terça-feira 23 2014

MP monta força-tarefa para apurar caixa 2 do PT na Bahia

Eleições 2014

Em entrevista a VEJA, presidente de ONG revelou desvios milionários de verbas públicas para campanhas petistas. Dois ex-secretários do governo da Bahia e uma deputada estadual também são citados no esquema. Dalva Sele vai pedir proteção policial

Robson Bonin, de Brasília
Dalva Sele (à esquerda), ex-presidente do Instituto Brasil, e Afonso Florence, deputado federal pelo PT-BA e ex-ministro do Desenvolvimento Agrário
Em 2007, a presidente do Instituto Brasil, Dalva Sele Paiva (à esq.), organizou uma cerimônia para lançar a obra de um conjunto habitacional destinado a famílias carentes. Os 472 apartamentos seriam financiados com recursos do Programa de Crédito Solidário (embrião do Minha Casa Minha Vida) do Ministério das Cidades, em parceria com o governo da Bahia. A obra ficou paralisada durante anos porque o dinheiro do empreendimento foi retido por causa de irregularidades. Na foto, aparecem ao lado de Dalva Sele o então secretário de Desenvolvimento Urbano da Bahia, Afonso Florence, e a deputada estadual Maria Del Carmen, os mesmos que Dalva acusa agora de se beneficiar do dinheiro desviado pelo instituto (VEJA)
(Atualizado em 23/09/2014, às 12h09)

O esquema milionário montado pelo Partido dos Trabalhadores para desviar recursos de programas sociais para campanhas eleitorais de petistas na Bahia vai ser investigado por uma força tarefa do Ministério Público. Procuradores e promotores vão reabrir o caso que tem como alvo o Instituto Brasil, uma ONG criada por petistas para camuflar a atuação do grupo criminoso. Na edição de VEJA desta semana, a presidente do instituto, Dalva Sele Paiva, revela que a entidade foi usada para fazer caixa dois para o partido por quase uma década.
O instituto chegou a movimentar, segundo Dalva Sele, 50 milhões de reais desde 2004. O caso mais emblemático, investigado pelo Ministério Púbico há quatro anos, ocorreu nas eleições municipais de 2008, quando a entidade foi escolhida pelo governo do Estado para construir 1.120 casas populares destinadas a famílias de baixa renda. Os recursos – 17,9 milhões de reais – saíram do Fundo de Combate à Pobreza. Desse total, 6 milhões de reais foram desviados para campanhas do PT. "Quem definia os que receberiam dinheiro era a cúpula do PT. A gente distribuía como todo mundo faz: sacava na boca do caixa e entregava para os candidatos ou gastava diretamente na infraestrutura das campanhas, como aluguel de carros de som e combustível", diz Dalva Sele.
Entre os principais beneficiários desse banco citados por Dalva Sele, estão o senador Walter Pinheiro, vice-lider do PT no Senado, o atual candidato do PT ao governo da Bahia, Rui Costa, e os deputados federais Nelson Pellegrino, Zezéu Ribeiro e Afonso Florence, este último ex-ministro do Desenvolvimento Agrário de Dilma Rousseff. Mas há outros como o atual presidente da Embratur, José Vicente Lima Neto, deputados estaduais, secretários e ex-secretários do governo de Jaques Wagner, como Jorge Solla (Saúde), o ex-superintendente de Educação Clóvis Caribé, a deputada estadual Maria Del Carmen, militantes e dirigentes do PT na Bahia.
Militante histórica do PT, Dalva Sele deixou o país pouco depois de conceder entrevista. Ela afirma temer retaliações do partido e decidiu pedir proteção policial do Ministério Público tão logo comece a colaborar com as investigações. “Tenho receio daquilo que eles podem fazer comigo e com a minha família. Por isso, já estou em contato com os meus advogados para pedir proteção às autoridades”, diz Dalva.


Depois de colher informações e documentos com a operadora do caixa dois do PT baiano, a promotora Rita Tourinho irá ouvir as pessoas citadas por Dalva Sele.

Negativas – O ex-superintendente de Educação Clóvis Caribé admite conhecer Dalva Sele e diz que recebeu apenas um pagamento de 3.000 reais do Instituto Brasil, em 2006, quando foi contratado para prestar consultorias na área de regularização fundiária em Salvador. Ele nega que tenha participado de esquema envolvendo o instituto e acusa Dalva Sele de falsificar sua assinatura em outros recibos de pagamentos atribuídos a ele. “Conheço essa mulher, mas não recebi dinheiro desviado. O que fiz foi prestar consultoria na área de regularização fundiária. Vou abrir o sigilo das minhas contas bancárias nos últimos trinta anos”, diz Caribé.

A deputada Maria Del Carmen, inicialmente, afirmou que nem ela e nem seus familiares haviam recebido recursos do Instituto Brasil. Depois, reconheceu que um irmão dela recebeu 35 000 reais, em 2006, como pagamento de uma dívida e que um filho recebia do instituto porque trabalhava para Dalva Sele. “Repudio a forma como essa mulher vem nos acusando sem provas”, diz.

Jorge Solla não foi localizado. Os demais citados negaram envolvimento nas denúncias feitas pela presidente do Instituto Brasil.

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