segunda-feira 20 2014

Sonda Rosetta 'desperta' para ser o primeiro objeto a pousar em um cometa

Espaço

Após dois anos e meio de "hibernação", o equipamento volta à atividade para cumprir uma das missões mais ambiciosas da história espacial

Cometa 67P Churyumov-Gerasimenko e a sonda Rosetta
Cometa 67P Churyumov-Gerasimenko e a sonda Rosetta - ESA

 Perspectiva artística da sonda Rosetta
Perspectiva artística da sonda Rosetta - ESA/AFP

Sonda Rosetta
Sonda Rosetta - Divulgação

Perspectiva artística com Marte ao fundo
Perspectiva artística com Marte ao fundo - ESA/AFP

Sonda Rosetta com o planeta Terra ao fundo
Sonda Rosetta com o planeta Terra ao fundo - ESA/AFP

Perspectiva artística da sonda Rosetta
Perspectiva artística da sonda Rosetta - ESA/AFP

Uma das missões mais ambiciosas da história espacial entrou em sua fase decisiva nesta segunda-feira, às 8h (horário de Brasília), quando a sonda Rosetta, projetada pela Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), acordou após dois anos e meio de "hibernação" para ser a primeira a pousar em um cometa. Às 16h20 (também no horário de Brasília), os sinais de Rosetta chegaram de volta à Terra, confirmando que o despertar foi bem-sucedido. A conta no Twitter da sonda publicou a frase "Olá, mundo!", em diversas línguas, entre elas o português.

Por que Rosetta?

A sonda foi batizada em homenagem à Pedra de Roseta, uma rocha vulcânica descoberta por soldados franceses em 1799, no Egito. Ela ajudou a desvendar o Egito Antigo para os exploradores, por possuir escritos em hieróglifos – linguagem egípcia escrita, que até então era desconhecida – e sua tradução em grego, que já era conhecido. A comparação entre os escritos permitiu que os pesquisadores decifrassem os códigos da civilização egípcia – assim como os cientistas esperam que a sonda Rosetta desvende as peças mais antigas do Sistema Solar, os cometas.
O despertar teve início pelo rastreador de estrelas, que permite que a sonda determine sua posição no espaço. Seis horas depois, foi a vez dos propulsores, que foram ativados para deter a lenta rotação do objeto e garantir que os painéis solares estejam bem posicionados.
Em seguida, Rosetta mirou seu transmissor em direção à Terra – que está a 807 milhões de quilômetros de distância – e enviou uma confirmação de que tudo vai bem. Dessa distância, a mensagem leva 45 minutos para chegar ao planeta. Por essa razão, a resposta de Roseta era esperada para as 16h30 (horário de Brasília). A partir desse momento, a sonda vai poder recomeçar sua jornada em direção ao seu destino final: o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko.
Origem do Sistema Solar – Os cometas são um objeto de estudo importante, por serem considerados “restos” da formação do Sistema Solar que continuam vagando pelo Universo. De acordo com algumas teorias, eles podem ter sido os responsáveis por trazer a água, ou até mesmo a vida, para o planeta. "Acredita-se que [os cometas] tenham surgido no início do Sistema Solar, há cerca de 4,5 bilhões de anos, e que se mantenham quase idênticos ao que eram em seu nascimento", afirma Nicolas Altobelli, um dos cientistas da ESA que participam da missão.
Rosetta está próxima de completar dez anos de exploração espacial. Ela foi lançada no dia 2 de março de 2004, a bordo do foguete Ariane 5, do Centro Espacial Europeu de Kourou, na Guiana Francesa, e tem previsão de funcionar até 31 de dezembro de 2015. Após seu lançamento, ela realizou três órbitas ao redor da Terra, para ganhar impulso, e uma ao redor de Marte. Ela também foi o primeiro objeto a se aproximar de Júpiter, usando seus painéis solares como principal fonte de energia.
Trajetória da sonda Rosetta

Lançamento

A sonda foi lançada em 2 de março de 2014, a bordo do foguete Ariane 5, do Centro Espacial Europeu de Kourou, na Guiana Francesa, pesando 3 toneladas. Como nenhum foguete seria capaz de levar a sonda diretamente ao cometa, ela precisou dar a volta no Sol cerca de quatro vezes, para ganhar impulso e seguir sua jornada.

Impulso

Para ganhar impulso, Rosetta também deu três volta ao redor da Terra (em 2005, 2007 e 2009) e uma ao redor de Marte, em fevereiro de 2007.

Diamante no céu


No dia 5 de setembro de 2008, Rosetta chegou a 800 quilômetros do asteroide 2867 Steins, coletando imagens de eu formato inusitado, que lembra um diamante. É possível notar diversas crateras pequenas no asteroide, e duas maiores – uma delas tem 2 quilômetros de diâmetro e 300 metros de profundidade. Para os pesquisadores, a grande quantidade de crateras indica que o asteroide deve ser muito antigo.

Sobrevivente


Em 10 de julho de 2010, Rosetta saiu ilesa de sua aproximação com o asteroide Lutetia, do qual esteve a apenas 3.612 quilômetros de distância. A sonda realizou as primeiras imagens da grande rocha, cuja face mais comprida tem 130 quilômetros. Lutetia apresenta muitas crateras, frutos de diversos impactos durante seus 4,5 bilhões de anos de existência – que indicam que ele pode ser um sobrevivente da violenta origem do Sistema Solar.

Hibernação

Ao se afastar ainda mais da Terra e do Sol, Rosetta foi colocada em um estado de “hibernação” em junho de 2011. A uma distância tão elevada, a luz solar era fraca demais para carregar os painéis da sonda, tornando necessária a pausa para economia de energia. Apenas um computador e alguns aquecedores ficaram ativos durante esse período, no qual a sonda se aproximava de seu cometa de destino. Nesse período, que terminou nesta segunda-feira, ela atingiu a marca de 800 milhões de quilômetros distante do Sol.

Chegada

A previsão é de que a sonda se aproxime do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko em maio deste ano. O veículo Philae, que Rosetta transporta, vai pousar no cometa em novembro, enquanto a sonda continua sua orbita ao redor dele, recolhendo informações.  Rosetta vai acompanhar o cometa até seu ponto de aproximação máximo com o Sol, que deve ocorrer em agosto de 2015. A missão está prevista para terminar em dezembro de 2015.

Pouso no cometa –  O aparelho, que viaja a 135 mil km/h, está ainda a quase 9 milhões de quilômetros do cometa. Em maio, quando estiver a 2 milhões de quilômetros de seu anfitrião, fará a  manobra crítica, na qual corrigirá sua velocidade e trajetória, e começará a enviar fotografias do 67P/Churyumov-Gerasimenko para a Terra. A sonda deve se aproximar do cometa em agosto, quando vai estudar sua superfície para encontrar o melhor ponto de pouso. Feito isso, vai liberar o veículo Philae, que pesa 100 quilos, para pousar no cometa.
"Philae lançará arpões ao chão para se ancorar, porque a gravidade é muito baixa e, se não fosse assim, ele rebateria", explica Altobelli. A pouca gravidade faz com que a aterrissagem seja mais complexa que a de um aparelho similar na superfície de Marte.
O veículo, que possui nove ferramentas, dentre indicadores de gás, câmeras panorâmicas e sondas para analisar as ondas de rádio do núcleo, passará entre um e dois meses fazendo fotografias e recolhendo amostras, que serão analisadas junto com Rosetta. O 67P/Churyumov-Gerasimenko vai atingir seu ponto mais próximo ao Sol em agosto de 2015, enquanto Rosetta seguirá orbitando ao seu redor e colhendo dados. "Pela primeira vez seremos capazes de analisar um cometa durante um longo tempo, e isso nos dará uma visão interna de como ele trabalha, para nos ajudar a decifrar o papel que desempenha no Sistema Solar", sintetiza Matt Taylor, cientista que atua na missão.
O 67P/Churyumov-Gerasimenko foi escolhido, dentre tantos outros, porque este cometa em particular viveu bilhões de anos no espaço profundo até que uma passagem perto de Júpiter mudou radicalmente sua órbita em 1959. Dessa forma, ele quase não sofreu com a ação dos raios solares. "Esta cápsula do tempo está fechada há 4,6 bilhões de anos. Chegou o momento de abrir a arca do tesouro", explicou o astrofísico da ESA Mark McCaughrean.
(Com Agências France-Presse e Efe)



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