quarta-feira 19 2012

Livro de presente é tiro certo. Se não sair pela culatra


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Será ou não um preconceito pensar que não há exceções à regra segundo a qual nada de bom se pode esperar de quem responde ‘Fernão Capelo Gaivota’ à pergunta ‘Qual é o seu livro preferido?’.
A disposição retrospectiva do fim do ano me leva longe: desencavei aqui o comentário que fiz em 2009 sobre um saboroso artigo (trechinho acima) publicado no jornal espanhol “El País” acerca dos riscos de dar livros de presente. Assinado por Leila Guerriero, o texto satiriza com humor afiado a tendência a um certo esnobismo que costuma atacar em maior ou menor grau todo mundo que se considera bom leitor.
Trata-se de terreno pantanoso: para alguns, o nome desse esnobismo é simplesmente bom gosto, enquanto para outros é preconceito mesmo. De uma forma ou de outra, multiplicam-se as armadilhas no caminho de quem, inocente e bem intencionado, escolhe um título para dar de presente.
Quando acerta na mosca, um livro provavelmente conta mais pontos do que qualquer outro regalo em sua faixa de preço. No entanto, o mesmo exemplar de “Cinquenta tons de cinza” que seria de bom tom dado a cinquenta pessoas pode reduzir seu filme a cinzas nas mãos da quinquagésima primeira.
A verdade é que sem conhecer muito bem o presenteado, seus gostos, seu histórico de leitor (se tiver algum), é mais seguro ficar na caixa de bombons.
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O ano de 2012 – que, se tudo correr bem, ficará na história da cultura brasileira como o do início do processo de internacionalização de nossa literatura – termina com uma informação curiosa nesse campo: o site PublishNews noticiou que a Romênia é o país em que é maior o interesse espontâneo do mercado editorial por nossa ficção.
Com quinze bolsas de tradução já concedidas pela Biblioteca Nacional, a terra do conde Drácula só perde da Alemanha, mas esta é hors-concours por ser o posto de país homenageado na Feira de Frankfurt 2013 o principal catalisador de atenções para o Brasil.
Como explicar isso? Com um punhado de clichês, segundo Diana Crupenschi, diretora editorial da Univers, a casa romena mais ligada em nossa produção:
Brasileiros e romenos falam línguas de origem latina, muitas palavras são parecidas. E há também o calor humano, a música, o apetite por pratos suculentos, o gosto pelos ritmos e pela dança, que são comuns a ambos os países. Fiquei impressionada com a semelhança entre alguns personagens femininos de Jorge Amado e mulheres da vida real na Romênia.
Atenção, candidatos a Nacib: Gabriela está viva e mora em Bucareste.

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