quinta-feira 03 2013

A farra dos partidos informa: quem só protesta em junho libera a tribo dos gatunos para agir sem medo no resto do ano

veja.com

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Como se pode governar um país que tem 246 espécies de queijo?, intrigava-se o presidente francês Charles de Gaulle. Como pode funcionar um governo que tem 39 ministérios?, assombram-se os brasileiros sensatos desde que Lula e Dilma resolveram multiplicar as ampliar as nulidades amontoadas no primeiro escalão. E como pode existir um país com 32 partidos políticos?, espantou-se nesta terça-feira, quando foi expedida pelo Tribunal Superior Eleitoral a certidão de nascimento do PROS e do Solidariedade, mesmo quem achava que não se espantaria com mais nada.
Pelo critério da quantidade, é improvável que algum lugar do mundo tenha mais partidos que o Brasil. Pelo critério da qualidade, qualquer grotão do planeta supera o colosso sul-americano: aqui não existe um único partido de verdade. O PT pareceu que era antes de sucumbir ao excesso de cinismo e idiotia. Transformou-se numa seita que tem em Lula seu único deus, faz qualquer negócio para ganhar a eleição e topa a mais sórdida aliança para manter-se no poder.
O PSDB seria um partido se soubesse o que é coragem, tratasse de aprender que o o papel da oposição é fazer oposição, vocalizasse o pensamento dos muitos milhões de eleitores que resistem ao avanço dos liberticidas e oferecesse um caminho alternativo aos mais de 60% que se recusam a engolir mais quatro anos de governo petista. O resto dos partidos nem tem carteira de identidade. A leitura dos programas, planos de ação e declarações de princípios aguça a suspeita de que o palavrório foi produzido pelo mesmo redator.
A insossa sopa de letras garante que todos moram em algum ponto impreciso entre o centro e a esquerda. Se o eleitorado lhes conferir um voto de confiança, vão dar um jeito na saúde e na educação, acabar com a injustiça social e tranformar o Brasil numa Noruega com praia.  A prática fulmina a teoria. Os políticos brasileiros reduziram os partidos a fontes de lucros bilionários, balcões de compra e venda de voto, usinas de negociatas, gazuas feitas sob medida para arrombadores de cofres públicos.
Segundo Ciro Gomes, o PMDB é um ajuntamento de assaltantes. Pelo que andou fazendo o PT, talvez nem seja o maior. Ambos abrigam uma demasia de ladrões, mas nenhum partido fecha as portas a estupradores da lei. Financiadores involuntários de todas as gastanças, vítimas indefesas de todas as ladroagens, os pagadores de impostos bancam as despesas cotidianas das  caricaturas partidárias e abastecem os cofres federais incessantemente esvaziados pelos chefões desprovidos de ideias e de vergonha.
Na Alemanha , por exemplo, existem seis partidos, que cuidam da própria subsistência e estão sujeitos à cláusula de barreira: os que não alcançam um número mínimo de votos caem fora do Congresso. Foi o que aconteceu ao FDP nas eleições da semana passada. Para os alemães, aliás, 13 sindicatos de trabalhadores bastam. No País do Carnaval, os sindicatos passam de 13 mil e nenhum partido precisa ter voto para entrar na festa das verbas que mereciam destino menos abjeto.
Até siglas sem vereadores são sustentadas pelos brasileiros implacavelmente extorquidos pela Receita Federal. Dos seus bolsos saíram os R$ 286 milhões distribuídos pelo Fundo Partidário em 2012. Deles também sairão os dotes de R$ 30 milhões reservados ao PROS e ao Solidariedade, além das verbas torradas no horário eleitoral que só é gratuito para quem dele se aproveita. Os lesados que se queixem ao bispo, ou ao Papa Francisco.
Assim será até que o rebanho primitivo aprenda a votar com lucidez. Assim será até que o Brasil civilizado comprenda que quem só protesta em junho autoriza a imensa tribo dos gatunos a delinquir sem medo no resto do ano.

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