segunda-feira 21 2013

Maria Bethânia declama Fernando Pessoa e cantando O doce mistério da vida



Eros & Psique - Poema de Fernando Pessoa



LEILÃO DO PRÉ-SAL: os extremistas de esquerda devem estar decepcionados. O imperialismo americano NÃO ficou de olho em nosso tesouro. O imperialismo americano sumiu do leilão


O leilão no Rio: o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo; a presidente da Petrobras, Graça Foster; a diretora-geral da ANP, Magda Chambriand, e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, sobem ao palco ao lado de representantes das empresas que integram o consórcio vencedor (Foto: Fernanda Frazão / Agência Brasil)
O leilão no Rio: o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo; a presidente da Petrobras, Graça Foster; a diretora-geral da ANP, Magda Chambriand, e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, sobem ao palco ao lado de representantes das empresas que integram o consórcio vencedor (Foto: Fernanda Frazão / Agência Brasil)
Os energúmenos de sempre, o que em geral inclui também baderneiros e, naturalmente, os partidários de se reconstruir o Muro de Berlim, deveriam estar até satisfeitos com o primeiro leilão de exploração das reservas de petróleo de pré-sal do país, a do campo de Libra, na Bacia de Campos, no qual se estima haver entre 8 e 12 bilhões de barris do (ainda) “ouro negro”.
Afinal, apesar de todos os protestos e de mais uma greve de petroleiros — será que haverá desconto dos dias parados, ou eles ganharão de novo férias grátis? –, com o Exército nas ruas do Rio e tudo, a iniciativa privada, que é o motor do crescimento do planeta, ficou em minoria no consórcio vencedor, o único, aliás, que apresentou propostas.
Como já se sabe, quem venceu o leilão promovido pela Agência Nacional do Petróleo foi um consórcio formado pela própria Petrobras, detentora de 40%, as também estatais chinesas China Nacional Petroleum Company (CNPC) e China National Offshore Oil Corporation (CNOOC), com 10% cada uma — cabendo a duas empresas privadas, as gigantes anglo-holandesa Shell e a francesa Total dividir igualmente os 40% restantes.
O imperialismo americano ficou longe. Colossos como a ExxonMobil e a Chevron nem se interessaram pela disputa.
Como se sabe, os Estados Unidos estão nadando em colossais reservas de gás de xisto, desenvolveram uma tecnologia de exploração de petróleo dessas reservas e estão produzindo cada vez mais.
Como já escrevi recentemente — vale lembrar aqui –, graças ao petróleo bruto extraído de formações de xisto (um tipo de rocha encharcada de óleo), somente um dos 50 Estados americanos, Dakota do Norte, aumentou mais de dez vezes a produção desde que foi perfurado o primeiro poço, há nove anos — e hoje, com 900 mil barris POR DIA, Dakota do Norte supera dois dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), o Equador e o Catar. Sozinho, as empresas privadas que atuam em Dakota do Norte tiram do solo diariamente quase a metade do que a Petrobras inteira.
O dramatismo dos demagogos: "a pátria é nossa", reza uma das bandeiras em manifestação no Rio antes do leilão (Foto: Agência Brasil)
O dramatismo dos demagogos: “Pátria Livre”, reza uma das bandeiras em manifestação no Rio antes do leilão, como se uma operação comercial que só traria vantagens para o país fosse contrária à liberdade (Foto: Agência Brasil)
A produção de petróleo dos EUA passa um pouco de sonoros 10 milhões de barris de petróleo por dia, mais do que sua produção anual do último quarto de século — são os dados oficiais de 2012, situando-se agora como o TERCEIRO PRODUTOR MUNDIAL. (A Rússia extrai 10,4 milhões de barris diários, e a Arábia Saudida, 11,7.) Os otimistas acham que o país caminha para a total autossuficiência em petróleo, e de deixar de depender de países instáveis do Oriente Médio ou da inimiga ideológica Venezuela para suprir sua demanda. Esse patamar ainda está distante, porque a economia americana devora diariamente 18 milhões de barris.
Algo me diz que os manifestantes contra o pré-sal, o pessoal do PSOL, os black blocs, os grevistas da Petrobras e muito mais gente ficou decepcionada: o imperialismo americano, ao que tudo indica, NÃO cobiça nossa preciosa riqueza — até porque o petróleo de xisto que está obtendo em seu próprio solo é muito mais barato do que o do pré-sal.
Sem contar que as reservas do pré-sal, sem dúvida alguma um tesouro para o Brasil, são muito pequenas em comparação ao potencial americano com o gás de xisto. O United States Geological Survey — agência de pesquisas e estudos sobre os recursos naturais do país, organismo do Departamento do Interior — divulgou há dias uma estimativa de que apenas na região mais rica em xisto do Estado do Colorado, Piceanse Basin, pode abrigar espantosos 1,52 trilhão de barris, uma reserva superior à de qualquer outro país
petroleiro do mundo e maior do que a soma de tudo o que têm os países membros da OPEP.
O imperialismo americano e sua suposta gula sobre nossas reservas sumiu. Cadê o imperialismo americano?

Pesquisa usa pasta de amendoim para detectar Alzheimer

Doenças neurodegenerativas

Equipe descobriu que pessoas em estágio inicial da doença apresentam dificuldades em detectar certos odores com a narina esquerda - entre eles, o do alimento

Teste de olfato: Pesquisadores americanos usam pasta de amendoim para detectar Alzheimer em estágio inicial
Teste de olfato: Pesquisadores americanos usam pasta de amendoim para detectar Alzheimer em estágio inicial(University of Florida)
Por mais estranho que pareça, um pouco de pasta de amendoim e uma régua podem ser suficientes para diagnosticar a doença de Alzheimer em estágio inicial. A curiosa descoberta faz parte de um pequeno estudo feito na Universidade da Flórida e que será publicado na próxima semana no periódico Journal of the Neurological Sciences.
Na pesquisa, a equipe descobriu que pacientes na fase inicial da doença têm mais dificuldade em identificar determinados odores quando respiram somente com a narina esquerda. Isso pode ser explicado pelo fato de a habilidade de uma pessoa sentir cheiros estar associada a um nervo localizado em uma das primeiras partes do cérebro que é afetada pelo Alzheimer. Essa região, além do olfato, também é responsável pela formação de novas memórias.
A pesquisa começou quando Jennifer Stamps, pesquisadora do Centro para Olfato e Paladar do Instituto do Cérebro da universidade, decidiu criar um teste de olfato para pessoas com Alzheimer. Orientada por Kenneth Heilman, professor de neurologia da Universidade da Flórida, Jennifer chegou à conclusão de que a pasta de amendoim era uma boa opção para isso pois tem, segundo ela, um “odor puro”. Além disso, o alimento é bastante comum nos Estados Unidos e poderia ser reconhecido facilmente pelos pacientes.
O teste criado por Jennifer e Heilman foi ser realizado com 94 pacientes que, pelos sintomas, poderiam ter algum tipo de demência, incluindo o Alzheimer, ou comprometimento cognitivo leve. Nenhum deles, porém, havia recebido um diagnóstico até então.
Às cegas — O teste foi feito da seguinte forma: os médicos que atenderam cada indivíduo possuíam 14 gramas de pasta de amendoim (o equivalente a uma colher de sopa) e uma régua métrica. Os pacientes, então, com uma das narinas, boca e olhos fechados, foram orientados a tentar detectar o cheiro da pasta de amendoim. O médico aproximava o alimento do paciente em um centímetro a cada vez que ele não conseguia adivinhar o cheiro. Para isso, contou com a ajuda da régua. Depois, o mesmo procedimento foi feito com o mesmo indivíduo, mas dessa vez com a outra narina tampada.
Os médicos que realizaram o teste não sabiam do diagnóstico dos pacientes, que, de maneira geral, foi confirmado algumas semanas após esse exame.
Diferenças — Ao saber dos diagnósticos, a equipe observou que aqueles que apresentavam um estágio inicial de Alzheimer foram os que tiveram uma grande diferença na capacidade de detectar o odor entre as narinas esquerda e direita. Nesses casos, os pacientes somente conseguiram detectar o odor com a narina esquerda quando a pasta de amendoim estava, em média, a uma distância de 5,1 centímetros do nariz. Usando a narina direita, eles foram capaz de identificar o odor com uma distância média de 17,4 centímetros.
Os indivíduos que tinham outros tipos de demência, por outro lado, não apresentavam, no geral, diferenças entre as duas narinas. E, se havia diferença, a narina mais prejudicada era a direita, e não a esquerda.
Apesar dos resultados, os pesquisadores acreditam que mais estudos são necessários para compreender melhor de que forma o olfato prejudicado pode indicar a presença do Alzheimer. Segundo Jennifer, o teste pode ser usado, por enquanto, para confirmar diagnósticos, e não como único método para identificar a doença. “Pretendemos estudar pacientes com comprometimento cognitivo leve para saber se esse teste pode prever quais pacientes com o problema terão Alzheimer no futuro”, disse a pesquisadora em um comunicado divulgado pela universidade.

Pesquisa indica como detectar Alzheimer cinco anos antes dos primeiros sintomas

Doenças neurodegenerativas

A descoberta pode auxiliar no desenvolvimento de medicamentos capazes de postergar ou evitar o surgimento da doença

Alzheimer
Alzheimer: Níveis de duas proteínas específicas presentes no fluido que envolve o cérebro podem prever Alzheimer(Thinkstock)
Cientistas da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, descobriram uma forma de detectar se os problemas de memória apresentados por um paciente podem evoluir para a doença de Alzheimer. Em um estudo, a equipe concluiu que níveis específicos de duas proteínas presentes no fluido cerebrospinal (líquido que envolve e protege o cérebro contra lesões) ajudam a prever o surgimento da doença até cinco anos antes do início dos sintomas.
Para os autores, a descoberta, publicada nesta quarta-feira na revista Neurology, pode auxiliar no desenvolvimento de medicamentos capazes de postergar ou evitar o surgimento do Alzheimer — atualmente, não existem drogas com esse efeito. Os pesquisadores acreditam que os testes feitos até agora falharam por terem sido realizados em pessoas que apresentavam sintomas relacionados ao Alzheimer e que possivelmente já haviam sido afetadas de forma mais grave pela doença. Acredita-se que a moléstia se desenvolva no cérebro pelo menos dez antes dos primeiros sintomas clínicos aparecerem.
“Quando vemos um paciente com pressão ou colesterol altos, não esperamos até que ele tenha uma insuficiência cardíaca para tratá-lo. O tratamento precoce em pessoas com doenças do coração evita que o problema se agrave, então é possível que o mesmo ocorra com indivíduos com Alzheimer pré-sintomático”, diz Marilyn Albert, professora de neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins e coordenadora do estudo.
Análise — A pesquisa de Marilyn se baseou em amostras de fluido cerebrospinal coletadas de 265 adultos saudáveis, entre 1996 e 2005. Durante o período da pesquisa e até o ano de 2009, os voluntários foram submetidos a diversos exames físicos e neuropsicológicos.
Os pesquisadores conseguiram identificar quais são os níveis de duas proteínas presentes no fluido cerebrospinal relacionadas a uma maior possibilidade de o comprometimento cognitivo evoluir para a doença de Alzheimer. Essas duas proteínas são a Tau e a beta-amiloide. A equipe demonstrou que quanto maior o nível da proteína Tau e menor o da beta-amiloide no fluido cerebrospinal, maiores as chances de desenvolver a enfermidade.
Segundo os autores, porém, mesmo que uma pesquisa maior confirme esses achados, ainda não será possível evitar o surgimento do Alzheimer justamente pelo fato de ainda não existir um medicamento capaz de fazer isso.

Aprender uma atividade nova é a melhor forma de ter uma mente saudável

Idosos

Pesquisadores americanos concluíram que passar a vida fazendo palavras-cruzadas não é suficiente para manter o cérebro de pessoas idosas em forma

Idosa
Cognição: Segundo uma nova pesquisa, aprender uma nova atividade intelectual é mais importante para idosos do que passar muito tempo realizando uma que já é familiar (Thinkstock)
Existem muitas provas de que manter o cérebro ativo ajuda na saúde mental de pessoas idosas. Esse benefício, no entanto, não parece ser o mesmo para todas as atividades intelectuais. Segundo um novo estudo americano, aprender uma nova atividade e desafiar a mente o tempo todo é mais eficiente do que insistir em um hábito antigo. Ou seja: passar a vida toda fazendo palavras-cruzadas não será tão benéfico ao cérebro de uma pessoa quanto aprender a fotografar em uma câmera digital de última geração, por exemplo.
O estudo, feito na Universidade do Texas em Dallas, nos Estados Unidos, avaliou 221 pessoas de 60 a 90 anos. Os voluntários foram orientadas a realizar alguma tarefa intelectual 15 horas por semana, durante três meses. Alguns dos participantes aprenderam uma nova atividade, como tirar fotos em câmeras digitais, enquanto outros fizeram atividades que já conheciam, como montar um quebra-cabeça. Outros participantes destinaram esse tempo a eventos sociais, a exemplo de pequenas viagens.
Os autores avaliaram a cognição dos participantes no início do estudo e três meses depois das tarefas. A equipe descobriu que os participantes que aprenderam uma atividade nova apresentaram uma melhora na cognição em comparação ao restante dos voluntários. 
"Os resultados sugerem que o engajamento em alguma atividade por si só não é suficiente. É preciso fazer algo diferente, desafiador e estimulante", diz Denise Park, coordenadora do estudo, publicado no periódico Psychological Science. "Quando você está em uma zona de conforto, pode estar fora de uma zona de melhora para o cérebro."

Mesmo corpo, vários genomas

Genética

Estudos publicados nos últimos três anos revelam que um mesmo indivíduo pode ter em seu corpo células com DNAs diferentes. Conhecer o padrão dessas "mosaicos genéticos" pode ajudar no tratamento e diagnóstico de doenças e até em investigações policiais

Guilherme Rosa
genomas
Enquanto o corpo humano cresce e se desenvolve, pequenas falhas no processo de replicação das células podem dar origem a mutações no DNA que as constitui. Uma pesquisa recente analisou as células da pele de sete indivíduos e descobriu que 30% delas apresentavam genomas diferentes do resto do corpo (Thinkstock)
Desde que os biólogos James Watson e Francis Crick descobriram a estrutura do DNA em 1953, os cientistas supunham que todas as células do corpo de um indivíduo saudável possuíam o mesmo genoma, uma cópia exata da receita original, presente no embrião. Eventuais mutações, acreditavam, teriam consequências drásticas, como o surgimento de tumores. Descobertas feitas nos últimos anos, no entanto, revelam que uma pessoa pode normalmente carregar vários DNAs espalhados pelo seu corpo, resultado de mudanças sem fim em seu código genético. Pesquisadores já encontraram essas mutações em diversos tecidos do corpo humano, como cérebro, pele, sangue e rins. Conhecer o padrão desse mosaico genético pode ajudar no diagnóstico e tratamento de doenças e até em investigações policiais.
Todo animal nasce a partir do encontro de um óvulo com um espermatozoide, de que resulta seu DNA original. Até a última década, os pesquisadores reconheciam apenas um DNA por indivíduo, replicado com perfeição — nucleotídeo por nucleotídeo — por todo o corpo. “As apostilas de genética deixavam claro que todas as células deveriam ter o mesmo genoma. Podia haver algumas poucas exceções, como as células reprodutivas e algumas do sistema imunológico, mas a história terminava aí”, afirma Alexander Urban, professor de psiquiatria e genética na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e autor de algumas das principais pesquisas sobre a variação no DNA humano. Uma das exceções conhecidas pelos pesquisadores desde os anos 1950 é o quimerismo, que ocorre quando dois embriões que dariam origem a gêmeos se fundem no útero materno, gerando um único indivíduo com dois DNAs diferentes espalhados pelo corpo.
Nos últimos cinco anos, no entanto, os pesquisadores descobriram que variações do DNA não são incomuns, nem necessariamente danosas. “Quase todas as pessoas possuem algumas dessas variações espalhadas pelo corpo. Ainda não podemos afirmar categoricamente o número de mutações ou de pessoas que as carregam, mas as temos encontrado na maioria dos estudos que fazemos. Deve levar entre cinco a dez anos para que tenhamos dados mais precisos”, afirma Urban.
Embora seja um campo de estudo relativamente novo — os estudos mais robustos não possuem mais do que três anos —, os pesquisadores já foram capazes de catalogar uma série dessas variações. Em um dos estudos que contaram com a participação de Urban, os cientistas valeram-se da autópsia de seis indivíduos para mapear a variedade genética de seus órgãos. Em cinco dos seis corpos foram encontradas mutações. “Isso não quer dizer que os genomas dos órgãos sejam completamente diferentes. Em um dos casos, por exemplo, nós encontramos alterações em apenas cinco pares de bases que compõem o DNA dos rins e do fígado. Perto dos três bilhões de pares que compõem todo o genoma, é muito pouco”, diz Urban.
Mosaicos humanos — O número de pesquisas sobre o tema tem crescido aceleradamente. Para tanto, os cientistas contam com o avanço da tecnologia de análise genética, que permite exames cada vez mais rápidos, baratos e precisos. “Há uma década, um grupo de centenas de milhares de cientistas levou cerca de treze anos para sequenciar o primeiro genoma humano, a um custo de 3 bilhões de dólares. Hoje, aqui em nosso laboratório, podemos sequenciar três ou quatro genomas por semana, cada um custando milhares de dólares. Ficou muito mais fácil — e rápido— fazer experimentos e testar hipóteses”, diz Urban.
Com isso, os cientistas puderam não só comparar as diferenças dos genomas entre diferentes pessoas, mas também entre os diferentes tecidos do mesmo indivíduo. Descobriram assim, novas formas de quimerismo, como filhos que carregavam em seu sangue algumas células maternas, que absorveram quando estavam ainda estavam no útero, ou mães que tinham, em diversos tecidos de seu corpo, restos de células com o DNA dos filhos.
Mas o que mais surpreendeu os cientistas foram as análises genéticas que mostraram que as células de um mesmo indivíduo podiam começar a sofrer mutações espontâneas durante seu desenvolvimento, gerando tecidos com DNAs diferentes. Esse fenômeno — que recebeu o nome de mosaicismo, como se o indivíduo fosse formado a partir de um mosaico de genomas diferentes — se mostrou muito mais comum do que se suspeitava. Uma pesquisa realizada por Alexander Urban, por exemplo, analisou e comparou o DNA das células da pele de sete indivíduos. Como resultado, descobriu que 30% das células estudadas apresentavam pequenas variações genéticas que as diferenciavam do resto do corpo.

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QUIMERISMO
Quimera é um organismo que possui células descendentes de dois zigotos diferentes. Ele pode surgir, por exemplo, a partir da fusão, ainda no útero materno, dos embriões de dois gêmeos não-idênticos. Nesse caso, os DNAs encontrados em sua célula serão bastante diferentes, indicando a mistura de dois indivíduos.
MOSAICISMO
Quando um indivíduo possui células com DNAs diferentes, mas que descendem do mesmo zigoto. Ele pode surgir a partir de mutações que as células sofrem conforme o corpo se desenvolve. No mosaicismo, as diferenças genéticas entre as células costumam ser muito pequenas, atingindo poucos pares de base em meio aos bilhões que existem no DNA..
Os pesquisadores querem agora saber em que momento do desenvolvimento corporal essa mutações acontecem. “Se uma mutação acontece no começo do desenvolvimento cerebral, por exemplo, ela estará em todos os neurônios do cérebro”, diz Urban. Se só acontecer mais tarde, estará muito menos presentes — e será muito mais difícil achá-la.
Mutações e doenças — Os cientistas ainda não são capazes de afirmar com certeza quais são os efeitos de todas essas mutações para a saúde humana. “O que podemos afirmar é que a maioria dessas variações não é muito maligna”, diz Urban. "Ou estaríamos todos mortos."
Uma minoria dessas mutações, no entanto, tem efeitos perversos para a saúde da população. Essas variações são as mais fáceis de descobrir, pois os indivíduos que as carregam adoecem, procuram os médicos e eventualmente têm seu DNA analisado. Foi assim que os cientistas conseguiram ligar o mosaicismo a uma série de doenças raras, como as síndromes de McCune–Albright, de Pallister–Killian e de Proteus, que têm sintomas semelhantes, gerando deformações nos ossos, mudanças na pigmentação da pele e no desenvolvimento corporal.
Uma pesquisa publicada por cientistas da Universidade da Califórnia no ano passado, por exemplo, mostrou que mutações nas células do cérebro são responsáveis pela megaloencefalia, uma condição na qual metade do órgão cresce mais do que a outra e causa severas convulsões. O laboratório de Alexander Urban está, neste momento, pesquisando se existe alguma relação entre mudanças no DNA das células cerebrais e doenças mais comuns, como autismo e esquizofrenia.
As doenças mais conhecidas por surgirem a partir de mutações no DNA são os cânceres. Eles surgem a partir de mudanças grandes nos genomas — podendo atingir alguns milhares de pares de base — que fazem com que as células passem a se reproduzir descontroladamente.

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EPIGENÉTICA
O mosaicismo não é a única forma pela qual os genes podem mudar sua forma de atuação durante a vida de um indivíduo. Nos últimos anos, uma série de pesquisas tem mostrado a importância da epigenética, uma alteração que acontece no modo como os genes se expressam, sem acarretar, no entanto, em alteração do código genético.
Ela é diferente da mutação que acontece no mosaicismo. Em uma mutação, o próprio código genético é alterado em algum momento do desenvolvimento do indivíduo. Já a mudança epigenética só altera a forma como o gene funciona — o DNA continua o mesmo, mas já não atua do mesmo modo. Essa mudança pode ser causada por fatores ambientais, como poluição ou a prática de exercícios, e pode ser passada para as gerações seguintes.
Com os avanços na área, os cientistas estão começando a entender que tipos de mutações são as mais perigosas. Uma pesquisa publicada este mês na revistaScience, por exemplo, comparou as variações genéticas encontradas naturalmente no genoma humano com aquelas que aparecem nos tumores. Como resultado, mapeou as regiões do DNA que são mais vulneráveis a alterações malignas, que podem dar início ao câncer. “Nós classificamos essa regiões como sensíveis ou ultrassensíveis, pois estão mais suscetíveis a esse tipo de mutação”, diz Mark Gerstein, pesquisador de bioinformática na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e autor do estudo, em entrevista ao site de VEJA.
A pesquisa de Mark Gerstein é um exemplo do rumo que podem tomar as novas pesquisas na área da genética. Ao descobrir que as variações no DNA são muito mais comuns do que se pensava, e ao mapear quais delas podem dar origens a doenças, os cientistas estão dando início a uma nova etapa da medicina personalizada. “Ao caracterizar completamente um tumor, por exemplo, nós podemos administrar drogas desenvolvidas para aquele tipo de câncer, com suas mutações específicas”, afirma Gerstein.
Investigação policial – Outra área que deve sofrer consequências a partir desses estudos é a ciência forense, em particular o uso de teste genéticos para identificar criminosos. “O mosaicismo não pode levar a uma falsa acusação. É impossível que alguém vá preso porque uma mutação em seu DNA o torna parecido com o de um criminoso — o DNA é grande demais para isso. Mas é possível, embora muito improvável, que algum criminoso não seja encontrado porque as marcas que deixou não correspondem ao DNA do resto de seu corpo”, diz Urban. O mesmo tipo de problema pode ser apontado em outros testes genéticos, como os que examinam a paternidade.
O pesquisador diz que, para resolver esse impasse, bastariam algumas mudanças nos testes. Esses exames não costumam cobrir todo o genoma do indivíduo, mas alguns marcadores específicos que se encontram ao longo do DNA. Se os pesquisadores descobrirem os trechos mais suscetíveis às mutações, ou os testes passarem a analisar um número maior de marcadores, os erros tendem as ser evitados. "São mudanças pequenas, que não exigem o abandono dos exames. Essa é uma área muito nova de pesquisas, mas, por enquanto, nada do que descobrimos justifica grandes preocupações", afirma.

Dívida sufoca famílias do Minha Casa, Minha Vida

Em VEJA desta semana

Vitrine do governo Dilma para 2014, programa que pretende entregar moradias populares a 3 milhões de famílias até o fim do ano tem recorde de inadimplência

Alana Rizzo
Cortesia eleitoral: Rudileia de Aragão engrossa a fila de inadimplentes do programa habitacional, mas não corre o risco de perder a casa. O governo, que não quis saber antes se ela poderia pagar, agora também não vai cobrá-la
Cortesia eleitoral: Rudileia de Aragão engrossa a fila de inadimplentes do programa habitacional, mas não corre o risco de perder a casa. O governo, que não quis saber antes se ela poderia pagar, agora também não vai cobrá-la (Fernando Cavalcanti)
Ele foi planejado para ser a mais vistosa vitrine eleitoral da gestão Dilma Rousseff - a resposta do governo para o sonho da casa própria. Lançado em 2009, o programa Minha Casa Minha Vida consumiu 134,5 bilhões de reais para fazer 2,1 milhões de casas populares. O primeiro milhão já foi distribuído. A presidente Dilma percorreu seis estados brasileiros neste ano para providenciar ela mesma a entrega. O potencial de dividendos eleitorais da iniciativa é tamanho que ela é tratada como uma espécie de Bolsa Família da área urbana.
Programa subsidiado, o Minha Casa Minha Vida prevê que o governo arque com uma parte das prestações e o beneficiado banque o restante. O valor das parcelas é calculado com base na renda de cada família. No papel, tudo certo. Na realidade, tudo mais ou menos. Dados obtidos por VEJA revelam que o índice de inadimplência na faixa de financiamento que inclui participantes com renda mensal mais baixa, até 1 600 reais, está em 20%. É um número dez vezes maior que a média dos financiamentos imobiliários no Brasil e 4 pontos mais alto que a porcentagem de atrasos em pagamento de hipoteca nos Estados Unidos em 2007, quando se acentuou a crise que serviu de gatilho para a pior recessão desde o fim da II Guerra Mundial.
Colaborou Natália Cacioli

Dilma aumenta em 900% gastos com propaganda do Minha Casa, Minha Vida. Repetindo: 900%

Habitação

Enquanto isso, no orçamento da publicidade do governo federal, valores empenhados até o fim de setembro já superam o total de 2012

Gabriel Castro e Hugo Marques, de Brasília
Presidente Dilma Rousseff posa com uma família durante a cerimónia de entrega de apartamentos do programa "Minha Casa, Minha Vida", em São Paulo
Presidente Dilma Rousseff posa com uma família durante a cerimónia de entrega de apartamentos do programa "Minha Casa, Minha Vida", em São Paulo (Nelson Almeida/AFP)
O Programa Minha Casa, Minha Vida é uma das principais apostas eleitorais da presidente Dilma Rousseff para 2014, dada a escassez de grandes realizações que possam cativar o eleitor e garantir um segundo mandato à petista. O governo aposta tanto na divulgação do programa que, em 2013, despejou uma quantidade desproporcional de recursos apenas para fazer propaganda dele.

Dados cedidos pela Caixa Econômica Federal a pedido do líder da minoria na Câmara, Nilson Leitão (PSDB-MG), mostram a repentina elevação de gastos com publicidade: em 2011, foram 261 000 reais. No ano seguinte, 1,7 milhão. Em 2013, até o fim de julho, a Caixa já havia destinado 15,7 milhões de reais para divulgar o programa. Mesmo que o banco público não gaste mais um real até o fim do ano para propagandear o programa habitacional, o valor significará um aumento de 923% por cento na comparação com todos os gastos de 2012 – e de mais de 6.000% em relação a 2011.

A Caixa não apresenta uma explicação clara sobre a elevação de gastos. Diz que, no montante, estão ações de esclarecimento aos participantes do programa. "A campanha teve como objetivo de prestar, de forma transparente, orientações aos beneficiários que estavam recebendo as chaves de imóveis do MCMV – tais como a conservação e manutenção da moradia, condições de instalação do sistema elétrico e hidráulico, economia de água e energia, dentre outros pontos importantes", informa nota emitida pela assessoria de imprensa da Caixa Econômica Federal ao site de VEJA.
Mas o que se viu nos últimos meses foi uma profusão de peças de publicidade para atrair novos participantes para o programa, estreladas pela atriz Camila Pitanga e a apresentadora Regina Casé. A Caixa, aliás, não revela o preço pago a elas: diz que o cachê é uma informação "estratégica". O governo tem como meta firmar 2,5 milhões de contratos para o Minha Casa, Minha Vida até o fim de 2014. Até agora, 1,3 milhão de pessoas aderiram ao programa.

O deputado Nilson Leitão agora vai pedir à Caixa que esclareça se o aumento nos gastos com publicidade foi acompanhado de um crescimento proporcional nos empreendimentos do programa. A pergunta é meramente retórica, já que a resposta será evidentemente negativa. "É um gasto apenas promocional para o governo; não muda em nada a vida do cidadão", queixa-se o parlamentar.

Ofício da Caixa admite elevação repentina nos gastos
A elevação dos gastos com publicidade do Minha Casa, Minha Vida ocorre no momento em que a inadimplência disparou: como mostrou VEJA há um mês, entre as famílias com renda mensal de até 1 600 reais, o índice chega a 20% – número dez vezes maior que a média dos financiamentos imobiliários no país.

Cifras – Os gastos gerais do governo com publicidade também subiram. Levantamento feito pela ONG Contas Abertas a pedido do site de VEJA mostra que os valores empenhados chegaram a 177,7 milhões de reais neste ano, comparados com 173 milhões de reais no ano passado inteiro. O cálculo leva em conta dados do Orçamento e exclui as estatais, como a própria Caixa.

O aumento ocorre acompanhado de uma nítida mudança na estratégia de comunicação da presidente Dilma Rousseff, já de olho nas eleições de 2014. Dilma abriu uma página no Facebook e passou a usar o Twitter diariamente, além de priorizar eventos que possam garantir exposição positiva nos meios de comunicação.

José Matias-Pereira, professor de administração pública da Universidade de Brasília, diz que somente a cobrança da sociedade pode impedir abusos com o uso de verbas públicas para promoção eleitoral. "Nós temos que assumir uma postura mais proativa e agressiva, no bom sentido, para cobrar resultados dos governantes, e não publicidade. Quanto pior o desempenho de um governante, maior a tendência dele de gastar o dinheiro com publicidade", diz. Ele também critica a mistura entre público e privado: "O eleitor está sendo chamado para pagar uma conta que, na verdade, tem por trás dela interesses políticos, de grupo e pessoais".

Há outra explicação relevante para a elevação dos gastos já em 2013: pela lei, o governo só pode gastar com publicidade em ano eleitoral aquilo que já havia gasto no ano anterior. Esticar a corda já em 2013 é garantir a possibilidade de gastos maiores no ano que vem.

Eros & Psique - Poema de Fernando Pessoa



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