domingo 25 2012

Identifique e combata os mitos do empreendedorismo


Pequenas empresas

Confira quais são as falsas ideias sobre como obter sucesso à frente do próprio negócio – e por que acreditar nelas pode ser ruim para quem quer empreender

Raquel Grisotto
jovem executivo olha pela janela
Para especialistas, é importante lutar contra as falsas ideias (Getty Images/Creatas RF)
A imagem do jovem que apresenta ao mundo uma ideia brilhante, fomenta a inovação com sua empresa de alta tecnologia, gera milhares de empregos e, em pouco tempo, acumula fortunas parece ser o retrato mais bem acabado do empreendedor de sucesso. Mas histórias assim, embora inspiradoras, são exceção. Quem está à frente de pequenas e médias empresas em expansão sabe que empreender é um caminho repleto de desafios. As conquistas vêm geralmente aos poucos e sempre graças a muito esforço. 
Tanto os mitos que glorificam a realidade quanto aqueles que a tornam mais dura e complexa do que é só servem para dificultar a trajetória de quem quer ter seu próprio negócio. Para identificar essas falsas ideias e contrapô-las à realidade, o site de VEJA conversou com especialistas em negócios e empreendedores de sucesso, como Robinson Shiba, fundador da China in Box, Romero Rodrigues, um dos criadores do BuscaPé, Mario Chady, sócio da rede Spoleto, entre outros. Eles alertam para o risco dessas ideias distorcidas não apenas aos que sonham empreender, mas também àqueles que já estão no ramo.

Mito nº 1 - É preciso ter ideias geniais

Ideias geniais são bem-vindas, mas nem sempre necessárias
A realidade – Boa parte dos novos negócios em expansão está ligada a atividades que não demandam grandes inovações ou alta tecnologia – como, por exemplo, o varejo – e muitos empreendedores chegam ao sucesso por aprimorar modelos que já existiam. “Quem pensa em coisas simples, mas consegue enxergar oportunidades onde ninguém vê, também tem chances de crescer”, diz Robinson Shiba, fundador do China in Box. “Minha ideia não foi original, muito menos genial”, afirma. Em 1992, quando inaugurou seu primeiro restaurante, então um pequeno delivery de comida chinesa para atender moradores da zona sul de São Paulo, pedir pizzas por telefone já era algo corriqueiro. Também havia dezenas de restaurantes asiáticos na capital paulista. “Apenas percebi que haveria demanda se unisse os dois modelos”, resume Shiba. 
O primeiro grande erro de alguém que quer ter o próprio negócio, para Shiba, é ficar esperando por uma grande ideia. “Colocar a mão na massa é muito mais importante”, ensina o empreendedor. “Tem um monte de gente que se acha gênio e nunca construiu coisa alguma.” Hoje, Shiba é um dos sócios da TrendFoods, dona das marcas China in Box, Brevità e Gendai, com mais de 200 restaurantes pelo país e faturamento previsto de 230 milhões de reais para este ano. 

Mito nº 2 - Dinheiro resolve tudo

Achar que só muito dinheiro para investir basta é um erro
A realidade – Ter acesso a fontes corretas de financiamento é certamente um fator importante para a expansão de um negócio. Mas acreditar que os recursos de um investidor são garantia de perenidade para a empresa pode induzir muitos empreendedores ao fracasso. “Se apoiar na ideia de que, para o negócio sobreviver, apenas investimento basta, está errado”, diz Romero Rodrigues, um dos fundadores do BuscaPé. “O maior desafio é conseguir manter uma equipe competente e tão envolvida com o negócio quanto o fundador”, destaca.
Rodrigues era estudante de engenharia e tinha pouco mais de 20 anos quando, em 1998, criou o site de comparação de preços BuscaPé com outros dois colegas e apenas 300 reais de investimento. O projeto vingou, sobreviveu ao estouro da bolha das empresas pontocom no início dos anos 2000 e passou a receber aportes de vários grupos financeiros para expandir as operações. Em 2009, o grupo sul-africano de comunicação Naspers comprou uma participação no negócio por 342 milhões de dólares – numa das maiores negociações de empresas de internet no país. “Uma das alegrias de empreender é saber que, se você for bem-sucedido, talvez ganhe dinheiro – mas é sempre um talvez”, afirma Rodrigues. “Quem faz negócio pensando somente nisso tem muitas chances de quebrar a cara.”

Mito nº 3 - Quem fracassa uma vez, vai fracassar sempre

Eventuais fracassos têm de ser encarados como etapas de uma história maior
A realidade – Há poucas coisas que assustam tanto o empreendedor como a ideia de ter de fechar as portas de sua empresa. Começar de novo após uma experiência ruim não é tarefa das mais fáceis. Contudo, o mercado está repleto de empreendedores que só conquistaram o sucesso depois de muitas tentativas. “Os fracassos devem ser encarados como etapas de uma história muito maior e não como o fim do caminho”, afirma Mario Chady, um dos sócios do grupo Trigo, detentor das marcas Spoleto, Domino´s e Koni Store, com faturamento de 450 milhões de reais em 2011.  “Empreender é saber cair e levantar, aprendendo com os erros”, ensina o executivo. Hoje, seu grupo tem perto de 400 restaurantes, mas até chegar a esse resultado, Chady fracassou em outros empreendimentos. Tentou manter um restaurante de culinária contemporânea, investiu em espaços gastronômicos fora dos shoppings – e sempre teve de fechar as portas, com risco de falência. 

Mito nº 4 - É preciso ser jovem para começar um negócio

Juventude significa energia, mas empreendedores mais velhos se sobressaem graças à experiência
A realidade – A energia necessária para tocar um empreendimento, sobretudo nos primeiros anos, às vezes é mais facilmente encontrada em jovens. A maturidade, no entanto, está longe de ser impedimento para quem quer começar o próprio negócio. Para alguns estudiosos, a idade seria, inclusive, um fator positivo ao esforço empreendedor. Em levantamento feito nos Estados Unidos para o livro “The Illusions of Entrepreneurship” (“As ilusões sobre o empreendedorismo”, em uma tradução livre), o pesquisador de novos negócios Scott Shane conclui, com base no desempenho de centenas de empresas americanas em estágio inicial, que os negócios fundados por pessoas com mais de 45 anos têm, na média, desempenho melhor que os daqueles criados por jovens antes dos 35 anos. Segundo Shane, pessoas mais velhas costumam ter mais experiência de trabalhos anteriores e uma rede de relacionamentos bem amarrada – fatores importantes no dia a dia de qualquer empresa.

Mito nº 5 - Empreendedores são heróis e nascem feitos

Empreendedores não são heróis natos; brilhantismo vem, quase sempre, do aprendizado
A realidade – Em comum, empreendedores de sucesso costumam demonstrar habilidades tais como facilidade para lidar com situações adversas, capacidade de liderança e muita vontade de criar. Não há, entretanto, na vasta literatura de negócios estudos que sustentem a ideia de que a pessoa que empreende possui, de fato, alguma característica que a torne diferente das demais. “Acreditar que empreendedores nascem feitos e demonstram já na infância ou adolescência características importantes para comandar a própria empresa é uma bobagem”, afirma o consultor de empreendedorismo e inteligência competitiva Eduardo Lapa, sócio da Plugar Informações Estratégicas. “Muitos empreendedores agem de forma intuitiva, mas isso é um aprendizado, que se conquista principalmente olhando exemplos de outros empreendedores”, conclui.

Mito nº 6 - Só quem faz o que gosta tem sucesso

Fazer o gosta é importante, mas são questões mais concretas que definem o sucesso do negócio
A realidade – Pessoas à frente de pequenas e médias empresas em expansão são unânimes em afirmar que têm paixão pelo que fazem – e que isso é de extrema importância para seu sucesso. Para alguns estudiosos, no entanto, são fatores muito mais concretos que determinam o crescimento e a sustentabilidade de um negócio – como, por exemplo, a escolha acertada do mercado de atuação e das fontes corretas de financiamento. “No Brasil, temos muitas perspectivas de expansão em vários setores, como o de fármacos”, diz o consultor Eduardo Lapa. “Mas são poucos os que decidem abrir seus negócios pensando nesse tipo e oportunidade.”




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