segunda-feira 23 2013

Emmy 2013


Elenco de 'Breaking Bad' (Fotos: Getty)
Então Breaking Bad foi reconhecida pela Academia! Depois de quatro anos disputando o Emmy, perdendo injustamente em 2012 para a Homeland, a série leva o prêmio máximo da Academia de Televisão, que tradicionalmente é avessa às séries que exploram a criminalidade.
Nas últimas três décadas, período em que os vilões começaram a tomar o lugar do herói (não estou contabilizando O Homem da Máfia que foi uma das produções que iniciou esta transição na década de 1980), a Academia premiou apenas duas séries com esta temática: A Família Soprano/The Sopranos e agora Breaking Bad, depois de muita pressão da crítica e do hype. Apesar do reconhecimento ter vindo apenas no final de sua produção (para as duas séries, por sinal) ela é bem vinda, em nome de todos os Oz, Deadwood, The Shield e The Wire que não tiveram a mesma oportunidade. Com exceção de Deadwood, as demais sequer foram indicadas.
Breaking Bad nunca ganhou da Academia um prêmio de melhor roteiro ou de direção. O reconhecimento até hoje era dado à atuação e duas vezes para a edição. A exibição dos últimos episódios e a disponibilidade da série completa no Netflix (ou quase já que ela ainda não acabou) levaram a série a conquistar o melhor período de sua história.
A impressão que se tem é a de que a Academia apenas cumpriu com uma obrigação dando à série os dois prêmios que eram cobrados pela crítica: o de melhor série e o de melhor atriz coadjuvante. Breaking Bad não levou mais nenhum outro prêmio, embora não esperasse que Bryan Cranston ou Aaron Paul fossem premiados este ano. Acredito que suas chances serão melhores em 2014, em função da trajetória de seus personagens.
Portanto, nestas categorias, não esperava ouvir os nomes dos atores. Mas foi uma surpresa vê-los perder para Jeff Daniels e Bobby Cannavale. Este concorreu por um episódio deBoardwalk Empire no qual seu personagem chora na igreja, cobrando de Deus a razão pela qual sua vida foi tão difícil. É até justificável. O mesmo não se pode dizer de Daniels, que levou o Emmy pelo primeiro episódio de The Newsroom, no qual o ponto alto de seu personagem é o discurso que ele faz sobre a queda do Império Americano. Embora Daniels consiga segurar seu personagem, não é uma atuação que o coloque acima de seus concorrentes.
Se considerarmos os tipos de personagens que disputavam o prêmio, a escolha de Daniels faz sentido, tendo em vista que seu personagem recai na escolha tradicional. Jon Hamm, sempre indicado, mas nunca vencedor (à la Steve Carell), disputou o prêmio por In Care Of, último episódio da sexta temporada de Mad Men, no qual Draper decide mudar o rumo de sua vida. Suas chances devem ser maiores quando for apresentado o fim de seu personagem. Damien Lewis, vencedor do ano passado por Homeland, tinha poucas chances este ano, apesar de concorrer pelo melhor episódio da temporada, Q&A.
A disputa estava mesmo entre Bryan Cranston e Kevin Spacey. Cranston disputou o prêmio por Say My NameMas, tal qual Hamm, suas chances de voltar a levar o Emmy para casa estão no episódio que mostrará o fim de seu personagem.
A Academia gosta de dar boas vindas aos atores que vieram do cinema, embora este não seja o caso de Kevin Spacey. Ele foi criado na TV, onde seu primeiro destaque foi O Homem da Máfia, na qual interpretou um mafioso que mantinha um relacionamento sexual com a irmã. Sua atuação em House of Cards merecia um prêmio. A construção de seu personagem, um sujeito cínico que sabe ser simpático, nostálgico, romântico ou cruel conforme seus interesses, poderia ter dado ao ator o reconhecimento que a Academia (de televisão) lhe deve há alguns anos.
Assim, entre os bandidos e homens não tão honestos que disputavam o prêmio nesta categoria, a Academia escolheu o herói Dom Quixote que luta para que o país volte a ser o que era. Estou considerando que Hugh Bonneville apenas preenchia a lista ao disputar o prêmio por Downton Abbey.
Elenco de 'Modern Family'
O que dizer da vitória de Modern Family? A comédia americana é a mais tradicional e segura que existe entre as concorrentes. Resultado facilmente previsto e, portanto, nenhuma surpresa. Apenas tristeza em ver que a série pode continuar a levar prêmios em detrimento de obras que desafiam a abordagem tradicional e se atrevem a mergulhar na complexidade de personagens e de situações, afastando-se do lugar seguro. Isto não quer dizer que existam muitas comédias que representam este perfil e mereçam prêmios, razão pela qual tenho buscado por comédias britânicas.
Pela lista de comédias que estreiam nos próximos meses, uma que poderia ameaçar o reinado de Modern Family seria The Michael J. Fox Show. Vai depender da qualidade de seu texto, é claro. Considerando seu tema (a vida de um jornalista que convive com a doença de Parkinson) e seu ator (Michael J. Fox é um nome muito querido do meio), é uma possibilidade. Mas, novamente, dentro de temas tradicionais e seguros. Não pensem que não gosto de Modern Family. É uma série divertida de acompanhar, como tantas outras antes dela com o mesmo tema. Mas daí a levar quatro Emmy de melhor comédia do ano existe um longo caminho.
Na categoria atores, o maior prazer da noite foi ver Tony Hale levar seu prêmio. Seu trabalho emVeep é uma beleza e merece o prêmio que lhe foi dado, rompendo o cerco de Modern Family, que também dominava a categoria de atores coadjuvantes. Laura Linney, que ganhou o prêmio por The Big C, na qual interpreta uma mulher que está em fase terminal de câncer, foi uma boa surpresa. Não que eu achasse que ela não tivesse alguma chance, mas porque concluí que a Academia voltaria a premiar Jessica Lange, que esteve melhor na segunda temporada deAmerican Horror Story que na primeira (quando ela fez uma caricatura de Blanche DuBois, de Um Bonde Chamado Desejo), a qual lhe rendeu o prêmio.
A cerimônia não foi um grande evento. Neil Patrick Harris decepcionou por não oferecer um número de abertura no mesmo nível daquela que vemos na entrega do prêmio Tony. O Emmy teve uma abertura sem graça e, ao longo do evento, não ofereceu nada que pudesse reverter a ideia de que estavam desperdiçando a oportunidade de um bom espetáculo.
O único número musical que valeu a pena foi aquele em que dançarinos tomam o palco em meio a cenários que lembram as produções que disputavam o Emmy. As homenagens aos falecidos baixou o tom do espetáculo e ainda surpreendeu por oferecer fotos dos atores ao invés de vídeos. Os depoimentos dos colegas de James Gandolfini, Jean Stapleton, Jonathan Winters, Gary David Goldberg e Cory Monteith foram sérios e tristes, dando um tom de lamento pela morte ao invés de celebração da vida e do trabalho que eles deixaram com lembranças alegres da convivência, que somente aqueles que os conheceram poderiam nos dar. Mas acho que seria pedir muito.

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