quarta-feira 13 2014

'Youssef era um banco', diz contadora de doleiro

Lava-Jato

Em depoimento na Câmara, Meire Poza confirmou que políticos receberam dinheiro do doleiro Alberto Youssef. "Hoje prefiro me limitar a falar do deputado Luiz Argôlo", disse

Gabriel Castro e Marcela Mattos, de Brasília
Meire Poza – "O Beto (Youssef) lavava o dinheiro para as empreiteiras e repassava depois aos políticos e aos partidos. Era mala de dinheiro pra lá e pra cá o tempo todo."
Meire Poza a VEJA – "O Beto (Youssef) lavava o dinheiro para as empreiteiras e repassava depois aos políticos e aos partidos. Era mala de dinheiro pra lá e pra cá o tempo todo." (Jefferson Coppola/VEJA)
Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, Meire Bonfim Poza confirmou nesta quarta-feira que políticos receberam dinheiro do doleiro Alberto Youssef, pivô de um esquema bilionário de lavagem de dinheiro no país. Contadora de Youssef, a quem classificou como "um banco", ela disse que só apontaria inicialmente o nome do deputado Luiz Argôlo (SDD-BA), que responde a processo de cassação de mandato. A contadora foi chamada pelo colegiado para ser ouvida como testemunha do processo contra Argôlo.

"Alberto Youssef era um banco. Ele emprestava dinheiro, pagava contas e dava presentes", disse ela aos deputados. Questionada pelo relator do caso, Marcos Rogério (PDT-RO), sobre os nomes dos políticos que participaram da trama criminosa de Youssef, ela respondeu: "Eu preferia me limitar a falar hoje do deputado Luiz Argôlo".

Sobre o deputado baiano, a contadora afirmou taxativamente – mais de uma vez – que ele mantinha contato com empresas que destinaram dinheiro para o esquema de lavagem e pagamento de propina. "Ele chegou a receber, sim. Inclusive, da última vez em que esteve em São Paulo eu o encontrei. Ele foi buscar dinheiro e iria embora nesse mesmo dia. Não pôde ir embora porque o dinheiro não chegou e ele ficou em São Paulo até o dia seguinte até depois que pegasse o dinheiro."
Os pagamentos, segundo a contadora, eram feitos em dinheiro ao próprio deputado. Em outros casos, Youssef determinou que as transferências fossem feitas por meio de transferências bancárias – nesse caso, segundo ela, o parlamentar não foi beneficiado diretamente. Meire Poza citou duas pessoas cujas contas receberam dinheiro destinado ao parlamentar: Manoelito Argôlo, pai do deputado, e Élia da Hora.
A contadora disse ainda que o doleiro era sócio do deputado em duas empresas sediadas em Fortaleza: a M.Dias Branco e a Grande Moinho Cearense. Elas teriam recebido mais de 1 milhão de reais do esquema. Meire citou ainda a empresa Labogen, pivô das denúncias que recaíram sobre o ex-petista André Vargas. Disse que Leonardo Meirelles, sócio do doleiro, fazia entregas e buscas de dinheiro. 
Meire Poza também confirmou que a empreiteira Mendes Júnior firmou contratos de fachada e fez pagamentos para a empresa GFD, de Youssef, que não exercia nenhuma atividade real além da emissão de notas frias. "A própria Mendes Júnior chegou a enviar os contratos prontos. E quem atuava era o Alberto. A operacionalização toda era feita pelo Alberto, pessoalmente", afirmou a contadora. A suspeita é de que o esquema do doleiro era utilizado para lavar dinheiro desviado de contratos de estatais, inclusive a Petrobras.
Revelações – Meire Poza é considerada testemunha-chave da Operação Lava Jato da Polícia Federal, que levou Youssef à prisão em março. O convite para ouvir a contadora ocorreu depois da entrevista dela a VEJA, na qual contou um pouco do que presenciou durante os mais de três anos em que prestou serviços ao doleiro. Meire Poza era responsável por manusear notas fiscais frias, assinar contratos de serviços que jamais foram feitos e montar empresas de fachada destinadas à lavagem de dinheiro. Nesse período, ela viu malas de dinheiro saindo da sede de grandes empreiteiras e chegando às mãos de notórios políticos.

A VEJA, ela citou nomes de outros políticos: o ex-petista André Vargas (PR), que também responde a processo de cassação na Câmara, o senador Fernando Collor (PTB-AL), o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) e o ex-ministro e atual conselheiro do Tribunal de Contas da Bahia Mário Negromonte, filiado ao PP.

Luiz Argôlo é alvo de dois processos disciplinares na Câmara depois de a Polícia Federal ter encontrado registros de repasses de recursos de Youssef a ele. Um dos depósitos, no valor de 120.000 reais, teria sido depositado na conta de Vanilton Bezerra, chefe do gabinete do deputado. Em depoimento ao colegiado na semana passada, Bezerra negou ter recebido qualquer valor do doleiro. Mas o comprovante de depósito no valor de 8.000 reais, ao qual o site de VEJA obteve cópia, desmente sua versão. Ainda recaem sobre Argôlo as suspeitas de que ele tenha recebido de Youssef dois caminhões de bezerros. 

Nenhum comentário: