruas, correm o risco de fazer avaliações apressadas. Um balanço ligeiro desta semana, a se considerar só o ambiente da corte, tenderá a concluir que Dilma já superou o pior da crise. Segundo essa hipótese, a semana anterior teria sido o fundo do poço, e esta que termina, o ponto de inflexão. De fato, importantes costuras foram feitas entre palacianos e cortesãos, mas isso conta muito pouco. Dilma não tem de se segurar no cargo até 31 de agosto de 2015, mas ate 31 de dezembro de 2018.
Até que a economia melhore para as pessoas, não para os indicadores que medem tendências, ainda será preciso piorar bastante. Se o Palácio conseguiu ou não isolar Eduardo Cunha; se o deputado está mais poderoso ou menos; se o senador Renan Calheiros passou a ser o homem da “estabilidade” em Brasília… Convenham: que diferença isso faz para os brasileiros que não vivem de descrever os humores dos políticos de Brasília?
Há mais: a cada enxadada que dá a Operação Lava Jato, surge um punhado de minhocas reais, potencialmente reais ou virtuais, pouco importa. A engrenagem hoje envolvida na investigação e nos vazamentos tomou gosto pela coisa. Já se abriram duas variáveis independentes na operação, que remetem para o Ministério do Planejamento e para o setor elétrico. A artilharia se volta agora para os estádios da Copa do Mundo, terreno fértil para escavar frustrações e humilhações.
Na superfície desse terreno, está aquele sentimento que varreu o país em 2013 e 2014, que contrastava a ruindade dos serviços públicos oferecidos pelo estado com a suntuosidade dos estádios, o que transformou o tal “Padrão Fifa”, antes uma referência de qualidade, em reivindicação situada entre a política e a ironia. E a ironia suprema, depois que estourou o escândalo da Fifa, foi saber que, de algum modo e em certa medida, sempre estivemos no Padrão Fifa — no caso, o da roubalheira.
Nas profundezas desse terreno minado pela indignação, ainda está a humilhação daqueles 7 a 1 para a Alemanha, a indicar que fomos roubados para nada. A força-tarefa da Lava-Jato, qualquer observador arguto já percebeu, tem um atilado senso de marketing. E pouco importará saber o percentual de dinheiro público e de dinheiro privado que financiou os elefantes brancos. Isso não acaba tão cedo.
Para arremate dos males, os que recomendam a Dilma correção de rumo procuram empurrá-la justamente para o modelo que se transformou na usina das crises. Não era mágica que sustentava aquele modelo, em si insustentável, mas o ciclo que se encerrou dos preços estratosféricos das commodities. O resto foi só gestão porca de uma janela que o mundo nos abriu. O PT se encarregou de transformar o que poderia ter sido o planejamento do futuro em alguns fogões, algumas geladeiras, cocô de curto prazo e votos.
Em entrevista à Folha neste sábado, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) sintetiza: “Ou o governo muda, ou o povo muda o governo”. E ele está se referindo justamente à economia. Mas mudar precisamente o quê? Na próxima cochilada que der nas contas públicas, o país pode ser rebaixado pelas agências de classificação de risco — e aí haverá gente com saudade do tempo em que o símbolo do mal era o FMI…
Querem saber? As pessoas sensatas deveriam torcer para que, neste domingo, houvesse nas ruas muitos e muitos milhões, um troço realmente acachapante, a indicar para Dilma que não dá mais. Isso também poderia evidenciar aos políticos que é chegada a hora. Creio na robustez do movimento, sim, mas não nessa monumentalidade.
E a pior coisa que poderia acontecer seria o insucesso do protesto. A presidente não teria o que fazer com ele. Seria um indicador não de otimismo, mas de desalento e de descrença, o que costuma anteceder decisões coletivas desastradas.
Não há como o povo na rua, neste domingo, ser o problema. Ele só pode ser a solução. É a continuidade do governo que nos lança no escuro, não a sua interrupção.
Assim, meus caros, bom protesto! 
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-povo-na-rua-e-a-dinamica-da-crise-dilma-nao-tera-paz-pouco-importa-o-numero-de-manifestantes/

O negócio milionário de Lula


Relatório de órgão de fiscalização do governo mostra que a empresa de Lula faturou 27 milhões de reais — sendo 10 milhões apenas das empreiteiras envolvidas no escândalo de corrupção da Petrobras

ELITE - Desde que deixou o governo, em 2011, Lula abriu uma empresa e se dedicou a dar palestras pagas no Brasil e no exterior. Em quatro anos, juntou uma fortuna
ELITE - Desde que deixou o governo, em 2011, Lula abriu uma empresa e se dedicou a dar palestras pagas no Brasil e no exterior. Em quatro anos, juntou uma fortuna(Ueslei Marcelino/Reuters)
Para um presidente da República de qualquer país, é enaltecedor poder contar que teve origem humilde. O americano Lyn­don Johnson mostrava a jornalistas um casebre no Texas onde, falsamente, dizia ter nascido. A ideia era forçar um paralelo com a história, verdadeira, de Abraham Lincoln, que ganhou a vida como lenhador no Kentucky. Lula teve origem humilde em Garanhuns, no interior de Pernambuco, e se enalteceu com isso. Como Johnson e Lincoln, Lula veio do povo e nunca mais voltou. É natural que seja assim. Como é natural que ex-presidentes reforcem seu orçamento com dinheiro ganho dando palestras pagas pelo mundo. Fernando Henrique Cardoso faz isso com frequência. O ex-presidente americano Bill Clinton, um campeão da modalidade, ganhou centenas de milhões de dólares desde que deixou a Casa Branca, em 2001. Lula, por seu turno, abriu uma empresa para gerenciar suas palestras, a LILS, iniciais de Luiz Inácio Lula da Silva, que arrecadou em quatro anos 27 milhões de reais. Isso se tornou relevante apenas porque 10 milhões dos 27 milhões arrecadados pela LILS tiveram como origem empresas que estão sendo investigadas por corrupção na Operação Lava-Jato.
Na semana passada, a relação íntima de Lula com uma dessas empresas, a empreiteira Odebrecht, ficou novamente em evidência pela divulgação de um diálogo entre ele e um executivo gravado legalmente por investigadores da Lava-Jato. O alvo do grampo feito em 15 de junho deste ano era Alexandrino Alencar, da Odebrecht, que está preso em Curitiba. Alexandrino e Lula falam ao telefone sobre as repercussões da defesa que o herdeiro e presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, também preso, havia feito das obras no exterior tocadas com dinheiro do BNDES. Os investigadores da Polícia Federal reproduzem os diálogos e anotam que o interesse deles está em constituir mais uma evidência da "considerável relação" de Alexandrino com o Instituto Lula.
Fora do contexto da Lava-Jato, esse diálogo não teria nenhuma relevância especial. Como também não teria a movimentação financeira da LILS. De abril de 2011 até maio deste ano, a empresa de palestras de Lula, entre créditos e débitos, teve uma movimentação de 52 milhões de reais. Na conta-corrente que começa com o número 13 (referência ao número do PT), a empresa recebeu 27 milhões, provenientes de companhias de diferentes ramos de atividade. Encabeçam a lista a Odebrecht, a Andrade Gutierrez, a OAS e a Camargo Corrêa, todas elas empreiteiras investigadas por participação no esquema de corrupção da Petrobras. Essas transações foram compiladas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda. O Coaf trabalha com informações do sistema financeiro e seus técnicos conseguem identificar movimentações bancárias atípicas, entre elas saques e depósitos vultosos que podem vir a ser do interesse dos órgãos de investigação. Neste ano, os analistas do Coaf fizeram cerca de 2 300 relatórios que foram encaminhados à Polícia Federal, à Receita Federal e ao Ministério Público. O relatório sobre a LILS classifica a movimentação financeira da empresa de Lula como incompatível com o faturamento. Os analistas afirmam no documento que "aproximadamente 30%" dos valores recebidos pela empresa de palestras do ex-presidente foram provenientes das empreiteiras envolvidas no escândalo do petrolão.
O documento, ao qual VEJA teve acesso, está em poder dos investigadores da Operação Lava-Jato. Da mesma forma que a conversa do ex-presidente com Alexandrino Alencar foi parar em um grampo da Polícia Federal, as movimentações bancárias da LILS entraram no radar das autoridades porque parte dos créditos teve origem em empresas investigadas por corrupção. Diz o relatório do Coaf: "Dos créditos recebidos na citada conta, R$ 9  851 582,93 foram depositados por empreiteiras envolvidas no esquema criminoso investigado pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava-­Jato". Seis das maiores empreiteiras do petrolão aparecem como depositantes na conta da empresa de Lula (veja a tabela na pág. 51).
O ex-presidente tem uma longa folha de serviços prestados às empreiteiras que agora aparecem como contratantes de seus serviços privados. Com a Odebrecht e a Camargo Corrêa, por exemplo, ele viajava pela América Latina e pela África em busca de novas frentes de negócios junto aos governos locais. Outro ponto em comum que sobressai da lista de pagadores da empresa do petista é o fato de que muitas das empresas que recorreram a seus serviços foram aquinhoadas durante seu governo com contratos e financiamentos concedidos por bancos públicos. Uma delas, o estaleiro Quip, pagou a Lula 378 209 reais por uma "palestra motivacional". Criada com o objetivo de construir plataformas de petróleo para a Petrobras, a empresa nasceu de uma sociedade entre Queiroz Galvão, UTC, Iesa e Camargo Corrêa - todas elas investigadas na Lava-­Jato. No poder, Lula foi o principal patrocinador do projeto, que recebeu incentivos do governo. Em maio de 2013, ele falou para 5 000 operários durante 29 minutos. Ganhou 13 000 reais por minuto.

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