segunda-feira 17 2013

PROTESTOS: Manifestação de hoje no Largo da Batata, em São Paulo, põe à prova capacidade de convivência civilizada em uma democracia


Amigas e amigos do blog, sei que exagerei em comentários anteriores sobre as manifestações contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo, qualificando, genericamente, os manifestantes como “baderneiros” e o movimento como “baderna”.
Continuo achando, porém, que há um grande número de baderneiros em meio a outras pessoas que querem exercer seu legítimo direito de protestar nas ruas, garantido — obedecidos certos limites — pela Constituição.
Direito esse que, evidentemente, apoio e defendo, como sempre fiz.
Mas continuo achando que, graças a esses baderneiros, um movimento que é aceitável e saudável numa democracia transformou-se, em diversas situações, em pura baderna, com depredações de ônibus e estação de metrô e outros tipos de vandalismo contra vitrines de lojas, de outros tipos de comércio e de veículos.
Sei, por outro lado, que a palavra “baderna” tem conotações ideológicas, devidamente apostas justamente pelos que são partidários da desordem, e que políticos e homens públicos em geral, com poucas exceções, hesitam em usá-la, mesmo quando dela se trata.
Eu, porém, gosto de chamar as coisas pelo nome que têm, sempre que for o caso.
E temo que os responsáveis pelas manifestações incorram, uma vez mais, nisso de que trato: baderna.
Temo igualmente que a polícia não saiba se comportar como exige uma democracia.
Hoje, por exemplo, às 17 horas, haverá mais uma manifestação que se pretende grande em São Paulo, no Largo da Batata — espaço do bairro de Pinheiros largamente deteriorado e que passa por uma grande transformação, impulsionada pela construção de uma estação do metrô que já atraiu a iniciativa privada para uma série de empreendimentos em curso.
O governo estadual, responsável pela Polícia Militar e alvo de uma torrente de críticas pela ação violenta da polícia nas manifestações de quinta-feira, mudou sua postura de dureza e enfrentamento, afirma que não utilizará a tropa de choque da PM no Largo da Batata e nem recursos de repressão a violência pública, como balas de borracha e spray de pimenta, além de ter chamado para dialogar os dirigentes do chamado Movimento Passe Livre (MPL), que iniciou os movimentos contra o aumento das passagens.
O tal MPL, porém, adota uma postura de radicalização, recusando-se, entre outras coisas, a negociar com as autoridades o trajeto da passeata, para que a PM possa garantir a segurança da população e a dos próprios manifestantes. Também não estão abrindo mão de terminar os protestos na Avenida Paulista — via crucial para a cidade porque, entre outras características, é corredor de acesso a 19 (dezenove) hospitais, e sua interrupção constitui problema grave, de consequências graves.
Será que adiantou o governo querer dialogar?
Pois vejam o que disse hoje à Folha On-Line uma certa Nina Capello, considerada uma das líderes do Movimento Passe Livre, a certa altura da entrevista que concedeu:
– Vai ser o maior protesto contra o aumento da tarifa de ônibus. A gente continua na rua até o prefeito [Fernando Haddad, do PT] e o governador [Geraldo Alckmin, do PSDB] decidirem revogar o aumento do ônibus e dos trens. Caso contrário, a gente vai continuar colocando as nossas forças nas ruas, ocupando ruas importantes e parando a cidade.
Vejam bem, amigas e amigos do blog: “parando a cidade”.
Eles prometem PARAR a  maior cidade do país como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Como se não fosse algo contrário ao direito constitucional de ir e vir de milhões de paulistanos.
Como se não fosse algo clara e escancaradamente ilegal.
Como se bloquear vias e, mais ainda, “parar” uma cidade fosse algo que qualquer grupo de pessoas pudessem fazer a seu bel prazer.
Como se as demais pessoas que protestam, mas não fazem parte de movimento algum, tivessem sido consultadas se topam ou não embarcar em uma ação ilegal.
Como se as autoridades — e, no caso, a Polícia Militar — não fossem obrigadas a intervir para garantir esse direito.
Estão querendo provocar confronto.
A Polícia Militar certamente exagerou na repressão de quinta-feira, ultrapassou em vários casos os limites civilizados de atuação de uma força do Estado e os responsáveis pelos atos violentos devem ser identificados e punidos.
Mas, evidentemente, nem o governador Geraldo Alckmin nem qualquer outro político que estivesse ocupando seu cargo pode deixar o barco correr em relação a grupos que pretendem “parar a cidade”.
Enquanto isso, com as críticas jorrando em cima do governador, o prefeito Fernando Haddad, do PT, cuja decisão — correta — de aumentar os preços das passagens de ônibus para fazer frente à inflação de responsabilidade do governo Dilma, assiste a tudo de camarote, como se não fosse com ele.
Faz uma declaraçãozinha aqui, outra ali — e pronto.
E o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que por acaso é pré-candidato ao lugar de Alckmin nas eleições do ano que vem, usa a TV para aparecer em meio à crise — ele, que na verdade nada tem a ver com o assunto, de âmbito municipal e estadual. Fatura eleitoralmente de um episódio grave.
O que ocorrer hoje no Largo da Batata, na maior cidade do Brasil, vai ser uma prova de nossa capacidade — ou incapacidade — de convivência civilizada em uma democracia.

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