sábado 08 2012

FILMES FARME - Igual a Tudo na Vida - Woody Allen - Dublado

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Woody.Allen-Radio.Days.(1987)

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A ERA DO RÁDIO - Duas Dublagens (trecho HD)

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No ano passado...(Mário Quintana)




Já repararam como é bom dizer "o ano passado"? É como quem já tivesse atravessado um rio, deixando tudo na outra margem...Tudo sim, tudo mesmo! Porque, embora nesse "tudo" se incluam algumas ilusões, a alma está leve, livre, numa extraodinária sensação de alívio, como só se poderiam sentir as almas desencarnadas. Mas no ano passado, como eu ia dizendo, ou mais precisamente, no último dia do ano passado deparei com um despacho da Associeted Press em que, depois de anunciado como se comemoraria nos diversos países da Europa a chegada do Ano Novo, informava-se o seguinte, que bem merece um parágrafo à parte:

"Na Itália, quando soarem os sinos à meia-noite, todo mundo atirará pelas janelas as panelas velhas e os vasos rachados".

Ótimo! O meu ímpeto, modesto mas sincero, foi atirar-me eu próprio pela janela, tendo apenas no bolso, à guisa de explicação para as autoridades, um recorte do referido despacho. Mas seria levar muito longe uma simples metáfora, aliás praticamente irrealizável, porque resido num andar térreo. E, por outro lado, metáforas a gente não faz para a Polícia, que só quer saber de coisas concretas. Metáforas são para aproveitar em versos...

Atirei-me, pois, metaforicamente, pela janela do tricentésimo-sexagésimo-quinto andar do ano passado.
Morri? Não. Ressuscitei. Que isto da passagem de um ano para outro é um corriqueiro fenômeno de morte e ressurreição - morte do ano velho e sua ressurreição como ano novo, morte da nossa vida velha para uma vida nova.
Mario Quintana

Joaquim Barbosa, o juiz sem amigos

JUSTIÇA - 07/12/2012 13h52

Agora que é presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa terá de vencer sua natureza solitária e aprender a fazer política

FLÁVIA TAVARES
GLÓRIA Joaquim Barbosa (à esq.) é aplaudido durante sua posse na presidência do STF. Os aplausos se estenderão ao Joaquim do dia seguinte?  (Foto: Orlando Britto)
A tarde da quinta-feira, dia 22 de novembro de 2012, seguia lenta em Brasília quando Joaquim Benedito Barbosa Gomes – negro, filho de uma faxineira e de um pedreiro, relator do julgamento mais difícil da história republicana do Brasil – carregou seu corpo, e tudo o que ele representa, para o púlpito do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), de modo a tomar posse como 55o presidente da corte. “Prometo cumprir os deveres do cargo de presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, em conformidade com as leis”, afirmou Joaquim, diante da mãe, dona Benedita, e dos demais – do poder, das celebridades, das câmeras. Foi o evento do ano em Brasília. A capital celebrou com entusiasmo a posse do primeiro presidente negro no STF. Estavam lá os atores Lázaro Ramos e Regina Casé, os músicos Djavan e Martinho da Vila, o piloto Nelson Piquet, o ex-jogador Romário… Estava lá a presidente Dilma Rousseff, mais em corpo do que em espírito, conforme se depreendeu de seu esforço em não sorrir – sob hipótese alguma – nas duas horas de cerimônia. Estavam lá cerca de 340 almas. Estavam lá, em meio aos cliques e beija-mãos, para o Joaquim que assumiu, o símbolo, o orgulho e, para alguns, o parente distante, o colega ocasional. Não estavam lá para o Joaquim do dia seguinte. Este, quer por opção, quer pelo gênio difícil, estava só – e continuará só. Joaquim comandará o Judiciário sem amigos. Ao menos sem os amigos de que precisará: os amigos políticos.
A presidência do Supremo é, antes de tudo, um cargo político. Como presidente, Joaquim terá de se relacionar com os chefes do Executivo e do Legislativo, com juízes, com burocratas do Judiciário, com advogados, com jornalistas. Goste ou não – e Joaquim não gosta nada dessa tarefa. Nos últimos anos, já como ministro do STF, afastando constantemente os outros, Joaquim pareceu confundir a necessária postura independente do juiz com uma mais que ocasional resistência aos outros – resistência que se manifestou no modo colérico como reagiu quando contrariado pelos colegas ou nas aproximações de advogados e políticos. Agora, porém, Joaquim é um líder. E um líder político não lidera apenas pelo bom exemplo. Lidera pelas relações pessoais que cria e mantém, precisamente com quem pode ajudá-lo no exercício da liderança.
Exercer essa missão política sem se conspurcar e, ainda assim, com eficiência, é difícil. Ainda mais porque, para chegar à posição de exercê-la, Joaquim, como qualquer outro, precisou ser também político. Naquela tarde de quinta-feira, em seu discurso de posse, ele disse: “É preciso reforçar a independência do juiz. Afastá-lo, desde o ingresso na carreira, das múltiplas e nocivas influências que podem paulatinamente minar-lhe a independência. Essas más influências podem se manifestar tanto a partir da própria hierarquia interna a que o jovem juiz se vê submetido quanto dos laços políticos de que ele pode às vezes tornar-se tributário na natural e humana busca por ascensão funcional e profissional”. E prosseguiu: “O juiz, bem como os membros de outras carreiras importantes do Estado, deve saber de antemão quais são suas reais perspectivas de progressão. E não buscar obtê-las por meio da aproximação ao poder político do momento”.
A mensagem
Para o país
A ascensão de Joaquim Barbosa é um triunfo do mérito e do valor da educação
Para os políticos
O novo presidente do STF tem um temperamento avesso à conciliação
Foi um sermão inóspito a Brasília, onde amizades, especialmente as políticas, estão embutidas no cimento que ergueu e sustenta a cidade. Joaquim não mantém, ou preferiu esquecer agora, algumas das relações mais profícuas que pôde usufruir. Quando trabalhava no Senado, na década de 1970, foi colega de Agaciel Maia, que viria a ser diretor-geral da Casa anos depois – e sairia no bojo do escândalo dos atos secretos, em que parentes de senadores eram contratados sob os panos. Quando funcionários do Senado, Joaquim e Agaciel eram datilógrafos e jogavam bola juntos. Quando voltou a Brasília para ser ministro do Supremo, Joaquim chegou a frequentar as peladas na casa de Agaciel. Hoje não aparece mais lá.
Outra amizade que se desfez foi com o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Como ÉPOCA relatou na edição 751, de 8 de outubro, foi Kakay quem fez a ponte, a pedido de Joaquim, entre ele e José Dirceu, então todo-poderoso no Poder ao lado, o Executivo – a “aproximação com o poder político do momento”. Queria ajuda para confirmar sua indicação ao STF. Na conversa protocolar no andar de cima do restaurante Piantella, Dirceu respondeu que o currículo de Joaquim teria de falar por si. E que, justamente como Joaquim em seu discurso da quinta-feira, era contra esse sistema em que um ministro do Judiciário tinha de pedir apoio a um ministro do Executivo para ser indicado. Dirceu confessara antes ao amigo Kakay que seu desconforto era, inclusive, porque, em tese, ele próprio poderia vir a ser julgado pelo ministro que ajudasse a nomear. Dirceu ajudou Joaquim. E a recíproca não foi verdadeira.
Nem mesmo entre os ministros do Supremo Joaquim tem amizades. Pelo contrário. Ali pululam desafetos. É com eles, entretanto, que Joaquim exercerá o poder que acaba de receber: nos debates em plenário, nas decisões técnicas e na diplomacia. Os desafetos foram conquistados ao sabor das altercações nos julgamentos. Com eles, vieram as mágoas – dos ministros, que recebiam a rispidez de Joaquim, e, fora do Supremo, de quem não tinha nem sequer a chance de conversar com ele, caso de advogados, juízes e funcionários. Em alguns casos, a mágoa virou temor, temor de que, dependendo de quem você seja, diálogo não será uma possibilidade com o presidente Joaquim Barbosa. 
São sentimentos que renderam episódios traumáticos para a corte. Um deles aconteceu em abril de 2009, quando Joaquim discutia com o ministro Gilmar Mendes, então presidente do STF, uma ação julgada três anos antes. Depois de Joaquim acusar Gilmar de não ser transparente na decisão e de uma réplica de Gilmar dizendo que Joaquim “faltava” às sessões, quando, na verdade, estava de licença médica por causa dos já crônicos problemas na coluna, Joaquim disse: “Vossa Excelência, quando se dirige a mim, não está falando com os seus capangas do Mato Grosso, ministro Gilmar”. A peleja rendeu três anos de distância entre os dois.
Neste ano, Joaquim voltou a expor sua verve belicosa. Desta vez, com o então presidente do STF, Cezar Peluso. Em seus últimos dias na corte, Peluso falou do “temperamento difícil” de Joaquim ao lidar com advogados e colegas. “Ele é uma pessoa insegura. Tenho a impressão que ele tem medo de ser qualificado como arrogante, como alguém que foi para o Supremo não pelos méritos, que ele tem, mas pela cor”, disse Peluso. A resposta de Joaquim veio violenta. Brega, caipira e tirânico foram os adjetivos da réplica. Sobre sua insegurança e seu temperamento de faíscas, Joaquim afirmou: “Alguns brasileiros não negros se acham no direito de tomar certas liberdades com negros. Você já percebeu que eu não permito isso, né?”. Quando Marco Aurélio Mello, um de seus sparrings preferenciais, questionou se Joaquim teria condição de presidir a corte, por causa de seus destemperos, a reação veio por nota à imprensa. “Ao contrário de quem me ofende momentaneamente, jamais me vali ou tirei proveito de relações de natureza familiar”, diz o comunicado. Marco Aurélio é primo distante de Fernando Collor de Mello e foi por ele indicado ao STF.
ENCONTRO Joaquim Barbosa no Senado, no momento em que convidava José Sarney para sua posse.  Ele terá de se entender com os representantes dos outros Poderes (Foto: Alan Marques/Folhapress)
Em conversas privadas, Joaquim mostra pouco carinho pela corte. Na festa de despedida do ministro Sepúlveda Pertence do STF, em 2007, num restaurante exclusivo de Brasília, quando incitado por amigos a dizer como estavam as coisas no Tribunal, ele respondeu, com desdém, que aquilo não tem jeito. “Vou presidir o STF e saio no outro dia. Vou governar Minas Gerais”, disse. Quem estava lá não detectou ironia no tom de voz. Mas captou ambição. É nas conversas reservadas que Joaquim costuma revelar traços que nem as câmeras da TV Justiça captam. Num bate-papo com a imprensa depois de uma das sessões do mensalão, ele já estava de saída, de costas para os repórteres, quando um deles perguntou sobre seu tratamento de saúde na Alemanha. “Isso é espírito de corvo”, disse Joaquim. Balançou a capa preta e saiu.
Na noite daquela quinta-feira, o poder celebrou Joaquim. Numa festa patrocinada pelas associações de juízes no Espaço Porto Vittoria, às margens do Lago Paranoá, 1.300 convidados brindaram, com espumante Casa Valduga, ao novo presidente do Supremo. Parecia festa de casamento. Havia música ao vivo, garçons servindo canapés e muita conversa (política) ao pé do ouvido. A farra era tão concorrida que os convivas se espremiam nos pequenos espaços entre as mesas. Entre eles, os ministros Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski (que assumiu como vice de Joaquim) e Luiz Fux, que só largou o copo de Red Label para tocar Tim Maia na guitarra. Joaquim curtiu todos os instantes, apesar das dores. De tanto assédio, teve de recorrer aos seguranças. Passou a noite exibindo sorrisos para as fotos e dando tapinhas nas costas dos fãs, de lá para cá, de cá para lá.
A festa passou. Joaquim, em breve, assim que seus familiares voltarem a Minas e ao Rio de Janeiro, ficará sozinho em seu amplo apartamento na superquadra 312 Sul. Nas noites seguintes – e em todos os dias que se seguirão a partir de agora –, o presidente do Supremo estará só.
O "risco Joaquim Barbosa" (Foto: Reprodução/Revista ÉPOCA)

  

Médicos discutem medidas para aumentar a segurança de cirurgia plástica


Cirurgia plástica

Em encontro, representantes de entidade médica defenderam que somente profissionais com especialização adequada possam realizar o procedimento

Vivian Carrer Elias
Cirurgia plástica: sociedade médica lança cartilha com orientações de segurança
Cirurgia plástica: sociedade médica defende medidas para garantir segurança do paciente (Digital Vision/ Thinkstock)
Em um fórum médico realizado nesta sexta-feira em Brasília, representantes da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) defenderam medidas que, de acordo com a entidade, promoveriam maior segurança a pacientes submetidos a operações estéticas e reduziriam o número de casos de cirurgias mal sucedidas. Para a sociedade, somente profissionais com especialização em cirurgia plástica e reconhecidos pela SBCP deveriam ser autorizados a realizar esse tipo de procedimento — atualmente, nenhuma lei proíbe que um médico de outra especialidade o faça.
Ser um cirurgião plástico reconhecido pela SBCP significa ter cursado os seis anos da graduação em medicina e outros cinco de pós-graduação, sendo dois deles de especialização em cirurgia geral e os outros três em plástica. A sociedade ainda exige que, na especialização, o futuro cirurgião receba um treinamento de 40 a 60 horas semanais e seja aprovado em uma prova escrita e outra oral aplicada pela própria SBCP.
Os membros da sociedade também defendem que nem todas as cirurgias plásticas possam ser realizadas em clínicas de pequeno ou médio porte. De acordo com José Horácio Aboudib, presidente da SBCP, a ideia é que um paciente submetido a mais do que duas operações estéticas de uma só vez, ou então a algum procedimento mais longo, por exemplo, somente pudesse ser operado em hospitais grandes. O mesmo vale para a lipoaspiração. "Se houver algum problema de perfuração nesse procedimento, os médicos devem partir para uma cirurgia geral, a qual uma clínica pequena não tem condições de realizar", disse Aboudib ao site de VEJA.
Também estiveram presentes no encontro representantes do Conselho Federal de Medicina (CFM), da Associação Médica Brasileira (AMB), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), do Conselho Nacional de Justiça e do Procon. A expectativa de Aboudib é que as discussões em torno da segurança da cirurgia plástica convençam o CFM a estipular medidas com força de lei que vão de acordo com a posição da SBCP. "Cada vez mais o CFM mostra concordar com as nossas posições e argumentos. Acredito que em algum tempo ele poderá tomar decisões a favor da população", afirmou Aboudib, que não soube calcular o tempo que levaria para tais medidas virarem leis.
Excesso de 'especialistas' — Um estudo feito pela própria SBCP e divulgado em agosto deste ano mostrou que, no Brasil, há um cirurgião plástico para cada 44.000 habitantes — uma taxa maior do que a dos Estados Unidos, que é o país campeão em realização de procedimentos desse tipo. No entanto, a entidade alerta que há um grande número de médicos que se dizem especialistas em cirurgia plástica sem ter o título correspondente, o que aumenta as chances de operações mal sucedidas. São pessoas que se dizem 'especialista em medicina estética', por exemplo, uma especialidade que não existe pois não é reconhecida por entidades como o CFM. O levantamento da sociedade mostrou que 95% dos processos de reclamação de cirurgias plásticas mal sucedidas registrados no Conselho Regional de Medicina de São Paulo foram realizados por médicos sem o título de especialista pelo órgão.

NIEMEYER: O POBRE ESTÁ NA FAVELA OLHANDO OS PALÁCIOS

Publicado em 08/12/2012

conversaafiada.­com.­br

O PiG tratou Niemeyer como se fosse o inventor da Casa Cor.

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O Conversa Afiada reproduz entrevista que este ansioso blogueiro fez com Oscar Niemeyer em 2007:

NIEMEYER: ‘O POBRE ESTÁ NA FAVELA OLHANDO OS PALÁCIOS’




Oscar Niemeyer concedeu uma entrevista sobre seu centenário, em seu apartamento, em Copacabana, no Posto 6, a Paulo Henrique Amorim, exibida na Recordnews e, em parte, no Domingo Espetacular. Niemeyer falou de Prestes, de Guevara, de Lula.



Niemeyer falou de Luiz Carlos Prestes, o líder comunista, de quem foi amigo pessoal e a quem protegeu para refundar o Partido Comunista. Quando Paulo Henrique Amorim perguntou o que ele faria se Che Guevara entrasse pelo apartamento adentro e lhe chamasse para participar de uma revolução comunista, Niemeyer respondeu que não tinha mais idade para isso, mas que ajudaria Guevara no que fosse possível, porque o considera um grande homem.

Niemeyer elogiou também o Presidente Lula: porque é um líder operário, que trabalha para ajudar o povo. Niemeyer acha que, apesar de tudo, o Brasil está no caminho certo, a economia cresce, a situação do povo melhora e a renda se distribui. Niemeyer elogiou a posição de Lula e de Chávez porque contribuem para afirmar o papel da América Latina diante dos Estados Unidos.

Niemeyer também diz que uma vez, em Moscou, os arquitetos soviéticos lhe perguntaram o que achava da arquitetura soviética. Ele disse que tinha muitas afinidades com eles, mas que a arquitetura não era boa, porque as colunas eram muito próximas umas das outras, não havia espaços.

Niemeyer também contou que, uma vez, o Partido Comunista Francês recomendou que ele não fosse prestigiar uma conferência do Sartre. Um dirigente do PCF disse que o Picasso era muito indisciplinado e não acatava o Partido. Niemeyer conta que não foi à conferência, mas mandou uma carta a Sartre para dizer que concordava com suas idéias.

Niemeyer diz que casou com a secretária Vera, aos 99 anos, porque é sempre importante estar ao lado da mulher que se ama. Ele concluiu a entrevista ao dizer que chegava de falar de arquitetura, porque o importante mesmo é mulher.

A entrevista se travou na biblioteca de Niemeyer e diante da cadeira dele há uma fotografia de um amigo francês e três mulheres nuas, numa praia no Sul da França. Duas de barriga para cima e uma de barriga para baixo. Quando Paulo Henrique lhe perguntou sobre a foto, Niemeyer falou: “é uma beleza”.

Veja abaixo outros pontos dessa entrevista:
Paulo Henrique Amorim – Devo chamá-lo como?

Oscar Niemayer – Oscar.
Paulo Henrique Amorim – Oscar, a nossa conversa tem como propósito celebrar, no dia 15 de dezembro, os seus cem anos.
Oscar Niemayer – Você sabe que eu fiz um artigo na IstoÉ em que eu contava uma conversa que eu tive comigo mesmo, com esse ser misterioso que tem dentro de nós. Então eu dizia para mim mesmo: “Oscar, não vai nessa conversa de cem anos, isso é ridículo, não tem interesse nenhum, não cai nessa…” e eu sou obrigado, às vezes, a participar da conversa.
Paulo Henrique Amorim – Mas o senhor tem uma frase muito bonita que diz que “a vida é um sopro”. Mas o seu sopro já dura, pelo menos, cem anos.

Oscar Niemayer – É o destino… não sei. Eu olho para trás, não sou como os outros que dizem que fariam tudo igual, eu faria muita coisa diferente. A vida é difícil, a vida nos leva nas coisas que às vezes a gente não quer. Eu me lembro do Jorge Saldanha que vinha aqui quase todos os sábados e dizia, se queixava, “a gente não pode fazer plano nenhum que o destino muda, não é? A vida é cheia de surpresas”. A própria situação internacional depende do inesperado, acontece qualquer coisa e muda tudo. De modo como vive assim uma posição muito precária e que vindo de baixo do universo e achando que é importante, na realidade pouca coisa é importante. A vida é um sopro, a gente vem, conta uma história e todo mundo esquece depois.

Paulo Henrique Amorim – Mas não no seu caso. As suas histórias são de concreto, ficam para sempre.

Oscar Niemayer – É, enfim. Trabalhei, não posso me queixar. O primeiro trabalho que eu fiz em Pampulha foi tendo sucesso, eu trabalhei para JK naquela ocasião, eu me lembro que Pampulha foi o início de Brasília, não é? A mesma correria, a mesma angústia, a mesma preocupação com prazo, e tudo correu bem, Pampulha com a Igreja assim diferente, coberta de curvas, ele ficou satisfeito. Tudo isso eu acredito, deu ao JK um ânimo assim para tocar para Brasília. Eu me lembro que ele me procurou e disse, “Oscar, fizemos Pampulha, agora vamos fazer a nova capital”. E começou essa aventura que durou alguns anos e que deu, pelo menos, ao povo brasileiro a sensação de um pouco de otimismo diante do futuro que agora a gente vê com um certo prazer. A gente sentindo que o Brasil está bem conduzido, que o presidente é operário e está, pela própria origem, ligado ao povo, que o Brasil está crescendo para ser um país importante, a América Latina está se unindo contra essa aventura do império do Bush.
Paulo Henrique Amorim – O senhor não gosta do Bush?
Oscar Niemayer – Eu acho que ele é um merda, sabe.
Paulo Henrique Amorim – (risos) é muito simples. Mas deixa eu voltar um pouquinho aos cem anos. Os cem anos, a gente pode enumerar uma série de defeitos dos cem anos, mas tem vantagens nos cem anos também, não tem?
Oscar Niemayer – O pessoal fica mais condescendente, tratando a gente melhor.
Paulo Henrique Amorim – Mais generoso… não é?
Oscar Niemayer – …com pena. Cem anos dá pena não dá prazer. Eu ia passar os cem anos sem muita alegria. A vida passou, eu procurei ser correto, trabalhar, mas não estou contente, na verdade não traz nenhum prazer.
Paulo Henrique Amorim – Nada?
Oscar Niemayer – Não. Só se o sujeito pensar que é importante, e eu acho isso tão ridículo, se ele pensar que é importante ele está fora do mundo.
Paulo Henrique Amorim – Mas nem o Oscar Niemayer é importante?
Oscar Niemayer – A nossa política agora é um pouco diferente, é ligada à arquitetura, mas sempre procurando resolver o problema do jovem. Nós estamos pensando no Brasil, no sujeito que entra para a escola sem ler um livro e depois é formado, sai da escola como um especialista só falando da sua profissão e o mundo pede gente diferente, que se interesse, que converse, saiba alguma coisa. Nós, por exemplo, aqui no escritório nós temos um professor de filosofia há cinco anos. Ninguém quer ser um intelectual…
Paulo Henrique Amorim – O senhor estuda filosofia?
Oscar Niemayer – Há cinco anos. Mas ninguém tem esse interesse agora.
Paulo Henrique Amorim – Mas, qual é esse seu interesse por filosofia agora?
Oscar Niemayer – A gente quer se informar melhor sobre tudo, aprender outras coisas. O importante é a pessoa ser curiosa. Não é um interesse de um intelectual, é um interesse de um sujeito normal que sente a vida, que é solidário, que acha que o mundo pode ser melhor, que um dia o homem possa ter prazer em ajudar o outro, é isso que é a generosidade num certo sentido. E o ser – humano, é verdade, a perspectiva dele é muito pouco.
Paulo Henrique Amorim – É muito pouco?
Oscar Niemayer – A própria natureza está começando a evoluir, já falam que o sol pode crescer, pode queimar tudo, essas teorias todas, a gente tem que querer, ter vontade de participar, ter uma idéia também, para onde nós vamos… não é? De modo que o que eu acho importante é o jovem ler, se informar, ter uma base patriótica, saber que o Brasil é importante. Antigamente não era preciso falar muito em pátria não, mas hoje tem que falar. A América Latina está ameaçada, nós temos que nos unir, o que eu acho que é importante é ter uma visão geral do mundo.
Paulo Henrique Amorim – Você se considera um patriota?
Oscar Niemayer – Entre nós, geralmente os nossos irmãos militares, a gente traz a idéia da pátria no peito, porque a própria profissão obriga. Quando precisamos dessas autoridades, eles são indispensáveis. É lógico que eu penso o Brasil, penso o povo brasileiro, satisfeito, porque eu estou sentindo que o Brasil está caminhando melhor, vai ser um grande país. A juventude começa a compreender que a vida não é um passeio, que tem que se informar, o jovem tem que ler, participar da vida, se informar, não pode se transformar num especialista que só fala em arquitetura, que só fala em teoria, em medicina…
Paulo Henrique Amorim – O senhor não gosta de falar muito em arquitetura, não é?
Oscar Niemayer – Quando vêm estrangeiros aqui, repórteres estrangeiros, eles realmente querem que eu fale o que eu fiz, os projetos, me dá uma preguiça de falar. A Arquitetura é importante, é a minha profissão, passei a vida debruçado na prancheta. Mas o importante é a vida, fazer a vida mais justa, isso é o que é importante e eles ficam assim e logo para eles sentirem bem o meu ponto de vista eu digo: “vocês sabem, quando eu vejo os estudantes na rua protestando, acho que o trabalho deles é mais importante do que o meu”.
Paulo Henrique Amorim – Você soube que foi feita uma enquete agora para localizar os cem maiores gênios vivos.
Oscar Niemayer – Eles se enganaram, eu não tenho que estar nisso não…
Paulo Henrique Amorim – E você está entre os dez maiores dos cem. Isso não é uma coisa que te dá alegria?
Oscar Niemayer – Não… quem é que julgou? Quem é que procedeu? Tem tanta gente mais importante.
Paulo Henrique Amorim – Por exemplo?
Oscar Niemayer – Ah… tem tanta gente… são tão importante. A vida é ingrata, é injusta. Eu acho que a gente tem é que… não devemos manter uma posição assim, de falar das coisas, mas por agir. Por exemplo, tem um colega meu aí, ele queria ser arquiteto, mas era muito humilde, ele não podia ser. Então eu estou pagando a escola dele, no fim do ano ele vai ser arquiteto. Mas ele tem um compromisso comigo, ele tem que ler. Então ele já sabe, tem que ler Machado de Assis, tem que ler Graciliano Ramos, tem que ter uma idéia da vida. É preciso, a leitura é indispensável. Eu me lembro que teve um período que eu já muito li muito o Simenon, escritor francês de contos policiais. O pessoal do escritório falava, “para quem ler isso, esse negócio não tem conteúdo nenhum”. Mas, um dia eu li um livro do Sartre, onde ele dizia, “hoje li três livros de Simenon”. Então, se Sartre leu três livros de Simenon, a leitura é necessária, qualquer leitura é necessária.
Paulo Henrique Amorim – Mas Oscar, por mais que você tenha resistência em falar de arquitetura, um grande amigo seu, que é meu amigo também, o Ítalo Campofiorito deu uma entrevista dizendo assim, “Que o Oscar, ele faz obras tão grandes que acabam se tornando a marca, a cara, a personalidade de uma cidade”.

Oscar Niemayer – É um amigo que está falando, não é? Mas é bom, é verdade, eu procuro fazer uma arquitetura diferente. Acho que a arquitetura tem que criar espanto, criar surpresa, é feito a obra de arte, a obra de arte se caracteriza quando ela provoca emoção e surpresa. Então, a arquitetura, ter uma arquitetura diferente, é importante, é a prova da criação. De modo que eu trabalho nisso, eu tenho um projeto para fazer, eu estou nesse caminho, eu tiro metade dos apoios, a arquitetura se faz mais audaciosa, não é, com espaços mais generosos, aí eu posso atuar de uma forma diferente, o que ocorre sem nenhum preconceito antes. Um dia perguntaram ao André Malraux uma pergunta semelhante e ele disse, “eu tenho dentro de mim tudo o que eu amei na vida”, isso às vezes me ocorre, de modo que a coisa é espontânea, eu acho que a arquitetura está na cabeça, eu posso, sentado aqui, pensar dois dias num projeto levantar e desenhar. Agora, o desenho é importante também porque surge uma idéia… mas a arquitetura não tem nada de especial. Hoje o concreto permite tudo, no período da renascença, por exemplo, sujeito queria fazer uma cúpula, não passava de quarenta metros de vão. Eu fiz agora o museu de Brasília, tem 80 metros de vão, eu podia ter feito de 150 metros de vão. O arquiteto hoje tem à disposição dele uma técnica fantástica. Ele pode usar como bem entender. Agora, alguns arquitetos procuram fazer alguma coisa mais simples, como se fosse estrutura metálica, outros, como eu, procuram uma forma diferente, a surpresa, e faz parte da arquitetura.
Paulo Henrique Amorim – Por que é que os brasileiros, por exemplo, não se dão conta de que um dos prédios mais lindos de Nova York é de sua autoria, o prédio da ONU?

Oscar Niemayer – Foi da minha autoria. Um dia houve um concurso e escolheram o meu projeto. Nesse projeto eu criava a Praça das Nações Unidas. Tinha um prédio alto no centro, uma grande Assembléia de um lado, outro prédio do outro, então era muito bonito. E foi por unanimidade que escolheram esse projeto. Mas depois, eu mesmo permiti mudar a posição da Assembléia e o projeto mudou, o projeto com a Assembléia grudada em um prédio alto, não é de boa arquitetura.
Paulo Henrique Amorim – Você próprio não gosta muito.
Oscar Niemayer – Eu me arrependo de ter aceitado mudar a posição da assembléia.
Paulo Henrique Amorim – Foi um pedido do Corbusier, não foi?
Oscar Niemayer – Eu era jovem e ele era um mestre e eu atendi, mas foi péssimo, o projeto original era muito melhor.
Paulo Henrique Amorim – A sua memória é perfeita, não é isso? Com cem anos a sua memória está ótima.
Oscar Niemayer – Para algumas coisas sim, para outras não. As coisas ruins eu procuro esquecer.
Paulo Henrique Amorim – Mas, uma vez você estava com um amigo, num restaurante aqui da Avenida Atlântica, o Lucas, e eu estava com a minha filha, que tinha acabado de chegar de Brasília, eu fui mostrar a ela a capital do Brasil. Eu disse para ela, “minha filha, quem está ali é o Oscar Niemayer”, e ela, “Ah, aquele da catedral, do Palácio da Alvorada”, eu digo, “pois é, vamos lá conhecê-lo?”, e eu levei a minha filha para conhecê-lo. Você foi muito gentil, muito simpático e ela perguntou, “como veio à sua cabeça a idéia de fazer aquelas duas bolas do Congresso?”. Aí você pegou uma laranja… lembra disso?
Oscar Niemayer – Não.
Paulo Henrique Amorim – Pegou uma laranja, cortou ao meio e disse, “assim ó”.
Oscar Niemayer – Realmente, o projeto do Congresso é o que eu gosto mais. Fui um pouco corajoso fazer aquilo, aquilo deu mais trabalho do que parece, não era feito cortar uma laranja. Eu me lembro que tempos depois o engenheiro que calculou, o Joaquim Cardoso, me telefonou e disse, “Oscar, encontrei a tangente que vai permitir que a cúpula da Câmara pareça apenas posada.” De modo que fazer uma forma assim, já conhecida, tem problemas de estrutura, enfim, não é fácil de fazer. Eu gosto, o espaço entre elas é bom, o espaço faz parte da arquitetura.
Paulo Henrique Amorim – Mas e aquelas curvas do Palácio da Alvorada, o mundo inteiro copia as suas curvas.
Oscar Niemayer – Você vê que nós estamos com a idéia do prazo na cabeça, tinha que correr. Mas isso não me levou, felizmente, a procurar a solução mais simples, repetida. Em cada caso eu queria uma solução nova. Então eu cheguei àquela solução, dos apoios em curva que eu vi publicado pelo mundo e sem mágoa nenhuma. Quando o sujeito copia uma coisa minha eu acho que ele é gentil, ele gostou daquilo. Há pouco tempo saiu nos Estados Unidos uma nota dizendo que um arquiteto lá tinha copiado um arco que eu fiz ali num projeto. Eu disse logo que não, que não estava zangado não, ele gostou do arco, ele foi gentil.
Paulo Henrique Amorim – É um elogio, o plágio é uma forma de elogio.
Oscar Niemayer – O difícil no mundo, é uma prática que eu faço e realmente é útil, é sempre procurar viver tranqüilo, aceitar as coisas, aceitar a burrice, até a burrice ativa que incomoda.
Paulo Henrique Amorim – A burrice ativa? E tem muito burro ativo, não é? Tem burros dinâmicos.
Oscar Niemayer – Pois é, é respeitar os amigos. Eu sou incapaz de criticar algum arquiteto. Eu acho que ele teve trabalho, procurou fazer, a solução que ele pensou é aquela. Mas o importante na arquitetura é o arquiteto fazer o que ele gosta e não o que os outros gostariam que ele fizesse, esse é o ponto de partida.
Paulo Henrique Amorim – O JK foi o homem público que você mais admira?
Oscar Niemeyer – Não, tem tantos homens públicos… Eu admiro ele, eu admiro a coragem dele, o espírito de empreendedor, de fazer Brasília. tem tanto brasileiro importante. Importante como ele. Por exemplo, uma pessoa que eu admiro muito é o Capanema, que eu lhe dei durante muito tempo.
Paulo Henrique Amorim – Gustavo Capanema, o ministro da Educação.
Oscar Niemeyer – Ministro da Educação, chamou Drummond, foi Capanema que me chamou para Brasília.
Paulo Henrique Amorim – E foi para fazer o prédio do MEC, o primeiro prédio do Ministério da Educação.
Oscar Niemeyer – Não, o prédio é do Corbusier, nós melhoramos. Agora, o trabalho que ele me chamou para fazer Brasília. O Juscelino apareceu e ele me indicou. Essa história mostra que as coisas surgem naturalmente. Eu trabalhava numa universidade e não gostei da universidade, pedi demissão, Capanema não aceitou a minha demissão e deixou para mim um bilhete. Eu fiquei um ano lá, ajudando, uma coisa e outra ligada a arte, com o Drummond, aquela turma do gabinete dele e ficamos muito amigos. Então, quando veio o Juscelino, ele me indicou. Quer dizer, se eu não tivesse brigado na universidade e saído e o Capanema me chamado para o gabinete, não aceitando a minha demissão, eu não tinha ficado amigo dele, e ele não me indicaria. Capanema foi fundamental na minha vida de arquiteto.
Paulo Henrique Amorim – Como está a encomenda que o Chávez fez, de fazer um Memorial para o Bolívar?
Oscar Niemeyer – Não, não tem encomenda. Ele esteve aqui, muito simpático, falou muito em Bolívar. Eu tinha idéia de um monumento e mandei para ele como presente. E admiro, é um sujeito patriota, ele quer melhorar o país, ele acha que um bom governo pode continuar mais tempo…
Paulo Henrique Amorim – Isso para você não é uma coisa grave?
Oscar Niemeyer – Não, acho que ele tem o direito, ele está no clima de revolução, ele tem que defender a revolução e lutar contra tudo. Me lembro, por exemplo, uma vez eu fiz uma mesquita em Argel. E o presidente da República, (Houari) Boumedienne, foi um grande general lá. Eu levei a mesquita para ele e eu me lembro que ele disse assim: “Mas essa é uma mesquita revolucionária”. Eu disse: “A revolução não deve parar”. Eu estava tão certo. A revolução não deve parar. A revolução tem que continuar brigando, senão ela acaba, se as forças contrárias fossem crescendo. De modo que a Revolução Cubana ainda existe. Qualquer revolução dessas – o Chávez também –, os inimigos da revolução estão lá. A revolução está em curso, não sumiu ainda. E quando sumir tem que continuar testando a continuidade.

Paulo Henrique Amorim – Você diria que hoje você é politicamente mais radical do que 50 anos atrás?
Oscar Niemeyer – Não. Eu desculpo muito as pessoas. Eu custo muito a ter raiva de uma pessoa. Acho que toda pessoa tem um lado bom. Eu sou incapaz de criticar o trabalho de um arquiteto, mesmo que eu não esteja de acordo. A gente tem que procurar o equilíbrio, isso é que faz bem inclusive para a saúde.
Paulo Henrique Amorim – Como é que está a saúde?
Oscar Niemeyer – Eu nunca tive doente.
Paulo Henrique Amorim – Nada?
Oscar Niemeyer – Nada.
Paulo Henrique Amorim – Como é que é a sua dieta?
Oscar Niemeyer – Vida normal, como de tudo.
Paulo Henrique Amorim – Come de tudo?
Oscar Niemeyer – Como muito pouco, não gosto de comer muito. Tomo meu vinho de tarde.
Paulo Henrique Amorim – Vinho tinto?
Oscar Niemeyer – É. Os amigos que batem papo, isso ajuda.
Paulo Henrique Amorim – Fuma?
Oscar Niemeyer – Fumo. Agora estou fumando mais.
Paulo Henrique Amorim – Mais?
Oscar Niemeyer – É, porque eu fico meio sozinho, aí sou obrigado a fumar.
Paulo Henrique Amorim – Mas o médico não reclama? O coração, essas coisas.
Oscar Niemeyer – O médico vem aqui de vez em quando, eu chamo ele para bater papo, para dizer que está tudo bem, me sinto à vontade.
Paulo Henrique Amorim – E fuma na frente dele?
Oscar Niemeyer – Ele diz que posso fumar.
Paulo Henrique Amorim – E qual é a sua rotina de trabalho?
Oscar Niemeyer – Eu chego aqui, tenho que atender a imprensa. Tem gente de fora, gente do Brasil, gente que tem vontade de me conhecer. Então, meus dias são ocupados. Às vezes tem um dia mais folgado e eu chamo os amigos e começamos a trabalhar. Aí trabalho o que for preciso.
Paulo Henrique Amorim – Noite a dentro, se for preciso?
Oscar Niemeyer – Não, não tenho trabalhado de noite.
Paulo Henrique Amorim – Mas nesse momento você faz o que, por exemplo?
Oscar Niemeyer – O último trabalho – estou com ele na prancheta – é um museu para a Espanha. É um museu que me agrada muito, que é uma praça grande e tem um auditório para mil pessoas e o museu do outro lado. Então, é feito um monumento para ser criado na Espanha. O museu é uma coisa nova, diferente e o auditório também, o teatro. De modo que interessa muito. Mas tem esse trabalho que eu estou fazendo para o governador de Brasília que é importante. Eu inventei uma cúpula que é uma placa solta no ar com cem metros por oitenta. Essa placa podia abrigar um campo de futebol.
Paulo Henrique Amorim – E isso vai ser o que?
Oscar Niemayer – Isso vai ser para as grandes festas populares. Embaixo dessa placa ele vai poder convocar de trinta a quarenta mil pessoas. De modo é um trabalho assim que me anima mais. E, além disso tem um circo e um auditório. Então, uma obra para Brasília é muito importante.
Paulo Henrique Amorim – É uma praça do povo.
Oscar Niemayer – Também estou fazendo para Minas um projeto que está dando trabalho. Eu quero substituir aqueles prédios antigos, como é que chamava aquilo? No lugar daquelas construções antigas vou fazer um novo centro administrativo.
Paulo Henrique Amorim – Ah, o novo centro administrativo do Governo de Minas, em Belo Horizonte. É você que vai fazer?

Oscar Niemayer – Já está entregue tudo…
Paulo Henrique Amorim – Já está andando? Já está entregue?
Oscar Niemayer – Então, com isso, adotei nesse caso uma arquitetura mais em altura, invés de fazer quarenta secretarias, ou trinta e tantas, eu fiz só duas.
Paulo Henrique Amorim – Duas?!
Oscar Niemayer – Dois prédios de duzentos metros com vinte andares. Então, com essa solução, o terreno pareceu que tinha crescido. Os planos ficaram mais generosos. É engraçado que o prédio do Palácio (do Governador), que eu projetei também, é direta. Então, é uma solução tão esclarecida, sob o ponto de vista da arquitetura, que eu rejeitei e nunca fiz isso, projetei uma ruazinha defronte para depois de construir o conjunto o pessoal passar e sentir que foi uma obra bem pensada. A arquitetura deve ser usada com coragem, assim, sem medo de espantar as pessoas.
Paulo Henrique Amorim – Você está construindo uma nova cidade em Belo Horizonte. Eu pergunto, olhando para trás, 50 anos para trás, você acha que Brasília deu certo?
Oscar Niemayer – Eu acho, Brasília deu certo, é isso que ele (JK) queria, levar o progresso para o interior e eu acho que ele levou. Tem problemas em Brasília, por exemplo, tem as cidades satélites que tem mais gente que em Brasília.
Paulo Henrique Amorim – Do que em Brasília propriamente dito.
Oscar Niemayer – Brasília é aquilo. Eu gosto mesmo é do Rio. Do Rio da praia, dos amigos, de olhar para o mar, de sentir que a natureza é fantástica.
Paulo Henrique Amorim – E São Paulo?
Oscar Niemayer – São Paulo é isso, as ruas eram estreitas, os prédios subiram, as ruas continuaram da mesma largura, ficou um prédio contra o outro. O único lugar do mundo que eu conheço que arquitetura e altura são tão bem aplicadas é na França, na Île-de-France. Île-de-France, os prédios grandes, mas os espaços horizontais acompanham os prédios também, são mais generosos, mostram essa relação de volume e espaço livre tão bem cuidada. Então é muito bonita, a Île-de-France. Agora, usar arquitetura e altura sem esse sentimento de compreensão dos espaços, como Nova York por exemplo, é uma merda.
Paulo Henrique Amorim – Mas São Paulo é Nova York multiplicada por dez.
Oscar Niemayer – Pois é, eu estou dizendo. Estou dizendo que São Paulo é ruim também porque é o mesmo espírito. Não há essa relação de volume e espaço livre que a boa arquitetura exige.

Paulo Henrique Amorim – Você conhece essa frase do Chico Buarque, “a música do Tom é uma casa desenhada pelo Niemayer”.


Oscar Niemayer – Nós estamos fazendo uma revista de arquitetura, (como a que) tivemos uma há tempos atrás.
Paulo Henrique Amorim – A Modulo?  
Oscar Niemayer – Agora é outra. O nome da revista é Nosso Caminho. A idéia que dá é o nosso caminho para frente. Então, nessa revista, a arquitetura tem uma terça parte, o resto artigos variados, filosofia, história, letras. Mas essa revista, nós já estamos pensando no meio da revista uma página com um retrato do Chico e um textozinho. É uma homenagem da revista, desse primeiro número para o Chico.
Paulo Henrique Amorim – E quem é que dirige a revista, é você?
Oscar Niemayer – Não, quem dirige é a minha mulher. Eu cuido assim das coisas de organização das páginas.
Paulo Henrique Amorim – Da paginação, a parte gráfica.
Oscar Niemayer – É.

Paulo Henrique Amorim – Que legal, quando sai essa revista?

Oscar Niemayer – Está pronta, estamos acertando os textos e tudo. É uma revista assim, aberta para o conhecimento. São artigos, tem artigos do Ferreira Gullar, tem artigo do…
Paulo Henrique Amorim – Do Gullar deve ser sobre artes plásticas.
Oscar Niemayer – Artes plásticas, tem artigo do Fiori.
Paulo Henrique Amorim – José Luiz Fiori.
Oscar Niemayer – São cinco artigos, os mais variados.
Paulo Henrique Amorim – E seu não tem nenhum?
Oscar Niemayer – Tem meu também.

Paulo Henrique Amorim – Sobre o que?

Oscar Niemayer – Eu estou querendo usar um artigo que eu falei sobre arquitetura também. Mas sem fugir do assunto da vida.
Paulo Henrique Amorim – Mas você roda, roda, roda e volta para a arquitetura.
Oscar Niemeyer – Se você concordar que nós fazemos arquitetura para o poder, a arquitetura não chega aos barracos. Então, a arquitetura que deve crescer em função da técnica e da sociedade, está faltando essa parte. Ela evoluiu, a arquitetura hoje é mais rica, imensamente mais rica, como solução técnica do que antigamente. Mas continua voltada para os que têm direitos à arquitetura, às classes mais favorecidas. O pobre está na favela olhando os palácios.
Paulo Henrique Amorim – Você diria que seria, em resumo, o seguinte: eis o que lhes devia dizer sobre a minha arquitetura, feita com coragem e idealismo, mas consciente de que o importante é a vida. Os amigos e esse mundo injusto que precisamos melhorar.

Oscar Niemeyer – Exatamente.
Paulo Henrique Amorim – Mas isso é seu.
Oscar Niemeyer – É, é o que eu penso.

Justiça livra Lula de devolver R$ 9,5 milhões


Política

Em 20/11/2012 - 10:41

Processo em Brasília envolve o ex-presidente, indiretamente, no escândalo do mensalão. Lula é acusado de promoção pessoal e de beneficiar o banco BMG

Lula na Casa Rosada, na Argentina
Lula fica livre de ação de improbidade administrativa (Marcos Brindicci/Reuters)
A Justiça Federal em Brasília livrou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de responder a uma ação de improbidade administrativa que o acusava de promoção pessoal e de beneficiar o banco BMG, envolvido no escândalo do mensalão. O Ministério Público Federal cobrava de Lula e do ex-ministro da Previdência Amir Lando a devolução de 9,5 milhões de reais aos cofres públicos, pelo envio de cartas a assegurados do INSS informando sobre a possibilidade de obter empréstimos consignados a juros reduzidos.

Essa é a única ação contra Lula na Justiça que, indiretamente, o envolve no escândalo do mensalão. Em setembro de 2004, quando as 10,6 milhões de correspondências foram enviadas, o BMG havia se tornado o único banco privado a entrar nesse bilionário mercado de crédito no país. No mês passado, dirigentes da instituição foram condenados pela Justiça Federal de Minas Gerais por, assim como integrantes da cúpula do Banco Rural no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, terem concedido empréstimos fraudulentos ao PT e ao empresário Marcos Valério, que teriam abastecido o esquema de pagamento de propina a parlamentares no primeiro mandato do governo Lula.
Na sentença de quarenta páginas, o juiz Paulo Cesar Lopes, da 13ª Vara Federal, extinguiu o processo sem julgar o mérito, valendo-se do argumento de que, de acordo com a Constituição, o presidente da República quando comete atos que atentem contra a probidade da administração só pode ser processado por crime de responsabilidade, não por improbidade administrativa. O juiz porém deixa aberta a possibilidade de devolução do dinheiro, no caso de apresentação de uma ação civil de ressarcimento ao erário.
"O esvaziamento das sanções político-administrativas, gerado pelo não exercício da ação por crime de responsabilidade, afasta a possibilidade de utilização da ação de improbidade administrativa para veicular pretensão exclusiva de ressarcimento ao erário, havendo outras no ordenamento jurídico pátrio que podem ser utilizadas com aquele objetivo", afirmou o juiz, na decisão.
Ele disse ainda que, mesmo que se reconhecesse a possibilidade de se mover uma ação de improbidade, o caso já estaria prescrito porque o Ministério Público demorou mais de cinco anos para processá-lo. Tal fato, destacou o magistrado, já havia sido reconhecido pelo próprio MP quanto a Amir Lando, o outro acusado.
Em fevereiro, o jornal O Estado de S.Paulo revelou a defesa prévia que o ex-presidente havia apresentado na ação de improbidade. Na manifestação feita pela Advocacia Geral da União, Lula argumentou que decisões do Tribunal de Contas da União o isentaram de envolvimento irregular no envio das correspondências, uma vez que apenas os agentes públicos responsáveis pela confecção e pelo envio das cartas foram multados.
O Ministério Público ainda não se pronunciou se vai recorrer da decisão e insistir em transformar Lula em réu no processo. O MP pedia a concessão de liminar para bloquear os bens do ex-presidente a fim de assegurar, em caso de condenação final, o ressarcimento do gasto milionário por conta das cartas.

(Com Estadão Conteúdo)

Como a alimentação pode ajudar a evitar dores


Alimentação

Alimentos podem ajudar a prevenir dores musculares, enxaquecas e até dores de estômago

Juliana Santos
Dor
Especialista indicam alimentos que atuam na prevenção de dores (Thinkstock)
Alguns alimentos possuem propriedades que ajudam a evitar as dores. Nozes, castanhas e o fruto do guaraná, por exemplo, apresentam substâncias que reduzem o "enferrujamento celular", porque combatem a ação dos radicais livres no organismo. Cãibras e dores musculares podem ser evitadas através do consumo de melão e vegetais de folha escura, como a couve, que possuem, respectivamente, potássio e magnésio, relacionados às contrações musculares. Esses alimentos, no entanto, devem ser consumidos em caráter preventivo, e não no tratamento da dor aguda. Veja abaixo quais são eles e como previnem as dores. 

8 alimentos que ajudam a evitar dores

Conheça alguns alimentos que possuem substâncias que ajudam a evitar diversos tipos de dores

Café


O café ajuda a aliviar dores de cabeça leves, chamadas cefaleias tensionais, e até enxaqueca, se ingerido no inicio da crise. Isso ocorre porque a cafeína tem ação analgésica, ou seja, de alívio da dor, no sistema nervoso central. Além disso, ela potencializa a ação de um analgésico comum, como dipirona ou paracetamol, porque facilita a entrada e a ação dessas substâncias no sistema nervoso.
Porém, esse conselho só vale para dores de cabeça pouco frequentes, até cerca de duas vezes por mês. Se uma pessoa que tem dores de cabeça frequentes (no mínimo uma vez por semana) ingerir muito café, ele pode transformar aquela dor em um problema crônico. O abuso do café também pode gerar dores de cabeça por abstinência da cafeína.  Um dos sinais de abuso de uma substância é quando sua ausência causa um prejuízo funcional à pessoa, como uma menor produtividade no trabalho, por exemplo.

Frutas secas


Nozes, castanhas, amêndoas, pecãs, avelãs e outras frutas secas ajudam a diminuir dores musculares. Elas possuem compostos fenólicos, quem têm ação antioxidante, e ômega 9. Essas substâncias estimulam a produção de enzimas que combatem a ação dos radicais livres no organismo, que são liberados pela célula e produzem um efeito oxidativo, como uma espécie de ferrugem celular. A ação dos radicais livres no organismo causa inflamações celulares e dor ou fadiga muscular. Esse efeito é mais intenso em pessoas que praticam atividades físicas. Nesses casos, é recomendado o consumo de frutas secas antes e depois da atividade. Mesmo para quem não pratica exercícios regularmente, é recomendado ingerir um punhado dessas frutas pelo menos três vezes por semana.

Melão


O melão é rico em potássio, que está relacionado com as contrações e o relaxamento muscular, e por isso ajuda a evitar dores nos músculos. A banana também apresenta essa substância, mas no melão o potássio pode ser encontrado em maior quantidade. Para quem pratica exercícios físicos, o consumo pode ser feito antes e após a atividade.

Couve


Vegetais de folha verde escura, como couve e escarola, e leguminosas, como grão de bico e feijão, são ricos em magnésio, que auxilia no controle da contração muscular. O magnésio é responsável pela ativação da bomba de sódio e potássio, mecanismo que permite a entrada do potássio na célula para que ela possa prevenir a cãibra. Por essa razão, alimentos ricos em magnésio são complementares em relação aos alimentos ricos em potássio, porque o magnésio permite que ele realize sua função no organismo.

Melancia


A melancia, por possuir um ph alcalino, combate a acidez do suco gástrico, substância presente no estômago, que atua na digestão de alimentos, atuando positivamente sobre dores de estômago e gastrite.

Guaraná


Além de possuir cafeína, que reduz a sensibilidade à dor (o que explica casos em que ela foi considerada doping em atletas), a fruta do guaraná também possui compostos fenólicos, quem tem ação antioxidante, como a teobromina, que combate o "enferrujamento celular" causado pelos radicais livres. A semente e o pó de guaraná têm a mesma ação, mas o refrigerante produzido a base dessa fruta não apresenta tais benefícios.

Salmão


Peixes de água fria, como salmão e sardinha, são ricos em ômega 3, que ajuda a evitar inflamações que provocam dores. O ômega 3 não é produzido pelo organismo e é considerado uma 'gordura boa', porque é a fonte que o corpo utiliza para produzir hormônios intercelulares que equilibram  os eicosanoides, hormônios que provocam inflamações.  O aumento dos níveis desses hormônios que desencadeiam o processo inflamatório costuma ser causado pela alimentação, como o consumo excessivo de gorduras. O ômega 3 também atua na captação de radicais livres, ajudando a reduzir dores musculares decorrentes da "ferrugem celular". São recomendadas duas a três porções semanais.

Cúrcuma


Também conhecido como açafrão da terra, a cúrcuma é utilizada como tempero em diversos pratos, e é o componente principal do curry. Ela possui curcuminoides, que são bioflavonoides, substâncias anti-inflamatórias. Ela é indicada principalmente para pacientes com câncer e doenças dermatológicas. Outros temperos, como a pimenta e o alho, possuem outros tipos de bioflavonoides que também ajudam a evitar inflamações.  Os bioflavonodes também estão presentes nas frutas. A maçã, por exemplo, possui quercetina, indicada para casos de inflamações respiratórias. 

Fonte: Paulo de Tarso Lima, médico responsável pelo grupo de medicina interativa do Hospital Albert Einstein


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