quinta-feira 19 2015

Picasso, e suas escolhidas


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Picasso um amante eclético - Ele adorava as mulheres.

E elas o amavam


O carequinha, você sabe, não era fácil.
Ele colecionava mulheres em romances turbulentos e depois as pintava em retratos desalinhados.
A Gagosian Gallery de New York exibiu, algum tempo atrás, os rastros artísticos do caso entre Pablo Picasso e Marie-Thérèse Walter.
Marie-Thérèse foi sua amante a partir dos 17 anos, teve um filho com ele e se suicidou após a morte do pintor.

Poucos viveram paixões tão intensas como Pablo Picasso. Um dos maiores gênios da pintura contemporânea, ele transpôs para as telas seu fascínio pelas mulheres, exaltando sensualidade e erotismo. Protagonizou inúmeras conquistas, foi o namorado amoroso, o amante infiel e o marido cruel. Suas mulheres passavam de deusas, quando apaixonado, a monstros torturados, no fim da relação. Poucas sobreviveram ao término do romance. Mas de uma forma ou de outra, todas influenciaram seus traços, especialmente as sete mulheres com quem conviveu:
Fernande, Eva, Olga, Marie-Thérèse, Dora, Françoise e Jacqueline.
Alguns críticos afirmam que o trabalho do pintor está tão relacionado ao seu apego pelo sexo oposto que as fases de sua carreira poderiam ser definidas de acordo com as amantes com quem esteve envolvido. Assim, o neoclassicismo dos anos 20 são os “anos Olga”, as banhistas do começo dos anos 30 marcam a “era Marie-Thérèse”, os retratos do fim dos anos 40, o “período Françoise”.
“Nem tudo em Picasso, é claro, se explica por suas amantes”, diz Carlos von Schmidt, crítico de arte e autor de Na Cama com Picasso. Para ele, as mulheres eram personagens que o autor dispunha de acordo com sua vontade. “As mudanças de estilo do pintor podem ser atribuídas à chegada de um novo amor, ao fim de um antigo romance, ou aos dois ao mesmo tempo.” E isso não é pouco.
Fernande Olivier é a primeira da lista. Conheceu o pintor em 1904, no Bateau-Lavoir, como era chamado o cortiço de madeira que abrigou o primeiro ateliê do artista em Paris. Com 23 anos, era quatro meses mais velha que ele. Elegante, bonita e determinada, viveu com Picasso os anos de pobreza e boemia.
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“Mesmo sem influenciar diretamente a obra do artista, foi ela quem lhe proporcionou a estabilidade para fazer a transição entre a chamada fase azul (1901-1904), caracterizada pela tristeza, miséria e morte, e a fase rosa, mais lúdica e alegre, repleta de figuras circenses”, afirma Dominique Dupuis-Labbé, curadora do Museu Picasso em Paris. “Sensual e voluptuosa, ela trouxe felicidade e apaziguou os tormentos de Picasso.”
Fernande viu o jovem indeciso tornar-se o artista que conquistaria o mundo. Em casa, no entanto, ele permanecia inseguro. Ciumento, adorava exibi-la em público, mas a deixava trancada (literalmente) quando saía sozinho. Separaram-se em 1912, quando Picasso já se encontrava com Eva Gouel, uma jovem de 25 anos, casada, que havia conhecido em um circo.
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Eva foi, ao que tudo indica, o grande amor do pintor. E ele deixou pública essa paixão, escrevendo em seus quadros da época frases como “Eu amo Eva” e “Minha Formosa”, nome de uma canção que ouvia nas boates de Montmartre nas noites que saía para cortejá-la. O caso de amor foi interrompido prematuramente: Eva morreu de tuberculose, em 1915, deixando o pintor arrasado.
Schmidt, entretanto, afirma que Picasso não foi assim tão devoto a esse amor. “Nos anos com Eva, continuou a ter outras amantes, até mesmo nos meses que antecederam a sua morte”, diz.
Em 1917, Picasso conhece a bailarina russa Olga Koklova, com quem se casa um ano depois. A união com a jovem de 27 anos surpreendeu aos amigos mais próximos, pois era a primeira vez que o pintor se submetia aos caprichos de uma mulher. Possessiva, ciumenta e fútil, Olga queria um universo de luxo que Picasso sempre ridicularizou. Enquanto esteve com ela, o indomável touro espanhol se acalmou, passou a freqüentou a alta sociedade parisiense e a retratar condes, princesas e baronesas.
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No início do casamento, ele pintou Olga e o filho Paulo, nascido em 1921. Mas logo veio a crise conjugal e os reflexos sobre suas pinturas. “Aparecem as primeiras marcas das deformações da década seguinte”, diz Dominique. Com brigas e reconciliações, a relação durou até 1935, quando Picasso a deixou. Mas eles nunca se divorciaram. Olga morreu de câncer em 1955.
Marie-Thérèse Walter entrou na vida do pintor numa tarde de janeiro de 1927, quando passeava perto das Galeries Lafayette, lojas de departamento parisienses. Com 17 anos e muito simples, não tinha a menor idéia de quem era o artista, nem de como ele viria a transformar sua vida. Era atraente e loira, com lindos olhos azuis. No dia em que completou 18 anos, Picasso, com 46, a levou para cama. Tornou-se sua eterna amante, a menina-mulher que realizou todos os seus desejos eróticos e fantasias sexuais. Segundo Schimidt, ela era submissa e dependente, satisfazia-o sem complicações, experimentando do sadismo ao masoquismo. Nunca moraram juntos, mas mantiveram uma relação pelo menos até 1943. Costumava visitá-la toda semana, com o consentimento da mulher que estivesse ao seu lado oficialmente. Escreveu-lhe cartas de amor diariamente, por longos períodos. Em 1935, tiveram uma filha, Maria de la Concepcion, apelidada de Maya e nunca reconhecida.
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A amante clandestina teve forte presença nas obras de Picasso, que exaltou as linhas e formas sensuais de seu corpo em obras de grande erotismo. Inspirou também duas figuras femininas de Guernica, o célebre painel que denuncia as atrocidades da guerra civil espanhola. Enforcou-se em 20 de outubro de 1977, quatro anos depois de Picasso morrer.
No inverno de 1936, uma mulher morena de cabelos pretos e olhos verdes, sentada no Deux-Magots, restaurante que o pintor freqüentava, lhe chamou a atenção. Dora Maar era atraente e não convencional. Pintora, fotógrafa e inteligente, foi amante de Picasso por sete anos. Incentivou-o a assumir posicões políticas contra os governos de força, e em 1937 teve papel fundamental na execução de Guernica. Ela fotografou passo a passo a produção, ajudou a concebê-lo e até a pintá-lo.
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Passaram juntos os anos de ocupação da França na Segunda Guerra, quando Picasso foi proibido de realizar exibições. No período, Dora aparece em vários telas. As mais marcantes mostram uma mulher desfigurada, chorando.
Foi a amante que mais sofreu com a separação. Trocada por Françoise Gilot, entrou em processo esquizofrênico e foi internada num hospital para doentes mentais. Depois, passou anos reclusa num convento. Morreu sozinha em seu apartamento, em Paris, aos 90 anos.
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Picasso conheceu sua nova companheira, Françoise, em 1943, no restaurante La Catalan, enquanto jantava com Dora. Encantou-se com a estudante de cabelos ruivos e grandes olhos verdes. Ela tinha 21 anos. Picasso, 62. Tiveram dois filhos, Claude, nascido em 1947, e Paloma, em 1949. Retratada como a mulher-flor, Françoise era sua nova modelo, a deusa da luz e da fecundidade.
A vida com Picasso trouxe momentos apaixonantes e extremamente criativos, mas também lhe apresentou a angústia e a frustração. Dominador, possessivo e mulherengo, continuava pregando o amor livre. Ela conviveu com as visitas semanais de Picasso à Marie-Thérèse, com as loucuras de Olga e a autodestruição de Dora Maar.
A crescente indiferença do pintor e a tensão entre o casal colocaram um ponto final no relacionamento de dez anos. Em 1953, fez as malas e partiu com as crianças, deixando um Picasso perplexo. Foi a única mulher que mostrou determinação para abandoná-lo. Em 1964, publicou Life with Picasso – The Love Story of a Decade (Vida com Picasso – A História Romântica de uma Década). Em suas memórias, ela se retrata como uma jovem seduzida, manipulada e traída por um sádico Picasso. Ultrajado, o pintor tentou proibir a circulação do livro. Não conseguiu, mas desde aquele momento nunca mais recebeu os filhos.
Jacqueline Roque foi a última mulher de Picasso. Moraram juntos por 20 anos, até a morte do pintor, em 1973. Conheceram-se quando Picasso ainda vivia com Françoise, em 1952. Era jovem e bonita, como todas as musas do artista.Tinha cabelos negros, olhos azuis e feições marcadas por traços fortes. Para Schmidt, Jacqueline foi “arrumada” para Picasso pelo casal Remié, amigos de longa data do pintor : “Com 71 anos, ele era um ótimo partido para uma mulher de 26, divorciada e com uma filha”. Em 1961, casaram-se.
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Jacqueline tornou-se secretária, agente, enfermeira, protetora e controlou a vida do pintor, isolando-o de amigos e familiares. Cultivava uma veneração doentia pelo marido, tratando-o respeitosamente de monseigneur (meu senhor). Musa dos últimos anos, foi a mulher que Picasso retratou de forma mais obsessiva e com quem mais produziu. Para ela, Picasso deixou em testamento, uma fortuna estimada em 250 milhões de dólares. Mas o dinheiro não lhe poupou de um fim trágico. Matou-se em 1986, com um tiro na cabeça.
Picasso exercia um magnetismo tão grande sobre suas amantes que a vida realmente deixava de fazer sentido sem ele. Costumava se retratar como um minotauro, um ser monstruoso, fruto de amores que vão além do entendimento, protagonista de relações violentas, eróticas e cruéis. Foi essa sexualidade selvagem que transpirou pelo desenho de suas mulheres. Na Paris do século passado, Picasso devorou pessoas e eventos com grande paixão, e transformou-as em arte.

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