sexta-feira 20 2015

Empreiteiro aponta participação de outro petista no petrolão


Gérson Almada, da Engevix, citou o nome de 'Paulo Pereira', que seria o ex-deputado federal Paulo Ferreira, tesoureiro do PT antes de João Vaccari Neto

Gerson de Mello Almada, da Engevix
Gerson de Mello Almada, vice-presidente da Engevix(Eduardo Maia/DN/D.A Press)
Em depoimento prestado nesta terça-feira ao juiz federal Sérgio Moro, o vice-presidente da empreiteira Engevix, Gerson de Mello Almada, apontou para o envolvimento de outro petista no esquema de corrupção da Petrobras: o ex-deputado federal Paulo Ferreira (PT-RS), que foi tesoureiro do partido entre 2005 e 2010, antes de João Vaccari Neto assumir o posto. Perguntado sobre quem "ajustava" as doações da empresa ao partido, ele respondeu: "João Vaccari. E antes com o Paulo Pereira [que seria o Paulo Ferreira]. [Eles chegavam e diziam] estamos aí, [em] campanha, gostamos muito da sua empresa, espero que a sua empresa goste muito da gente", relatou o empreiteiro.
Almada foi preso pela Polícia Federal no dia 14 de novembro, quando foi deflagrada a oitava fase da Operação Lava Jato, batizada de Juízo Final. Ele pediu para ser ouvido por Moro, afirmando que tinha "contribuição relevante" para dar à investigação.
Apontando o lobista Milton Pascowitch como o intermediário das relações entre o PT e a empresa, Almada afirmou que ele "trazia pedidos não vinculados a obras, mas a doações para o partido na época das eleições ou em dificuldades de caixa do partido". Sem informar valores, ele confirmou que efetuou doações à legenda em pelo menos duas oportunidades. Pascowitch era amigo próximo do ex-ministro da Casa Civil e mensaleiro condenado, José Dirceu. "A ideia dele [Pascowitch] era fazer com que a nossa empresa ficasse conhecida pelo partido, já que nós não tínhamos relacionamento nenhum, fazer apresentações de pessoas. Se eu tivesse a intenção de participar de outras concorrências, ele me proporia ajuda. Nesse relacionamento estaria envolvido o repasse de valores, um percentual dos contratos que variava de 0,5% a 1%", afirmou o empreiteiro.
O vice-presidente da Engevix também afirmou que José Dirceu fazia "lobby internacional" para a empreiteira depois de ter se colocado "à disposição" para atuar em nome da construtora. A Engevix pagou pouco mais de 1 milhão de reais à JD Consultoria, conforme mostrou o site de VEJA. Para os investigadores, há indícios de que os pagamentos representam, na verdade, propina ao mensaleiro. Reservadamente, interlocutores da Engevix admitem que nunca houve prestação de serviços da companhia em Cuba, países da América Latina e na África, locais onde Dirceu supostamente faria lobby.
Em seu depoimento, Almada usou uma metáfora para descrever como funcionava o esquema de pagamento de propina para obter contratos da Petrobras: "A gente entrava numa rodovia chamada Petrobras, que tinha os pedágios. Você está trafegando, você teria que estar pagando pedágio", disse o empreiteiro. Ele também classificou como "tradição" o pagamento a lobistas com trânsito nas diretorias da estatal. "Todas as empresas que prestam serviço contribuíam para a Petrobras através de alguém: ou direto, ou por caixa dois, ou fora do país. Pagavam para estar nos certames e não ser prejudicadas", disse. "Já era uma tradição [pagar] porque eu já tinha esse vínculo com os contratos da diretoria de Serviços [comandada por Renato Duque, indicado pelo PT]. Em outros contratos que não eram da diretoria de Abastecimento já existia um tipo de relacionamento partidário de pessoas que faziam o meio de campo entre eu, as empresas e os partidos. Foram pagos valores que garantiam que a gente continuasse trabalhando", completou ele.

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